Aprendendo com o passado? 10 pregões que marcaram a história das bolsas

Do crash de 1929 ao erro de ordem que trouxe pânico em 2010: do derretimento do mercado a dias inesquecíveis

Marcel Teixeira

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SÃO PAULO – Para compreender o presente é preciso conhecer o passado. E, em tempos de crise, nada melhor do que rever momentos que marcaram a história do mercado financeiro mundial a fim de aprender com as lições vividas e nos prepararmos para o que vem pela frente.

Desde o “crash” das bolsas de Wall Street em outubro de 1929, passando pela maior alta da história do Ibovespa em 1991, além da crise do subprime nos EUA em 2008, até o erro de ordem de um trader em 2010, todos os acontecimentos, tantos os positivos como os negativos, servem de aprendizado para aqueles que de alguma forma compõem o mercado.

Dando continuidade à série especial que celebra os dez anos do Portal InfoMoney, listamos 10 pregões históricos que marcaram as bolsas ao redor do globo. Confira:

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Crash de 1929

A economia norte-americana vivia um ótimo momento entre 1925 e 1929, com os Estados Unidos tornando-se os principais credores na reconstrução dos países europeus destruídos durante os conflitos da Segunda Guerra Mundial. No mercado acionário, os preços dos papéis subiam no mesmo ritmo das perspectivas econômicas otimistas para o país, atraindo muitos investidores, gerando uma onda de especulação.

Já por volta de 1926, os países europeus começavam a demonstrar recuperação e a comprar menos dos EUA. Entretanto, a produção industrial e agrícola interna continuava com uma agressiva expansão, apesar de não ser acompanhada no mesmo ritmo pelos salários. Neste cenário, o resultado foi uma crise de superprodução, com muita oferta e poucos consumidores, além das crescentes demissões.

O Dow Jones presenciou dois meses de forte volatilidade até chegar ao “crash” no pregão de 24 de outubro de 1929, com uma onda vendedora e o pânico tomando conta do mercado, fazendo com que o índice caísse 12,9%. Nem mesmo os esforços de diversos expoentes do mercado na época, com injeção de recursos de instituições financeiras para lançar ofertas de ações e evitar novas baixas foram suficientes para acalmar o mercado e na terça-feira negra (29/10/29) a bolsa registrou mais uma baixa de 12%.

No total, a bolsa de Nova York registrou perdas de aproximadamente R$ 30 bilhões, número dez vezes maior que o orçamento do governo do país na época. O mercado só foi capaz de recuperar os patamares anteriores à crise um quarto de século depois, no final de 1954.

Maior alta da história do Ibovespa

Em 4 de fevereiro de 1991, primeiro dia do Plano Collor 2, o Ibovespa registrou sua maior alta em termos percentuais da história, ao apontar avanço de 36,05%. O benchmark da bolsa brasileira já vinha de cinco valorizações consecutivas , acumulando uma alta de 71,2% em seis sessões.

Com grandes taxas de inflação na época, o mercado esperava pela efetividade das medidas de controle dos preços, uma vez que a inflação acumulada em 1990 chegou a 1.198%. A economia local passava por uma fase de transição, em meio à abertura às importações e ao início do Programa Nacional de Desestatização, além da abertura da bolsa ao investidor estrangeiro.

Atentados terroristas de 11 de setembro

Os atentados terroristas nos EUA em 11 de setembro de 2001 disseminou o pânico de uma hora para outra nas bolsas norte-americanas, que ficaram sem operar por quatro pregões. A bolsa de Nova York perdeu quase US$ 600 bilhões em valor de mercado em sua reabertura e o Dow Jones caiu 14% em uma semana.

Por aqui, 13% das ações listadas na BM&F Bovespa atingiram suas cotações mínimas em 12 meses e mesmo com a tentativa de evitar maiores perdas ao diminuir o horário de negociações, o Ibovespa encerrou o pregão em queda de 9,18%.

Ao analisar o pregão de 10 de setembro em Wall Street surgem algumas curiosidades, como movimentações atípicas que alimentam a teoria que as bolsas já antecipavam os ataques. Chamou a atenção a disparada do volume de operações com opções de venda dos ativos da United e da American Airlines, companhias aéreas envolvidas nos ataques, além do movimento de opções de venda de seguradoras como a Munich Re e de compra de companhias de armamento.

