As propostas de Trump e Biden e seus impactos para as Bolsas e a economia mundial

Entenda as propostas dos dois candidatos nos principais assuntos, como saúde, economia, meio ambiente e imigração

Rodrigo Tolotti

(Montagem/Getty Images)

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SÃO PAULO – Em uma eleição na maior economia do mundo, não são apenas as pessoas que votam que se interessam pelas propostas de cada candidato. Analistas e investidores do mercado financeiro mundial olham atentamente o que cada um poderá fazer se eleito, já que suas ações têm impacto político e econômico global.

Em um momento tão conturbado por conta da pandemia do novo coronavírus e de uma crescente polarização, especialistas tentam antecipar os feitos pós-eleição, principalmente se houver uma troca de governo e o republicano Donald Trump der lugar ao democrata Joe Biden.

Com seu discurso de “America First”, Trump elevou a tensão com a China em seu primeiro mandato. Além disso, apoia impostos menores para empresas e não busca defender pautas de meio ambiente. Os analistas, de forma geral, esperam poucas mudanças caso ele seja reeleito.

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Já Biden é considerado um liberal de centro. Defende um aumento dos impostos para as empresas, assim como para os mais ricos, e também a pauta ambientalista e de energias renováveis, tendo até citado a Amazônia e o Brasil no primeiro debate, em setembro.

Confira abaixo, em detalhes, as projeções de economistas e analistas dependendo de quem será o vencedor.

Se Biden vencer

(Drew Angerer/Getty Images)

Entre suas propostas, a que mais impacta as empresas e o mercado financeiro é a de aumento de impostos para empresas, de 21% para 28%, revertendo uma medida de Trump, que cortou as taxas no início de seu governo. Ainda assim, o percentual seria inferior aos 35% praticados no governo de Barack Obama.

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Além disso, Biden defende uma taxa mínima sobre lucros estrangeiros de 21%, acima dos atuais 10,5%, e também pretende oferecer um incentivo fiscal de até 10% para certos investimentos na produção nacional.

Com a maior arrecadação, Biden tem planos de adotar um programa de gastos públicos na tentativa de recuperar a economia americana da atual crise provocada pela pandemia do coronavírus. Vale lembrar que o pacote de estímulos debatido no Congresso nas últimas semanas foi uma iniciativa democrata.

Em relatório recente, a consultoria Capital Economics levantou cinco pontos políticos em que Biden e Trump divergem e que devem moldar as perspectivas econômicas nos próximos quatro anos, sendo o principal deles a questão dos impostos e gastos do governo.

“Com os aumentos de impostos voltados para empresas e pessoas de maior renda, isso pode ser uma má notícia para o mercado de ações”, afirmam os analistas.

Iniciativas em saúde e meio ambiente também estão entre as prioridades. O candidato tem um plano de investimentos verdes de US$ 2 trilhões ao longo de quatro anos, voltado principalmente para o incentivo à produção de energias renováveis. Biden ainda quer retomar o programa de saúde pública, conhecido como Obamacare, com um custo que ainda não foi divulgado.

Para a Capital Economics, a proposta de “opção pública” de tratamento feita por Biden provavelmente terá um impacto modesto sobre o consumo de cuidados médicos e inflação. Mesmo assim, a consultoria alerta para um risco de isso ser um “trampolim para um programa mais radical”, no estilo “cuidados de saúde para todos”, sob um futuro presidente democrata.

Diante destas propostas, o BB Investimentos aponta ainda que se Biden vencer “a expectativa é de que os papéis de empresas que possuem boas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) sejam beneficiadas”.

Os analistas lembram ainda da postura mais conciliadora do democrata nas relações exteriores, em especial com a China. Ele também é crítico do gigante asiático, assim como Trump, mas defende usar meios oficiais e um debate maior para trabalhar com os chineses.

“A retomada de acordos multilaterais também poderia beneficiar o setor de tecnologia chinês, a Europa e ativos de mercados emergentes com economias mais abertas, como México e Coréia do Sul. Por outro lado, os incentivos à economia de energia limpa e renovável e o fim dos subsídios para combustíveis fósseis poderiam prejudicar o desempenho de empresas ligadas a cadeia de petróleo”, avaliam os analistas.

Em uma vitória do ex-vice-presidente de Barack Obama, há um ponto importante a ser acompanhado que é a eleição para o Congresso. Atualmente os democratas têm maioria na Câmara dos Representantes – que deve se manter assim -, mas o Senado é republicano.

E é no Senado que existe uma chance, ainda que pequena, da chamada “onda azul”, se a casa passar a ter maioria democrata também. Nesse cenário, analistas apontam que Biden teria facilidade de passar pautas menos pró-mercado, como de aumento de impostos, o que poderia ser negativo para Wall Street. Por outro lado, há quem avalie que, mesmo com maioria, não há garantias de que todos os senadores democratas iriam apoiar esses projetos.

Principais propostas de Joe Biden

Setor Propostas
Economia – Aumento de impostos para empresas, de 21% para 28%.
– Taxa mínima sobre lucros estrangeiros de 21%, acima dos atuais 10,5%.
– Incentivo fiscal de até 10% para certos investimentos na produção nacional.
Saúde – Retomada do programa de saúde pública conhecido como Obamacare (custo não divulgado).
Relações exteriores – Restauração da associação dos EUA com a Organização para o Tratato do Atlântico Norte (Otan).
– Retirada da “grande maioria” dos soldados americanos no Afeganistão e foco no combate à Al-Qaeda e Estado Islâmico.
– Retomada do acordo nuclear com o Irã se “o Teerã voltar a cumprir o pacto”, além de uma campanha de desnuclearização da Coreia do Norte.
Imigração – Fim da construção do muro na fronteira com o México.
– Reversão das políticas de Trump que separaram famílias de imigrantes.
– Criação de propostas no Congresso buscando uma reforma migratória e facilitação de vistos de trabalho em setores com escassez de mão de obra local.
Meio Ambiente – Investimento de US$ 2 trilhões ao longo de quatro anos, voltado principalmente para o incentivo a energias renováveis.
– Retorno do país ao Acordo de Paris.

