Após dados de emprego “conflitantes” nos EUA, payroll vai definir o rumo dos mercados?

No início da semana, Jolts derrubou o mercado, enquanto ADP posteriormente gerou alívio - mas os olhos se voltam mesmo ao payroll

Lara Rizério

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Juros nos EUA: o tema deu a tônica do mercado (ainda mais) durante toda a semana, afetando inclusive o Ibovespa, que acumula perdas de 2,8% na semana. Os diversos dados de emprego da maior economia do mundo, por sinal, foram os grandes direcionadores do mercado ao apontarem para direções diferentes nos últimos dias. Mas os olhos dos investidores se voltaram para os dados desta sexta-feira (6) do payroll, o relatório de emprego, referente ao mês de setembro.

Antes disso, na terça, o Jolts derrubou os mercados pelo mundo ao indicar abertura de vagas muito acima da previsão dos analistas, mostrando que o mercado de trabalho ainda segue resiliente. A abertura de postos de trabalho nos Estados Unidos cresceu para 9,61 milhões em agosto, bem acima da previsão de analistas consultados pela FactSet, de 8,9 milhões de vagas. O dado sustentou o argumento de que o Federal Reserve poderá manter a política monetária restritiva por mais tempo.

Na sessão seguinte, contudo, outro dado de emprego foi na direção contrária. O ADP divulgou que os Estados Unidos criaram 89 mil o número de vagas no setor privado em setembro, bem abaixo do que o esperado, uma vez que o consenso Refinitiv esperava a criação de 153 mil vagas. Esse dado, por sua vez, gerou alívio nas expectativas de juros altos pelo Fed por mais tempo, mas com muitas ressalvas.

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O ADP é um dado do mercado de trabalho que indica a criação de empregos no setor privado e antecede o payroll, sendo considerado por muitos uma prévia do relatório do emprego.

Contudo, a Ágora Investimentos lembra que as séries históricas do ADP e do payroll costumam andar juntas na mesma direção, mas não necessariamente na mesma magnitude. “Isso significa dizer que, um ADP mais fraco não garante necessariamente um payroll mais fraco e vice-versa”, aponta.

Já na quinta-feira, o número de pedidos de auxílio-desemprego veio abaixo do esperado, sendo apontado como um indicador de resiliência do mercado de trabalho.

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Ou seja, em meio a tantos dados conflitantes, os investidores estarão especialmente atentos ao payroll, a ser divulgado nesta sexta às 9h30 (horário de Brasília), que pode ser um definidor para os mercados mundiais. O consenso Refinitiv como economistas é de criação de 170 mil vagas e taxa de desemprego a 3,7%.

“Com este dado em mãos, os investidores devem recalibrar suas apostas para os próximos passos do Fed. Se for reportado uma criação de empregos robusta no mês de setembro, isso pode reforçar a ideia de mais altas de juros nos EUA nas próximas reuniões e/ou juros elevados por mais tempo. Para os mercados, isso pode desencadear em novas rodadas de risk-off”, avalia a Ágora.

O Citi espera que todos os elementos do relatório de emprego de setembro indiquem um mercado de trabalho mais apertado do que o consenso, com uma criação de 240 mil vagas, uma queda na taxa de desemprego para 3,6% e sólidos rendimentos médios por hora na base mensal de 0,3% com riscos de alta.

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Para os analistas do banco, isso deverá elevar a expectativa do mercado de outro aumento das taxas por parte do Fed o Citi espera que ela ocorra em novembro).

O  BofA projeta aumento no emprego fora do setor agrícola de 185 mil e 170 mil nos pagamentos privados.

“Se o relatório estiver de acordo com nossas expectativas, nos sentiríamos mais confiantes em relação à nossa previsão de que o Fed aumentará as taxas mais uma vez em novembro. No entanto, uma impressão de folha de pagamento abaixo de 125 mil (…) reduziria as chances de o Fed aumentar as taxas em novembro”, entende o BofA sobre o valor consolidado para o dado.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.