Aramco ameaça Petrobras? Oferta da saudita atrai investidor, mas PETR4 tem um diferencial

Analistas do Bradesco BBI veem possível fonte de pressão, mas seguem otimistas com ação da brasileira

Lara Rizério

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O ano começou positivo para a Petrobras (PETR3;PETR4), com as ações entre as maiores altas do Ibovespa seguindo o petróleo e com as boas perspectivas de dividendos da estatal. Diversos bancos têm reiterado compra para as ações: esse foi o caso do Bradesco BBI, que elevou nesta semana o preço-alvo de PETR4 para as ações de R$ 38 para R$ 48. Contudo, os analistas da casa também apontam um risco que pode afetar o fluxo de capital para os ativos.

O BBI destacou que a potencial “concorrência” com a petroleira saudita Aramco é a fonte desse risco. A Arábia Saudita está perto de contratar bancos para uma oferta subsequente de ações, que poderia captar entre US$ 20 bilhões e US$ 40 bilhões e ficaria entre as maiores dos últimos anos. “Na nossa opinião, a dimensão dessa oferta seria bastante significativa e muito provavelmente captaria fluxos de outros mercados emergentes, sendo a Petrobras uma potencial candidata [a ter esses recursos drenados]”, avalia.

O banco lembra que a Petrobras teve um desempenho bem mais forte do que a Aramco desde o início da guerra Israel/Hamas, iniciada em 7 de outubro de 2023. Segundo os analistas do BBI, a guerra em si pode não ser necessariamente a causa (ou pelo menos a única causa) da diferença de desempenho, mas acreditam que o medo de que a guerra se intensificasse, causando danos à infraestrutura da Aramco, pode ter alguma influência no desempenho.

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Diferença de desempenho entre Petrobras (azul), Aramco (laranja) e futuros do brent (apreciação em %):

A Aramco, cita ainda, perdeu sua correlação com o petróleo desde o surgimento do conflito no Oriente Médio. “Embora a correlação entre as ações da Aramco e os futuros do Brent tenha sido de 0,82 de 2021 até outubro de 2023, esta correlação enfraqueceu para 0,2 desde então”, avalia o Bradesco BBI, conforme destacam os gráficos abaixo.

Desempenho da Aramco (verde) versus o do brent (laranja) entre janeiro de 2021 e outubro de 2023:

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Desempenho da Aramco (verde) versus o do brent (laranja) entre 7 de outubro de 2023 (com deflagração da guerra Israel-Hamas) e os dias atuais:

Os analistas ressaltam que, neste contexto, haver poucas opções entre os emergentes tem sido um poderoso aliado da Petrobras, também levando em conta que as empresas russas estão fora de cogitação e ainda há pouco interesse nas empresas chinesas.

Na América Latina, a mexicana Pemex também enfrenta maior desconfiança: nesta semana, a Moody’s rebaixou o rating de crédito de B1 para B3, atribuindo um “outlook” (perspectiva) negativo. O rebaixamento incorpora a mudança de avaliação sobre o apoio do governo mexicano à empresa, de “muito alto” para “alto”, sendo provável que haja mudança na disposição do governo em apoiar o serviço da dívida da petroleira nos próximos anos, em um contexto de crescente necessidade de criação de caixa da Pemex e das perspectivas de maior deterioração fiscal do governo mexicano em 2024.

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Nos últimos 12 meses, os papéis PETR3 saltaram 82% e os PETR4 subiram 102%. O fato de a brasileira ter um ADTV (volume médio de negociação) muito elevado, um valor muito atrativo e os níveis de dividendos tornam a tese de investimento ainda mais atraente aos olhos de muitos investidores.

Os analistas da casa apontam que, à medida que 2024 avança e se uma escalada da guerra Israel-Hamas for considerada menos provável, e a oferta da Aramco também avançar, poderia haver alguns riscos para o fluxo de investimentos na Petrobras, especialmente durante um período em que os investidores já terão direito aos dividendos extraordinários de 2023 e estarão em uma janela mais distante de qualquer remuneração extraordinária para 2024 (no 2T24 ou 3T24).

“Dito isto, seguimos destacando que as perspectivas para o dividend yield (dividendo em relação ao valor da ação) da Petrobras para 2024 e 2025 parecem muito mais atraentes do que as da Aramco”, afirmam, mantendo a visão otimista para a estatal brasileira.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.