ANTT assina TAC para Odebrecht Transport vender concessão; BB e Caixa precisam acordar

Com passivos que somam quase R$ 2 bilhões, a concessão será vendida à empresa estadual pela Odebrecht pelo valor simbólico de R$ 1.

Estadão Conteúdo

Publicidade

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Rota do Oeste (CRO), concessionária da Odebrecht Transport (OTP) que administra a BR-163, em Mato Grosso, assinaram nesta terça-feira, 4, o termo que possibilita que a companhia transfira a administração da rodovia para o governo de MT, que vai assumir o trecho por meio da estatal MTPar. Com passivos que somam quase R$ 2 bilhões, a concessão será vendida à empresa estadual pela Odebrecht pelo valor simbólico de R$ 1.

A CRO, sob o controle da Odebrecht Transport, assumiu a BR-163/MT em março de 2014, mas, sem conseguir cumprir grande parte do contrato, se somou a fila de concessões rodoviárias fracassadas da ‘terceira rodada’, realizada durante o governo de Dilma Rousseff (PT), fortemente impactadas pela crise econômica de 2015 e 2016.

A cerimônia de assinatura do termo de ajustamento de conduta (TAC) reuniu autoridades em Cuiabá, capital de Mato Grosso, que no último domingo reelegeu o governador Mauro Mendes (União Brasil), com o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL). Marcaram presença o chefe estadual, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, o diretor-geral da ANTT, Rafael Vitale, parlamentares, e o presidente em exercício do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, que relatou o caso no TCU.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A expectativa é de que a MTPar assuma a concessão em dois meses. Para a transferência de controle ser efetivada, por sua vez, algumas etapas ainda precisam ser cumpridas. A mais delicada delas é a anuência dos atuais credores da CRO, especialmente Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil (BBAS3). O governo estadual apontou, durante a cerimônia, ser crucial que esses bancos públicos aceitem a proposta da MTPar para equacionar e reduzir o montante de passivos. A dívida contraída com sete bancos soma R$ 915 milhões – além dos passivos regulatórios, de R$ 1 bilhão. Esse, contudo, será suspenso pela ANTT.

Segundo o secretário-chefe da Casa Civil do Estado, Rogério Gallo, bancos privados já deram o sinal verde para as propostas do governo sobre o equacionamento das dívidas, mas haveria “especial preocupação” com o BB e a Caixa. “Queremos equacionar dívidas, para não pagar juros. A CRO carrega dívida cara, não podemos carregar, sob pena de o modelo não funcionar”, afirmou Gallo.

“As instituições privadas já sinalizaram oficialmente que aceitam proposta do governo de um desconto de 60% da dívida para pagamento à vista. E os bancos públicos estamos a negociar e acredito que provavelmente chegaremos a um final feliz”, complementou o governador. Na busca por reduzir o tamanho da dívida, o governo estadual ainda terá de desembolsar R$ 1,2 bilhão para realizar as obras na rodovia.

Continua depois da publicidade

Vendendo as ações da concessionária por R$ 1, mas se livrando de um passivo bilionário, a Odebrecht Transport sai do controle da concessionária sem qualquer ganho financeiro. “A OTP ainda realiza perda de R$ 1,2 bilhão (ao transferir concessão)”, citou o secretário-chefe, em referência aos R$1,2 bilhão desembolsados pela CRO durante o contrato de concessão. Para poder assinar o TAC, a companhia ainda aceitou renunciar todas as pretensões formuladas em procedimento arbitral.

O TAC foi construído como uma alternativa ao processo de relicitação da rodovia, que desencadearia em um novo leilão. O instrumento é visto como uma forma mais rápida de as injeções de recursos serem retomadas no trecho, uma vez que, pelo acordo, a MTPar promoverá uma retomada imediata dos investimentos, com a definição de um plano de ataque para priorizar obras conforme a criticidade de cada pedaço da rodovia.

Segundo a ANTT, passados oito anos do contrato assinado com a Odebrecht Transport, apenas 26% das duplicações previstas foram efetivadas, sendo que a CRO recuperou apenas 17% da rodovia.

Há tempos a OTP buscava uma empresa para transferir o controle acionário da CRO – condição para a assinatura do TAC. Os grupos privados que haviam se interessado pela administração da rodovia, no entanto, não avançaram nas tratativas com a companhia em razão da falta de atratividade financeira do contrato. Foi nesse contexto que se iniciaram as negociações para que uma empresa do governo do Estado pudesse assumir a rodovia. “O novo TAC busca atender o interesse público sem viés do lucro privado”, disse mais cedo o diretor da ANTT, Davi Barreto.

A MTPar terá até oito anos para fazer o saneamento das inexecuções contratuais. Além disso, há previsão de celebração de um aditivo que estenderá o contrato de concessão por cinco anos, prorrogação condicionada ao cumprimento integral do termo de ajustamento.

Para a transferência à MTPar ser efetivada, além da anuência dos credores, ainda será preciso obter o aval dos acionistas minoritários da OTP (F-FGTS e BNDESPar), o sinal verde do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT) e a anuência da ANTT para a troca de controle.