As empresas da Bolsa que são afetadas com as decisões (e uma não decisão) do CNPE sobre combustíveis

Companhias do setor agrícola e de distribuição de combustíveis estão entre as mais impactadas

Lara Rizério

Biodiesel (Foto: Getty Images)

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Na última terça-feira (19), ocorreu a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão responsável por assessorar na formulação de políticas e diretrizes de energia. Algumas decisões importantes foram tomadas, com impacto para companhias de capital aberto da Bolsa.

O Conselho decidiu antecipar o cronograma e aumentar, gradualmente, o porcentual da mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel vendido no Brasil. O porcentual, atualmente estabelecido em 12%, passará para 14% (mistura B14) a partir de março de 2024 e para 15% (B15) em 2025. A medida que atende o setor produtivo e que deve impulsionar o processamento de soja.

Com base nisso, o Citi espera um aumento nas vendas de biodiesel. Mas, ainda assim, continua vendo o preço do combustível pressionado, devido à tendência de menor preço do diesel, de menores crack spreads (diferencial entre produto bruto e derivados) e de menores preços previstos para a soja.

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A produção brasileira de biodiesel atingiu 6,3 bilhões de litros no ano passado, com o aumento da mistura, de 10% para 12%, que entrou em vigor em abril de 2023; o volume deve ultrapassar 7 bilhões de litros em 2023.

Para os analistas, a 3tentos (TTEN3) pode ser uma das grandes vencedoras nesse cenário, pois está ampliando sua planta de Vera (inaugurada em 23 de junho no Mato Grosso) e já anunciou aumento na capacidade de moagem de soja, cuja capacidade de produção de biodiesel deve chegar a 540 mil m³ (metros cúbicos) ao ano em 2025.

O BBI reforça a visão de que aumento da mistura obrigatória de biodiesel também deverá aumentar a demanda por soja no futuro, o que pode exercer pressão ascendente sobre os preços. Em sua visão, além de 3tentos, a SLC (SLCE3) pode se beneficiar deste cenário. O banco tem recomendação outperform (equivalente à compra) para a ação da primeira e underperform (equivalente à venda) para a segunda companhia.

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A reunião também vetou resolução da ANP que autorizava a importação de biodiesel, mas o CNPE criou um grupo de estudos para avaliar uma possível liberação de importação; até então a importação de biodiesel continua proibida no Brasil. Isso foi visto como uma derrota do segmento de distribuição, que já contava com a opção do produto importado e reclamou de alterações “extemporâneas” nas regras.

Na visão do Bradesco BBI, o preço do diesel deve subir R$ 0,77 o litro (aumento de 13% na bomba) até março, pois, além da medida, a tributação do PIS/Cofins voltará em janeiro, acrescentando R$ 0,30 o litro (l) e o ICMS aumentará em R$ 0,12/l em fevereiro.

Assim, o aumento na bomba provavelmente será parcialmente compensado por um corte da Petrobras (PETR4) no preço de venda do diesel às distribuidoras, que atualmente está 10% acima da paridade de preços internacionais, possibilitando uma redução de R$ 0,36/l.

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Na visão do BBI, essa mistura maior de biodiesel no diesel poderia ser prejudicial aos volumes transportados pela empresa de logística Rumo (RAIL3), uma vez que poderia direcionar os volumes de soja para a produção do biocombustível.

Enquanto isso, por mais que haja insatisfação no setor de distribuição com a suspensão de importação, analistas destacam um desdobramento considerado positivo.

Analistas de mercado citam que, durante a reunião, não houve comentários sobre intervenções no setor de distribuição de combustíveis, como a provável medida de desconcentração da indústria através de uma política de cotas mínimas para distribuidores regionais. A medida chegou a abalar as ações da empresas de distribuição de capital aberto (maiores) no início do mês.

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“Para Vibra VBBR3, Ultrapar UGPA3 e Raízen RAIZ4, a notícia de que o CNPE não criou reserva de mercado para pequenos distribuidores é positiva”, afirma o BBI.

O Citi também vê a notícia como positiva para as três principais distribuidoras, dissipando o ruído sobre os riscos políticos e apoiando a sua visão positiva sobre a dinâmica do setor.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.