Conteúdo editorial apoiado por

Argentina: analistas esperam sell-off de ativos após Sergio Massa sair na frente no 1º turno das eleições

Massa surpreendeu os especialistas no domingo à noite ao obter quase 37% dos votos, forçando uma votação no segundo turno no mês que vem com Milei

Equipe InfoMoney

Publicidade

(Bloomberg) – Os investidores argentinos novamente se prepararam para uma onda de vendas depois que o ministro da Economia, Sergio Massa, teve um desempenho melhor do que o previsto na votação presidencial de domingo, frustrando as esperanças de uma vitória absoluta de um candidato mais favorável ao mercado.

Os bonds em dólares do país – já negociadas abaixo dos 30 centavos por dólar – prolongaram as suas perdas nesta segunda-feira, com cinco delas, incluindo a nota de 2029, figurando entre as de pior desempenho nos mercados emergentes. O peso pode enfraquecer nos mercados monetários paralelos usados para contornar os controles oficiais, na expectativa de que os argentinos corra para os dólares à medida que o governo continua com políticas de gastos que a princípio alimentam a inflação, que já ultrapassa os 130%.

Massa surpreendeu os especialistas no domingo à noite ao obter quase 37% dos votos, forçando uma votação no segundo turno no mês que vem com o segundo colocado Javier Milei, o forasteiro libertário incendiário que obteve 30% de apoio com 97% dos votos contados. A maior questão para os investidores é para onde migrarão os apoiadores da candidata em terceiro lugar, Patricia Bullrich, no segundo turno de 19 de novembro.

Continua depois da publicidade

Os preços dos títulos cairão de 3 a 4 centavos, com apostas de que o governo se sentirá capaz de manter suas políticas econômicas por mais tempo, alimentando ainda mais a inflação e colocando mais pressão de queda sobre o peso, de acordo com Alejo Costa, estrategista-chefe do BTG Pactual em Buenos Aires.

“O governo vai fazer tudo o que puder antes do segundo turno, estendendo as políticas recentes”, disse Costa. Uma possibilidade é tentar conquistar os eleitores com uma nova rodada de gastos que o governo não pode arcar, acrescentou.

Nos últimos meses, Massa concedeu cheques sociais aos trabalhadores, bônus aos aposentados e reduções de impostos para 99% da população, sendo que este último deverá custar ao governo cerca de 0,8% do PIB, ou cerca de US$ 3,5 bilhões à taxa de câmbio oficial.

Continua depois da publicidade

Tudo isto acrescenta pressão a uma situação econômica já terrível, com o país caminhando para a sua sexta recessão numa década, no meio de uma inflação brutal e de uma moeda que perdeu mais de 90% do seu valor nos últimos quatro anos.

Os investidores esperavam um desempenho mais forte de Milei ou Bullrich, acreditando que qualquer um deles iria prosseguir uma reforma econômica mais agressiva como presidente.

“O resultado preferido do mercado teria sido um forte apoio popular a Patricia Bullrich e à sua equipe de tecnocratas ortodoxos experientes”, disse Graham Stock, estrategista sênior de títulos de mercados emergentes na RBC Bluebay Asset Management. “Massa e Milei anunciam maior incerteza.”

Continua depois da publicidade

O que a Bloomberg Economics diz:

“A liderança de Massa no primeiro turno lhe dá incentivo para adiar o realinhamento da taxa oficial do peso. Uma nova subida das taxas de juro é uma possibilidade – com poucos dólares nos cofres de reserva, o governo pode querer aumentar os custos de financiamento para reduzir a procura de dólares e aliviar a pressão sobre os mercados paralelos.”

—Adriana Dupita, economista da Argentina e do Brasil

Continua depois da publicidade

Milei conquistou seguidores com uma proposta radical de eliminar totalmente o peso e usar o dólar americano como moeda oficial do país. A medida é vista como de alto risco, e alguns economistas alertam que poderá alimentar ainda mais a inflação. O seu forte desempenho nas primárias de agosto pegou os mercados de surpresa, com os investidores a apressarem-se a vender os títulos devido a preocupações sobre a sua capacidade de governar.

“Milei provavelmente deveria ser visto como um leve favorito, apesar de não ter conseguido ganhar força desde as primárias”, disse Patrick Esteruelas, chefe de pesquisa da Emso Asset Management. “Ele ainda deverá ser o candidato mais bem posicionado para capitalizar o enorme descontentamento com o establishment político e o atual contexto econômico.”

O peso argentino inicialmente se fortaleceu nos mercados de criptomoedas na noite de domingo, ganhando até 20% em relação a uma moeda estável vinculada ao dólar, depois que resultados preliminares foram divulgados mostrando Massa à frente, mas passou a cair. Os investidores podem ter apostado que o governo atrasaria a desvalorização da taxa de câmbio oficial.

“O próximo presidente da Argentina enfrentará um ambiente econômico desafiador, à medida que a inflação continua a subir, as pressões cambiais aumentam e a situação fiscal permanece frágil. Esperamos que os ativos argentinos permaneçam voláteis antes do segundo turno de novembro, devido à incerteza política e aos gastos que empurram a inflação para cima”, avalia Eirini Tsekeridou, analista de renda fixa do Julius Baer. O segundo turno ocorre em 19 de novembro. O novo governo tomará posse em
10 de dezembro.

O Bradesco BBI apontou ver Javier Milei ainda como favorito, apesar da menor convicção depois da surpresa com Massa na frente.

O banco ainda aponta que embora La Libertad Avanza, o partido de Milei, não tenha uma grande maioria no Congresso, o terreno conquistado é notável, com 14% da Câmara dos Deputados (38 deputados) e 11% do Senado (oito senadores).

“Acreditamos que a vitória de Sergio Massa no primeiro turno foi apoiada pelas últimas medidas inflacionárias implementadas. É por isso que analisamos como este tipo de medidas continuam a agradar a população argentina e mostram o difícil caminho a seguir que seria a consolidação fiscal do país”, avaliam os analistas.

Para eles, o resultado mostra o cenário mais provável e negativo que haviam projetado. “Portanto, esperamos um maior nível de incerteza, potenciais conflitos políticos e riscos de maior deterioração macroeconômica na Argentina. Devido a isso, esperamos uma reação negativa do mercado durante os próximos pregões”, apontam.

“Não há dúvida de que a grande surpresa foi a vitória do atual ministro da Economia, Sergio Massa. Em nossa opinião, isso aumenta o nível de incerteza em relação ao futuro dos ajustes fiscais e dos controles cambiais, o que, por sua vez, pode sinalizar uma deterioração na percepção de risco do mercado na Argentina”, complementam.

(com Bloomberg)