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Após realizar lucro, estrangeiro deve retornar à Bolsa com cenário local mais favorável

Bolsa e empresas seguem com múltiplos atrativos, dizem especialistas

Rodrigo Petry

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Apesar do primeiro corte de juros em três anos, a Bolsa brasileira foi na contramão das expectativas no mês passado, caindo mais de 5%, puxada pela saída em peso de investidores estrangeiros. Conforme dados da B3, o estrangeiro sacou mais de R$ 13,2 bilhões, na maior retirada mensal registrada em 2023.

Para a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a saída de recursos estrangeiros, no mês de agosto, porém, pode ser considerada mais como um movimento de “realização de lucro”, do que algo “estrutural”, de debandada de investidores estrangeiros do Brasil, por conta de fundamentos que tenham se alterado.

“Continuamos vendo potencial de mais entradas (de recursos estrangeiros) ao longo dos próximos meses, pelo resto de 2023”, analisa Jennie. Ela aponta que esse “retorno” deve se dar por conta das condições macroeconômicas “mais favoráveis”, sobretudo na comparação com o início de 2023.

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Por exemplo, a própria taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vem surpreendendo, trazendo um movimento de revisão das projeções de aumento neste ano. Além disso, as perspectivas de inflação vem melhorando, ancorando a queda da taxa Selic.

Estrangeiro em alta

Mesmo com essa maior saída mensal, em agosto, o dinheiro gringo vem ajudando – e muito – a puxar os ganhos da Bolsa neste ano. O Ibovespa sobe, em 2023, quase 7%.

Do total de recursos do mercado secundário da B3, o saldo líquido positivo de estrangeiro fechou de janeiro a agosto positivo em R$ 11,6 bilhões, bem acima dos ingressos líquidos de investidores individuais, de R$ 5,5 bilhões.

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Em contrapartida, o institucional sacou R$ 27,8 bilhões em oito meses. Em agosto, curiosamente, o saldo de institucionais ficou positivo em R$ 5,4 bilhões, à frente, inclusive, dos individuais, com mais de R$ 4,6 bilhões.

“A pessoa física e o institucional têm estratégias de alocação diferentes e uma tendência mais sólida em alocar recursos, incluindo na renda variável”, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, em relação ao movimento de agosto.

Portanto, se o estrangeiro aproveitou o mês passado para embolsar lucros – lembrando que, entre 23 de março e 25 de julho deste ano, o Ibovespa saltou quase 30%, saindo dos 96,9 mil pontos para 112,8 mil pontos –, agora foi a vez do institucional e da PF entrarem, e se posicionarem para frente.

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Para Lima, apesar dessa saída em agosto, a aposta é de que os estrangeiros retornem às compras de ações brasileiras, já que “as empresas estão com múltiplos completamente atrativos”.

Uma amostra desse retorno se deu no primeiro pregão de setembro, quando a Bolsa subiu 1,86%, com o ingresso líquido de R$ 1,125 bilhão de dinheiro gringo. Isso já melhorou o saldo acumulado em 2023 para 12,727 bilhões.

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Real valorizado e menor prêmio de risco

Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante, aponta ainda como fatores para a recente saída do gringo o movimento de valorização do real. A moeda americana chegou a se aproximar dos R$ 4,70, antes de voltar a beirar os R$ 5.

Assim, a Bolsa acabou ficando “mais cara”, tornando-se menos atrativa ao estrangeiro. No mais, o próprio fato de o Ibovespa estar acima dos 120 mil reduziu “prêmio do risco retorno” para o gringo.

Junto com esses fatores, houve a preocupação, entre os investidores, com risco fiscal, em meio à entrega do orçamento 2024 e preocupações com o atingimento do déficit zero, bem como o impacto da MP que pretende tributar a distribuição de JCP.

Sem contar, é claro, com o movimento de queda das bolsas em NY, com investidores migrando para a renda fixa, em meio ao cenário de maior aversão ao risco no exterior.

Cenário mais favorável e Bolsa barata

Apesar de todos os percalços que o investidor enfrenta, a estrategista da XP pondera que há aspectos positivos a favor do Brasil. Entre eles, o próprio fato de o corte de juros ter vindo antes, entre as economias emergentes.

Ademais, os países desenvolvidos estão com níveis de juros restritivos, ainda com o debate sobre se o ciclo de alta acabou ou não. Nos EUA, por exemplo, eventuais novas alta de juros não estão totalmente descartadas pelo Federal Reserve.

Por fim, pesa a favor, o próprio valuation da Bolsa brasileira. Jennie pontua que os múltiplos do Ibovespa – de preço sobre lucro (P/L) – ainda estão bem descontados, em relação à sua média histórica.

“O Ibovespa está sendo negociado a um P/L de mais ou menos 8 vezes, frente à uma média de 11 vezes dos últimos 15 anos. Já o S&P500 está com um P/L ao redor de 18,19 vezes”, explica.

“Então, o Ibovespa segue bem atrativo ao investidor estrangeiro”, conclui.

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