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Argentina realiza eleições primárias neste domingo com projeções de guinada pró-mercado: quais impactos para as ações por lá?

Analistas do Bradesco BBI fizeram projeções principalmente para a petroleira YPF, vendo possibilidade de alta de ações

Equipe InfoMoney

(Shutterstock)

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A Argentina realizará eleições primárias no domingo, uma votação que servirá como uma grande pesquisa eleitoral antes das eleições gerais de outubro, em um cenário de uma população insatisfeito em meio à inflação de três dígitos e o aumento da pobreza.

A primária – votação aberta e obrigatória – decidirá o vencedor de uma disputa acirrada pela liderança do bloco de oposição conservador e confirmar o candidato da coalizão governista peronista, o ministro da Economia, Sergio Massa. Também será mostrado se o libertário Javier Milei, que tem tido pontuações altas nas pesquisas, realmente se conectou com os eleitores.

As primárias de quatro anos atrás tiveram um resultado chocante – uma vitória esmagadora da oposição – que abalou os mercados e provocou uma crise econômica. Isso é muito menos provável desta vez com uma votação fragmentada tornando mais difícil ter um resultado claro.

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Os candidatos presidenciais precisariam de 45% para vencer a eleição geral de 22 de outubro já no primeiro turno, ou 40% com uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo colocado. Se nenhum partido conseguir isso, haverá um segundo turno em novembro, o resultado mais provável.

O bloco conservador Juntos pela Mudança, ou Juntos por el Cambio – dividido entre o moderado prefeito da cidade de Buenos Aires, Horacio Larreta, e a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich – lidera as pesquisas em geral, com o grupo governista União pela Pátria logo atrás.

Os pesquisadores, no entanto, disseram que a apatia dos eleitores pode significar grandes mudanças no final da disputa, com muitas pessoas ainda indecisas. A eleição primária dará a indicação mais clara de qual será o provável resultado da eleição geral de outubro.

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O Bradesco BBI realizou uma conversa com o analista político Sergio Berenzstein, que acredita que as eleições primárias da PASO indicarão a força real de cada coalizão/orientação política para 22 de outubro, além de indicar a potencial influência legislativa da coalizão Juntos por el Cambio (JxC).

A distinção entre os candidatos pró-mercado Horacio Larreta e Patricia Bullrich está na estratégia, não no alinhamento político (80% alinhados com as políticas), observa, e suas reformas dependem do apoio mútuo devido à coalizão dividida.

Se JxC conseguir entre 38-42% dos votos, a coalizão provavelmente seria capaz de garantir o controle da Câmara dos Deputados, chave para implementar os ajustes que a Argentina precisa, na visão de Berenzstein.

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Em relação à cobertura da casa para ações na Argentina, o banco observa que a petroleira YPF tem negociado com um desconto de 45% EV/Ebitda (valor da firma em relação ao lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em relação às petroleiras internacionais. Esse desconto, no entanto, lembra, caiu para 20% após a vitória de Mauricio  Macri em 2015. Se JxC mostrar uma intenção de voto mais forte do que o esperado no PASO, o BBI acredita que as ações da YPF podem subir.

Como o mercado reagirá aos resultados da PASO?

A análise do banco indica que o mercado continuará reagindo positivamente após o resultado das eleições primárias do PASO, já que a coalizão Juntos por el Cambio (JxC), representada por Patricia Bullrich e Horacio Rodriguez Larreta, confirmaria sua liderança capturada pela média de várias pesquisas realizadas no país.

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União pela Pátria (UxP), a coalizão peronista, representada por Sergio Massa e Juan Grabois, garantiria o segundo lugar, seguida por La Libertad Avanza (LLA), representada pelo deputado libertário Javier Milei. Uma vantagem inesperada de UxP sobre JxC implicaria uma surpresa negativa, enquanto uma vitória de JxC com 38%-42% dos votos seria uma surpresa ainda maior.

