As ações que ganham e que perdem com o histórico acordo UE-Mercosul

De um lado, setor agrícola já vê bons resultados do acordo, enquanto analistas apontam dificuldades para a indústria nacional, principalmente a automotiva

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após 20 anos, a União Europeia e o Mercosul fecharam no fim da última semana um acordo de livre comércio e, apesar da falta de detalhes sobre todos os pontos desta parceria, alguns setores da bolsa brasileira já estão sentindo os impactos da novidade – sejam positivos ou negativos.

A primeira grande informação é de que mais de 90% das exportações do Mercosul para a União Europeia terão as tarifas zeradas em até dez anos, enquanto os outros 10% terão acesso preferencial com quotas e tarifas reduzidas. Segundo o governo, antes do acordo, apenas 24% das exportações brasileiras entravam livres de tributo na UE.

Analistas ainda não traçaram todos os impactos nas empresas mas, em um primeiro momento, o grande destaque fica para o setor de proteínas, que deve ser bastante beneficiado pela redução das tarifas, com empresas como JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3).

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Segundo a equipe do Bradesco BBI, citando fontes da imprensa europeia, as novas condições comerciais oferecem cotas anuais de 180 mil toneladas de carne de frango e 99 mil toneladas de carne bovina por uma tarifa de 7,5%.

Vale lembrar que a questão de avaliações sanitárias não devem sofrer mudanças. No documento, o bloco econômico deixa claro que ainda tem o poder de impor restrições às importações de carne do Brasil, caso futuros eventos, como o caso da investigação “Carne Fraca”, voltem a ocorrer.

“Assumindo que os players utilizem 100% das cotas de carne bovina e de aves, isso significaria aumentos de 41% e 62% nas exportações para a UE, respectivamente, considerando que o Brasil exportou 70 mil e 111 mil de carne bovina e de aves para a UE em 2018, respectivamente”, avalia o BBI.

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No caso específico da BRF, que atualmente está proibida de exportar para a UE, este acordo, segundo os analistas, poderá acelerar uma potencial reabertura do mercado para a companhia. Se isso acontecer até setembro, o Bradesco BBI elevaria sua projeção de Ebitda para 2020 em R$ 270 a R$ 300 milhões.

O setor agrícola é outro que deve ser impactado positivamente pelo acordo entre os dois blocos já que as tarifas neste mercado serão 100% eliminadas. Neste caso, uma empresa que poderia se beneficiar é a Rumo (RAIL3), com um possível aumento de suas exportações de insumos. Companhias de açúcar e etanol também deve ser favorecidas.

Indústria deve sofrer
Do lado negativo, as primeiras avaliações são de que o setor automotivo, de autopeças, produtos químicos, maquinário e têxteis devem sofrer mais, já que o acordo é melhor para as empresas europeias.

Atualmente, o Brasil tem uma tarifa de importação para automóveis de 35% (excluindo Mercosul e México). Com uma redução desta taxa, a concorrência europeia poderá pesar muito para o setor doméstico. Nesta segunda-feira (1), a Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis (ACEA) elogiou o acordo, prevendo um real crescimento da indústria automotiva da UE.

Seguindo a mesma linha, as companhias de autopeças também deve ser afetadas. As tarifas de importação neste setor variam entre 14% e 18%, e o Brasil já importa US$ 4,2 bilhões em peças da Europa. Neste caso, porém, a avaliação é que as empresas mais bem posicionadas, como Iochpe-Maxion (MYPK3) e Tupy (TUPY3) devem ter impactos mais limitados.

Na lista também aparece a Weg (WEGE3), que pode sofrer inicialmente com a concorrência dos preços no mercado brasileiro, que deve ser pressionadas. Por outro lado, a empresa também é considerada bem posicionada, podendo com o tempo mitigar estes problemas.

Um outro setor que pode ser impactado é o siderúrgico, com Usiminas (USIM5), CSN (CSNA3) e Gerdau (GGBR4). Nesta segunda, a indústria produtora de aço do Brasil criticou o acordo de livre comércio, afirmando que o pacto não trará ganhos para o setor.

“Com o acordo, a indústria brasileira do aço perde a preferência em relação ao Mercosul e ainda corre o risco de ter material de países fora do bloco da União Europeia, entrando no mercado por meio de empresas da região travestido de material local”, disse o Instituto Aço Brasil (IABr).

Isso se agrava diante da crise econômica do país, além do excesso de oferta mundial de aço. Segundo a IABr, os produtores de aço brasileiros têm uma ociosidade de 34% na capacidade instalada.

Enquanto o acordo completo não é divulgado, o mercado tenta entender cada caso e como isso irá impactar as ações. Num primeiro momento, porém, o que se vê é o setor industrial preocupado e com potencial de ser mais prejudicado, enquanto o lado agrícola deve ser fortemente beneficiado com este negócio entre Mercosul e União Europeia.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.