Apoio dos EUA à Argentina eleva peso e traz alívio a investidor preocupado, diz BBI

Trump e o secretário do Tesouro, Scott Bessent, anunciaram US$ 20 bilhões em suporte a Milei; peso argentino valoriza 5% e Merval sobe quase 4% hoje

Murilo Melo

A imagem mostra Javier Milei, presidente da Argentina; crédito: Agência Brasil.
A imagem mostra Javier Milei, presidente da Argentina; crédito: Agência Brasil.

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A demonstração de apoio dos Estados Unidos à Argentina na terça-feira (23) mexeu com o humor dos investidores e trouxe certo alívio a um mercado que vinha sofrendo após o revés do governo de Javier Milei nas eleições provinciais de Buenos Aires.

O presidente Donald Trump e o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, aliados de Milei na América Latina, sinalizaram amplo apoio financeiro ao governo argentino, em um gesto considerado incomum por analistas.

O Bradesco BBI disse em relatório que o nível de endosso foi sem precedentes na história recente do país e que os recursos anunciados, de US$ 20 bilhões, funcionam como uma ponte para dar sobrevida à administração de Javier Milei, ao menos até que as exportações do setor de energia ganhem força no balanço de pagamentos.

Segundo o banco, o pacote de apoio reduz o risco de calote no curto prazo, já que a Argentina deve aproximadamente US$ 14 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e poderia complementar o restante com superávits comerciais para cumprir vencimentos de cerca de US$ 37 bilhões previstos para 2026 e 2027.

O BBI considera que a abertura de outras frentes de suporte, como a possibilidade de crédito emergencial via Exchange Stabilization Fund, ajuda a conter a pressão sobre o peso argentino e sobre os ativos locais.

Ontem, com o apoio americano, o peso argentino foi a estrela do dia, valorizando 5,02% frente ao dólar, segundo a Elos Ayta. Às 12h20 (horário de Brasília) desta quarta-feira, a cotação do dólar estava em 1.367,11 pesos, representando uma queda de aproximadamente 0,62% em relação ao dia anterior.

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A bolsa argentina, medida pelo índice Merval, vinha em baixa depois das eleições provinciais, quando a preferência pelo peronismo reduziu a confiança do investidor e pressionou tanto o câmbio quanto os títulos públicos.

O múltiplo P/L (preço sobre lucro) projetado para 12 meses do Merval está em 6,8 vezes, patamar semelhante ao de longos períodos dos governos kirchneristas e bem abaixo da média de 10,3 vezes desde 2006, o que, na avaliação do BBI, abre espaço para valorização se houver melhora no fluxo de capitais e na percepção política antes das eleições de outubro. Hoje, o índice Merval sobe quase 4%, aos 1.881 pontos.

O banco projeta que o risco-país continue em queda nos próximos dias e reforça recomendação neutra para as ações argentinas, com preferência pelo setor de energia, citando nomes como Vista Energy, Pampa e TGS. Entre as companhias de menor risco, o relatório também menciona Irsa e Byma.