Intenção média de votos, segundo as pesquisas:

Como funciona a eleição presidencial na Argentina? 

O BBI destaca que a Argentina realiza regularmente dois tipos principais de eleições: i) eleições nacionais, para eleger autoridades federais: o Poder Executivo, composto pelo Presidente e Vice-Presidente, e o Congresso Nacional, composto por senadores (72) e deputados (257); ii) Eleições provinciais e da cidade de Buenos Aires ou locais, para eleger as autoridades de cada província: os poderes executivos das províncias e seus legislativos. Em todos os casos, o voto é universal, secreto e obrigatório para os cidadãos a partir dos 16 anos.

Os candidatos de cada partido ou coligação serão eleitos nas eleições primárias, abertas, simultâneas e obrigatórias, as chamadas PASO, no domingo, 13 de agosto.

A realização de segundo turno, em 19 de novembro, depende de algum candidato atingir ou não 45% dos votos, ou mais de 10 pontos de diferença em relação ao segundo colocado, superando 40% dos votos. O primeiro debate presidencial será realizado em 1º de outubro e o segundo em 8 de outubro. Caso haja segundo turno, haverá debate final em 9 de novembro. O mandato presidencial é de quatro anos, com possibilidade de uma única reeleição imediata.

Calendário das eleições:

Data Evento
13 de agosto eleições da PASO (primárias)
1 de outubro 1º debate presidencial
8 de outubro 2º debate presidencial
22 de outubro 1º turno das eleições gerais
9 de novembro 3º debate presidencial
19 de novembro 2º turno das eleições gerais

O que focar nas eleições da PASO?

Na opinião Berensztein, além de ajudar a prever o novo presidente da Argentina, as eleições da PASO indicarão a real força de cada coalizão/orientação política para 22 de outubro. A PASO também mostrará a posição do candidato peronista Sergio Massa e indicará a potencial influência legislativa de JxC.

Os perfis dos que disputam a eleição

São quatro candidatos principais:

Sergio Massa é o atual ministro da Economia do governo do presidente Alberto Fernandez e o candidato mais provável para liderar a coalizão do UxP na PASO. Em sua trajetória política, Massa foi presidente da Câmara dos Deputados por três anos, prefeito de Tigre por seis anos e chefe de gabinete da ex-presidente Cristina Kirchner por um ano. Ele vem mudando de coalizões de centro-direita para esquerda, mostrando um apelo mais amplo para capturar eleitores moderados. Massa criticou os acordos anteriores feitos com o FMI, dizendo que este foi o principal motivo da perda maciça de reservas internacionais da Argentina e, consequentemente, da alta inflação.

Horacio Rodríguez Larreta é empresário, economista e político, além de atual prefeito de Buenos Aires pelo partido político de centro-direita Proposta Republicana (PRO), que fundou com o ex-presidente Mauricio Macri. Apesar de ter sido chefe de gabinete de Mauricio Macri em 2007, uma crise interna afetou recentemente a relação entre os dois políticos. Larreta propõe um “Plano Integral” baseado na estabilização do país através da redução gradual dos gastos públicos e gradual liberalização dos controles cambiais com o objetivo de recuperar a confiança da população, além de reformas estruturais para aumentar a produtividade e um plano de desenvolvimento de setores estratégicos.

Patricia Bullrich é política, presidente do partido de centro-direita PRO, fundado pelo ex-presidente Macri, e uma das lideranças e favoritas da coalizão Juntos pela Mudança (JxC). Foi Ministra da Segurança Nacional (2015-2019) e deputada nacional da Cidade Autônoma de Buenos Aires (2007-2015 e 1993-1997), entre outras funções. Ela defende ajustes econômicos ousados, propondo o fortalecimento da relação com o FMI para atrair a entrada de reservas internacionais, um ajuste fiscal contundente, a eliminação imediata dos controles cambiais e um sistema bimonetário com inclusão do dólar.

