Após commodities, construção e ações, nova bolha está prestes a estourar na China já em 2017

Analistas fazem o alerta de que o renminbi será a "bolha da vez" a estourar no gigante asiático

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Está se tornando recorrente. A cada início de ano, a China recebe uma atenção especial, principalmente pelos mistérios que rondam a segunda maior economia do mundo. 

No começo do ano passado, todos os olhos do mercado se voltavam para a derrocada dos mercados acionários do país, que chegaram a cair 10% em apenas uma semana e levou a uma disparada de venda de ativos de risco. No dia 7 de janeiro de 2016, por sinal, foi acionado o “circuit breaker”, com o encerramento precoce dos negócios após um recuo de mais de 7% no índice CSI 300, que reúne as principais empresas listadas em Xangai e Shenzhen. Além do impacto sobre as outras bolsas mundiais, a apreensão do mercado também ocorre em meio aos questionamentos sobre a causa de tamanha turbulência.

A desaceleração da economia, fonte de preocupação não só do gigante asiático mas também de países que possuem forte ligação comercial com ele (caso do Brasil), foi “isentada de culpa” na época. “Creio que há pouca conexão entre a queda dos mercados acionários e a economia real”, disse o economista do Standard Chartered Shen Lan para a Reuters na época. A perspectiva de desaceleração econômica do país trazia um cenário mais nebuloso; contudo, dados da época mostraram alguma resiliência do gigante asiático. Além disso, na época, o governo chinês buscou intervir no mercado, lançando investigações sobre o que definiu como “vendas a descoberto malévolas” e gastando US$ 200 bilhões para tentar segurar a queda nos preços das ações. Porém, não foi suficiente e a “bolha” estourou. 

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Essa, contudo, nem de longe foi a primeira “bolha de ativos” que a China passou nos últimos tempos. A bolha no mercado acionário ocorreu em meio a estouros da bolha no setor de construção civil do país, que ainda é uma sombra nos mercados por lá. Em setembro do ano passado, por sinal, o homem mais rico do gigante asiático, Wang Jianlin, fez um alerta em entrevista à CNN. Jianlin, que fez fortuna no mercado imobiliário chinês e é o fundador do grupo Wanda, destacou que o setor estava passando pela “maior bolha da história”. Desta forma, ele estava reduzindo os investimentos no setor, para evitar perdas históricas quando o mercado “arrebentasse”. Na época, ele destacou que houve uma queda nos preços em diversas praças, com um grande número de propriedades vazias. Contudo, os preços imobiliários continuam subindo nas grandes cidades chinesas, como Xangai e Pequim. “Eu não vejo uma solução viável para este problema. O governo adotou todo o tipo de medidas, mas nenhuma funcionou”, apontou ele. 

Ainda no radar, está a bolha de commodities, com a disparada das cotações do minério de ferro, conforme destacou o diretor da Valor Gestora de Recursos, William Castro Alves em blog para o InfoMoney publicado em novembro de 2016. Apesar da forte alta da commodity ocorrer ao mesmo tempo em que as intenções de Donald Trump para o seu governo nos EUA ganhavam forma (com o plano bilionário de investimentos em infraestrutura em destaque), a razão apontada para a disparada da commodity foi bem diferente de qualquer sinalização americana – e muito menos de uma eventual recuperação chinesa. Além do mais, um estudo do BTG Pactual apontou que existe uma sobreoferta de minério para os próximos anos com os projetos hoje existentes começando a produzir. 

Para explicar tal movimento do minério, Castro Alves destacou um motivo em especial, e que vem ganhando destaque nestes primeiros dias de 2017: a desvalorização da moeda nacional, o renminbi. Os investidores precisam manter o seu poder de compra forte, ou seja, em dólar. Com a queda do renminbi, estes estão ficando “mais pobres” na divisa americana. Com isso, dado que existem controles de capital e o governo é que determina a taxa de câmbio, os investidores aplicam o dinheiro de forma a proteger contra a corrosão de valor. Com isso, eles passaram a aplicar em ações e imóveis, sendo então necessária uma ação governamental para acomodar os efeitos do “estouro da bolha”. 

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O terceiro passo, apontou Alves na época, foi a bolha dos metais. “Isso porque elas tem seu preço denominado em dólar, logo representam uma reserva de valor, uma proteção aos investidores chineses”, afirma.

2017: mercado de olho no renminbi
Agora, o mercado está de olho novamente no movimento da moeda chinesa e em um outro mercado: o de bitcoin, chamando inclusive a atenção de uma das gestoras mais renomadas do Brasil, a Verde Asset. Em relatório sobre o desempenho do mês de dezembro, a gestora comandada por Luis Stuhlberger apontou que a sua maior aposta era contra o renminbi. Na semana passada, após superar o patamar de US$ 1.000 pela primeira vez em dois anos, a moeda digital passou a cair fortemente. 

O gestor destaca que 90% dos negócios com a bitcoin são feitos por chineses. “A dinâmica própria da China reforça a direção de uma moeda desvalorizada. O desafio de conter a fuga de capital está ficando cada dia mais complexo, com a pressão acelerando desde setembro do ano passado e trazendo as reservas chinesas para muito próximo de US$ 3 trilhões”, diz Stuhlberger na carta.

Segundo ele, os dilemas da economia chinesa em termos de crescimento, liquidez, taxas de juro e de câmbio estão ficando mais agudos, e a probabilidade de um movimento mais forte de desvalorização do renminbi está crescendo. Neste cenário, mais uma vez em busca de proteção contra a queda do yuan (que tornam os chineses mais “pobres” em dólar), os investidores estão correndo para a bitcoin.

Assim, em meio aos temores de que a bitcoin está sendo usada para levar a uma fuga de capitais, os reguladores chineses estão tomando medidas de regulação. O Banco Popular da China se reuniu recentemente com as três maiores bolsas da moeda digital na semana passada para lembrá-las de seguir rigorosamente as regulamentações, o que impactou a cotação da bitcoin. Por outro lado, analistas de mercado apontam que a bitcoin nem de longe explica a queda da moeda chinesa. Além das regulações do mercado, eles citam um dado simples: a oferta total de bitcoin no mundo é de apenas US$ 15 bilhões, menos do que o declínio ajustado de US$ 26 bilhões nas reservas cambiais da China em dezembro.

De qualquer forma, a visão consolidada é de que o renminbi, altamente manejado no país asiático, deverá cair ainda mais. “A paridade com o dólar foi abandonada em 2015, com desvalorização subsequente, até que a moeda atingiu seu menor valor desde 2008. Na semana passada, o Banco Central Chinês interferiu contra as pressões de desvalorização, forçando a maior valorização do renminbi perante o dólar desde 2005”, aponta a Rosenberg Consultores Associados. A consultoria reforça que, no enigma da desaceleração chinesa (e ainda que sem efeitos expressivos sobre a taxa oficial de crescimento), algumas bolhas estouraram no caminho. “O câmbio é o grande postulante de 2017, com o risco advindo do nível de endividamento, especialmente em dólar, ampliando as preocupações com o futuro do país”. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.