Muitos apontam familiares de Osama Bin Laden como responsáveis para as operações. O FBI chegou a abrir investigações, que não apontaram culpados, mas que fizeram chegar ao investidor egípcio Amr Elgindy, que na véspera dos ataques ligou para seu corretor e ordenou a liquidação de todas as posições em carteira em nome de um de seus filhos, no valor de US$ 300 mil.

Efeito China

No pregão de 27 de fevereiro de 2007, os mercados iniciaram suas operações já sabendo que enfrentariam uma sessão de perdas, após a bolsa de Xangai ter registrado queda de 8,9%, desencadeando o “Efeito China”, que derrubou as bolsas por todo o mundo. A forte queda do mercado acionário chinês foi creditada à realização, uma vez que as ações listadas na bolsa do país mostravam patamares surreais.

A bolsa da China havia acumulado valorização de 130% em 2006, como consequência do forte crescimento da economia do país. Neste cenário, o governo chinês já acenava com a possibilidade de entrar com medidas restritivas à liquidez, por conta do ritmo frenético que a economia apresentava, com o objetivo de frear a atividade e valorizar a moeda local.

O movimento para conter o crescimento da economia da China mostrou ao restante do mundo que isso representaria uma redução repentina na demanda por commodities de diversos países, trazendo também consequências significativas sobre a produção e o consumo de diversos bens.

Na sessão, o Ibovespa registrou queda de 6,63%, seu maior recuo desde a queda do atentado terrorista às Torres Gêmeas, em 2001, com um volume financeiro de R$ 5,4 bilhões.

Brasil recebe investment grade

Em meio à continuação do crescimento da popularidade do mercado de ações brasileiro com os IPOs (Oferta Inicial de Ações) de 2007 e a evolução da economia nacional, o mercado ainda aguardava a confirmação do “investment grade” do Brasil pelas agências de classificação de risco Fitch e Moody’s, após a sinalização positiva da S&P.

Enquanto os investidores aguardavam ansiosos pelas divulgações de alteração na nota do Brasil por essas duas instituições, o upgrade na classificação de risco brasileira veio de uma agência canadense de menor expressão em relação às principais, a DBRS, impulsionando o otimismo dos investidores no pregão de 28 de maio de 2008, de que alguma notícia relevante estava na eminência de ser reportada, fato confirmado pelo upgrade da Fitch na sessão seguinte.

No pregão em que a agência canadense anunciou a elevação do rating brasileiro, o Ibovespa registrou avanço de 3%, enquanto na sessão posterior houve uma queda de 1,85% do benchmark do mercado de ações do Brasil.

IPO da Bovespa Holding

Os números da primeira abertura de capital entre as bolsas da América Latina, a Bovespa Holding, em 20 de outubro de 2007, já foram superados por outras empresas, mas, simbolicamente, continua sendo considerado como o maior IPO da história da bolsa.

Antes desta oferta, nenhuma outra havia registrado o mesmo volume, captação, número de negócios e valorização.Os 52,13% de alta registrados são recorde até os dias atuais. As ações movimentaram R$ 5,06 bilhões na sessão, levando o volume financeiro do pregão a R$ 10,05 bilhões.

Além de colaborar para a popularização da bolsa, outra novidade com o IPO da Bovespa Holding foi a criação do filtro antiflippers, na tentativa de evitar uma participação apenas especulativa de investidores de varejo que já haviam vendido as ações de outras empresas em suas respectivas estreias no mercado acionário.

Crise do subprime

O dia 15 de setembro ficará marcado como um divisor de águas durante a crise do subprime nos EUA em 2008, com a aversão ao risco predominando entre os mercados e assustando os investidores com a quebra do quarto maior banco de investimento dos EUA, o Lehman Brothers.

Perdas contábeis enormes e exposição às hipotecas de alto risco faziam com que o Lehman tivesse a expectativa de ser adquirido por outra instituição financeira ou que pudesse contar com a ajuda do Federal Reserve, como ocorrido como Bear Stearns. A venda não foi concretizada e o Banco Central dos EUA, em uma decisão equivocada para muitos, resolveu não interferir.

