Argentina deixa Singer por último em preparação para retorno a mercado de bônus

Argentina disse ontem que havia fechado um acordo para pagar US$ 9,7 bilhões em cinco anos para resolver pendências que remontam à moratória recorde do governo, de US$ 95 bilhões

Bloomberg

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Acordos com o Banco Mundial, com a Repsol SA e agora com o Clube de Paris deixaram a Argentina perto de retornar aos mercados internacionais de bônus. O país deixou a negociação mais difícil para o final.

Após uma reunião de 20 horas com funcionários do grupo de países credores, com sede em Paris, que manteve a presidente Cristina Fernández de Kirchner acordada até as 2 da manhã, a Argentina disse ontem que havia fechado um acordo para pagar US$ 9,7 bilhões em cinco anos para resolver pendências que remontam à moratória recorde do governo, de US$ 95 bilhões, em 2001. A segunda maior economia da América do Sul não emite bônus nos mercados internacionais desde que paralisou os pagamentos.

A solução da disputa remanescente com os credores holdouts, incluindo a Elliott Management Corp., do bilionário Paul Singer, está se tornando mais urgente em um momento em que as reservas em moeda estrangeira estagnaram perto da maior baixa em oito anos. A Argentina precisa do dinheiro para financiar investimentos, defender sua moeda e efetuar pagamentos de bônus reestruturados, enquanto qualquer receita proveniente de uma venda de bônus nos EUA pode ser expropriada por credores apoiados por ordens judiciais dizendo que o país lhes deve bilhões.

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“É claramente positivo que a Argentina finalmente tenha resolvido esse assunto” com o Clube de Paris, disse Jorge Mariscal, diretor de investimentos para mercados emergentes do UBS Wealth Management em Nova York. “O grande obstáculo a solucionar ainda são os holdouts”.

Antes de chegar a um acordo com o Clube de Paris, a Argentina também resolveu pendências com cinco empresas no braço de arbitragem do Banco Mundial, melhorou a divulgação de dados econômicos a pedido do Fundo Monetário Internacional e compensou a petrolífera espanhola Repsol pela expropriação da YPF SA, dois anos atrás.

Credores holdout
Cerca de 93 por cento dos credores aceitaram perdas de 70 centavos por dólar nas reestruturações de dívida de 2005 e 2010, enquanto outros investidores holdout, incluindo a Elliott, entraram com ações pedindo condições melhores.

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“Apenas 7 por cento dos credores não reestruturaram voluntariamente suas dívidas, e desses 7 por cento só 1 por cento são fundos abutres que promoveram ações judiciais nos EUA”, disse o chefe de gabinete da Presidência da Argentina, Jorge Capitanich, ontem, durante uma entrevista coletiva de imprensa, em Buenos Aires. “Temos um passo final para que tanto via sistema judicial quanto via acordos voluntários possamos terminar esse processo de reestruturação da nossa dívida”.

A Argentina disse em um documento, em 27 de maio, que seriam necessários US$ 15 bilhões para pagar todos os holdouts.

“Assim como suas obrigações com o Clube de Paris, a Argentina tem tido obrigações pendentes com credores privados há uma década”, disse Jay Newman, gerente monetário sênior da Elliott, por e-mail. “A Argentina deveria finalmente sentar-se e negociar com seus credores privados, que estão prontos para chegar a uma solução de boa-fé”.

O acordo com o Clube de Paris também diminuirá as reservas do país, já que a Argentina depende delas para fazer pagamentos, disse Mauro Roca, economista sênior do Goldman Sachs Group Inc. para a América Latina. Isso pode ser parcialmente compensado por entradas de dinheiro provenientes de linhas de crédito. O acordo permite que as agências de crédito de exportação dos membros do Clube de Paris retomem os empréstimos para a Argentina, disse o grupo em um comunicado.

Classificação de crédito
A Moody’s Investors Service, que reduziu a classificação de crédito do país para sete níveis abaixo do grau de investimento em março, não atualizará a nota atual de Caa1 até que esses fluxos de crédito tenham se materializado, disse Gabriel Torres, analista da companhia.

“Não vamos incorporar isso como positivo até escutar a respeito de mais dinheiro entrando no país”, disse Torres, em entrevista por telefone, de Nova York. “Mas pelo menos essa ressaca foi embora”.

A Argentina ainda precisa melhorar suas contas fiscais, frear a inflação e aumentar as reservas para ter a nota de crédito aumentada, disse Shelly Shetty, diretora de títulos soberanos latino-americanos da Fitch Ratings Ltd., em entrevista por telefone, de Nova York.

No ano passado, as reservas do Banco Central da Argentina caíram US$ 12,7 bilhões.

Os planos para emitir dívida dependerão da necessidade de financiar projetos de desenvolvimento, disse o ministro da Economia argentino, Axel Kicillof, ontem.

“Ninguém pode viver só com o dinheiro do bolso”, disse Kicillof.