Se Trump vencer

(Chip Somodevilla/Getty Images)

Uma manutenção do republicano no poder, por sua vez, não deve levar a mudanças drásticas de cenário, mas terá seus impactos no mercado financeiro e na economia.

Trump é considerado mais pró-mercado e comprometido com a melhoria do ambiente de negócios. Para a equipe do BB Investimentos, uma vitória dele levaria a uma expectativa positiva para as ações da Bolsa americana, em especial papéis dos setores bancário e de saúde. Ativos de empresas de tecnologia e companhias aéreas também teriam boas perspectivas neste cenário.

Recentemente, o banco de investimentos JPMorgan projetou que o índice S&P500 deva subir para 3.900 pontos se Trump for reeleito, classificando tal resultado como o mais favorável para os mercados de ações. Se esta alta acontecer, representaria um ganho de quase 20%.

O atual presidente deve manter sua postura de colocar os EUA em primeiro lugar quando o assunto é política externa, o que tem pesado principalmente na relação com a China. A tensão comercial tende a se manter entre as duas nações, principalmente na questão de tecnologia e segurança.

Trump também é defensor de uma política de “tolerância zero” com imigrantes sem documentos. Neste sentido, ele quer impedir que essas pessoas “sejam elegíveis para a assistência social, para a atenção médica e para a matrícula universitária gratuita financiada pelos contribuintes”. O presidente ainda mantém sua proposta da construção do muro na fronteira com o México.

No lado econômico, o republicano propõe cortar o imposto sobre o salário e é contra o aumento de impostos para empresas e de lucros sobre o capital, sendo que em 2017 ele reduziu estas taxas.

Comparando estas ideias com a intenção de Biden de elevar as taxas, a Capital Economics explica que qualquer um dos lados “exigiria controle total do Congresso para avançar”. “Embora seus planos [de Biden e Trump] impliquem um tamanho muito diferente do governo federal nos próximos anos, é improvável que isso importe muito para as perspectivas econômicas, porque sob qualquer um dos candidatos a política fiscal permaneceria acomodativa”, explicam.

Já na questão do meio ambiente, Trump é cético sobre mudanças climáticas e se for reeleito deve manter sua política de priorizar o uso de combustíveis fósseis em relação às energias renováveis.

Propostas de Donald Trump

Setor Propostas
Economia – Corte do imposto sobre o salário e manutenção dos impostos para empresas e de lucros sobre o capital no nível atual. Em 2017 ele reduziu estas taxas para os atuais 21%.
Saúde – Modificações no Obamacare. Alguns ajustes foram apresentados em 2017, como o American Care Act, mas não se tornaram lei.
– Manutenção dos EUA fora da Organização Mundial da Saúde (OMS), que ocorreu no início da pandemia do novo coronavírus.
– Incentivos e medidas para acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19.
Relações exteriores – Política do “America First” (“América Primeiro”) nas relações com outros países, focando sempre nos próprios interesses.
– Retirada de soldados do Afeganistão. É contra intervenções militares em outros países.
– Rejeição do acordo nuclear com o Irã.
– Guerra comercial com a China.
– Pressão contra a Venezuela, com sanções unilaterais ao setor petroleiro e a funcionários do presidente Nicolás Maduro.
Imigração – Política de “tolerância zero” com imigrantes sem documentos, impedindo que essas pessoas “sejam elegíveis para a assistência social, para a atenção médica e para a matrícula universitária gratuita financiada pelos contribuintes”.
– Prosseguimento da construção do muro na fronteira com o México.
Meio Ambiente – Manutenção da política de priorizar o uso de combustíveis fósseis em relação às energias renováveis. É cético sobre mudanças climáticas.

Outros pontos para ficar de olho

Além do tema de impostos e de saúde, a consultoria Capital Economics citou mais três pontos políticos em que podemos ver uma grande diferença de cenário dependendo de quem vencer.

Um deles é a agenda de desregulamentação de Donald Trump, que até agora mostrou poucos sinais de que aumentou significativamente o lado da oferta da economia. Em qualquer caso, o principal fator que provavelmente conterá a economia nos próximos anos é a demanda fraca”, afirmam.

“Embora os apelos de Biden por um salário mínimo mais alto e regulamentações ambientais mais rígidas sejam uma clara negativa para alguns setores de serviços e empresas de energia, duvidamos que eles teriam um grande impacto econômico”, complementam os analistas.

Já sobre a política comercial, a Capital Economics aponta que o democrata poderia “abalar drasticamente” o cenário, com até uma ampliação da guerra comercial com a China. Os analistas apontam que ele não iria remover as tarifas impostas pelo governo Trump logo no início de sua gestão e poderia até manter uma forte pressão nas questões de tecnologia e de segurança de informações.

Por fim, a política monetária. Seja quem vencer, deve manter uma pressão por uma política monetária mais flexível, mas por meios diferentes.

“Esperamos que Trump continue seu esforço para nomear membros dovish [com política mais flexível, de redução de juros] para o Federal Reserve, incluindo a substituição do presidente, Jerome Powell, quando seu mandato expirar em 2022. Suspeitamos que Biden provavelmente renomearia Powell, mas um Senado controlado pelos democratas poderia moldar o Fed em outras maneiras, incluindo potencialmente apoiar as prioridades de bem-estar social ao definir as políticas”, completam os analistas.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.