Entretanto, não foi apenas a concordata da gigante do setor de investimentos que marcou a sessão. A Merril Lynch foi comprada pelo Bank of America, os bancos centrais anunciaram mais uma injeção de liquidez e a seguradora AIG reportou que também necessitava de capital, reforçando ainda mais a forte apreensão dos mercados.

Neste cenário de incertezas, as ações do Lehman Brothers caíram 94,25% no pregão da bolsa de Nova York (NYSE), enquanto o Ibovespa chegou a cair quase 8% e registrou sua maior queda desde os atentados terroristas às Torres Gêmeas, ao fechar as operações com recuo de 7,89%.

Argentina desencadeia fuga de capital estrangeiro

Apesar do potencial de algumas economias em desenvolvimento, seu histórico recente é esquecido diante de qualquer dificuldade econômica para os países emergentes. No dia 22 de outubro de 2008, apesar das atenções estarem voltadas para a crise dos EUA na época, o foco ficou na Argentina.

As bolsas dos países emergentes apresentaram grandes quedas por conta da fuga de investidores, assustados com a proposta de estatização dos fundos de pensão pela presidente argentina Christina Kirchner. O medo de default argentino fez com que a bolsa de Buenos Aires caísse 10,11% na sessão – após a queda de 10,99% no pregão anterior – e alastrou-se para os países vizinhos, fazendo com que o Ibovespa marcasse recuo de 10,18%.

No restante do mundo, o capital estrangeiro mostrou um movimento de fuga dos emergentes, com temores de que se a crise, pesada já para os países desenvolvidos, fosse insustentável para as economias menos maduras.

Fundo do poço do Ibovespa na crise de 2008

O final de outubro de 2008 ficou marcado como a fase dos circuit berakers na bolsa brasileira e o fundo do poço da crise. No dia 27 de outubro de 2008 o Ibovespa fechou em queda de 6,50%, chegando à marca dos 29.435 pontos, configurando uma desvalorização de 60% em cinco meses.

Apesar da pontuação histórica do benchmark da bolsa brasileira, não houve grandes novidades naquela sessão. Diante da grande volatilidade da época, era difícil fazer qualquer projeção sobre as proporções da crise e na ausência de informações relevantes, o investidor se apegou à aversão ao risco em um cenário totalmente desfavorável. Naquela fase, o indicador risco-Brasil estava próximo ao patamar de 600 pontos, enquanto o Dow Jones estava próximo aos 8.100 pontos.

O Ibovespa vinha de cinco baixas consecutivas até consolidar seu menor patamar em três anos e sua menor pontuação durante a crise. Dali em diante, houve o predomínio de uma trajetória ascendente, que trouxe o índice de volta à casa dos 65 mil pontos exatamente um ano depois.

Erro de ordem desencadeia perdas nas bolsas do mundo

Os temores sobre a deterioração econômica da Zona do Euro, com o eminente risco de default da Grécia e a possibilidade de contágio das economias locais era o pano de fundo do pregão de 29 de abril de 2010. Apesar desse cenário de aversão ao risco, não foi nada disso que ocasionou as acentuadas perdas nas bolsas por todo o mundo naquela sessão.

A brusca queda nas bolsas teve início em Wall Street, por volta das 15h00 (horário de Brasília). Em menos de 30 minutos, o Dow Jones, alcançou sua maior desvalorização no intraday, com queda de 9,2%, chegando a cair quase 1.000 pontos, puxando consigo as performances dos mercados ao redor do mundo.

Contudo, rumores sobre um possível erro de ordem de um trader começaram a surgir. Posteriormente, surgiram informações de que esse erro teria partido do Citi e que teria sido feito em uma operação de venda envolvendo as ações da P&G (Protecter & Gamble) e da 3M, com pesos de 4,32% e 6,02% no Dow Jones, respectivamente. A agência de notícias CNBC afirmou que o trader teria executado uma operação de venda na casa dos bilhões, ao invés do valor correto, que estaria nos milhões.