Javier Gerardo Milei é economista, professor e deputado, líder da coalizão política conservadora e libertária de direita La Libertad Avanza, fundada por ele em 2021. Milei defende uma mudança radical no país ao propor um plano de ajuste fiscal de 15% do PIB, privatização de empresas públicas, eliminação de controles cambiais, dolarização da economia e extinção do Banco Central, entre outras propostas. A principal dificuldade para ele seria o fraco apoio do Congresso devido às limitações de seu recém-criado partido político.

Importância da coalizão JxC

Como destacado anteriormente, o BBI aponta que a distinção entre Larreta e Bullrich reside na estratégia, não no alinhamento de políticas (80% de políticas alinhadas). Suas reformas dependem de apoio mútuo devido à sua coalizão dividida. Esforços internos colaborativos são necessários para propostas políticas eficazes. Claramente, nem Larreta nem Bullrich podem fazer reformas sem o apoio um do outro, já que há uma divisão na coalizão. Como tal, eles precisam trabalhar internamente e juntos chegar a uma política comum, independentemente de quem vença as primárias.

Controlar a Casa é fundamental para avançar com as mudanças necessárias. Segundo Sergio Berenzstein, se JxC conseguir 38-42%, a coalizão provavelmente conseguiria garantir o controle da Câmara dos Deputados, chave para implementar os ajustes que a Argentina precisa. Ultrapassá-lo levaria a um cenário “superaltista” para o mercado acionário, já que sinalizaria potencial de controle de ambas as câmaras. O foco estará justamente na capacidade do candidato vencedor de JxC nas primárias de arrebatar os votos do candidato perdedor. Por outro lado, se a JxC obtivesse menos de 32%, o mercado a receberia negativamente, pois sua posição no Congresso não seria forte o suficiente.

Os cenários e possíveis mudanças ao longo do processo. Sergio Massa deve vencer em sua coligação (UxP). Se Massa tiver um desempenho ruim, a esquerda ficaria tecnicamente fora do processo, já que não há outro candidato forte que pudesse atrair seus votos. Além disso, as eleições das províncias – especialmente em Buenos Aires – medirão a posição do Partido Peronista. Além disso, uma vitória do JxC em Buenos Aires pode aumentar as cadeiras da Câmara.

Os resultados primários da província natal de Kirchner, Santa Cruz, também são importantes de se ver. A perda de Kirchner em ambas as províncias sinalizaria influência reduzida, provavelmente favorecendo candidatos pró-mercado e, portanto, o mercado de ações da Argentina, avalia o BBI;

A crescente influência de Javier Milei deve levar à conquista de cadeiras no Congresso, ainda que não materiais.

Além disso, os debates presidenciais (1º e 8 de outubro) terão grande influência nas eleições de 22 de outubro.

E a atuação de Sergio Massa e o peronismo? Os reveses econômicos e as novas ideias de Javier Milei enfraqueceram o peronismo. A falta de melhora econômica até outubro representaria uma potencial batalha difícil para Massa, na visão da casa.

O que poderia acontecer com a YPF? Como mostrado antes, a YPF tem negociado com um desconto de 45% EV/Ebitda para petroleiras internacionais, com esse desconto, porém, caindo para 20% após a vitória de Macri em 2015.

Nesse cenário, aponta, se o Juntos por el Cambio mostrar uma intenção de voto mais forte do que o esperado no PASO, o BBI vê que as ações da YPF podem subir. Com o tempo, se a eleição de Juntos por el Cambio for confirmada, as ações poderão subir até US$ 30 por ADR (recibo de ações negociados nos EUA), na visão do BBI, ante fechamento de US$ 14,51 na sexta-feira. Se União pela Pátria sai forte do PASO, as ações podem recuar para perto de US$ 10/ADR. “Os riscos estão voltados para o lado positivo, em nossa opinião”, avalia o banco.

(com Reuters)