Antes excluídas, criptomoedas ganham papel de destaque no Fórum Econômico Mundial

O evento promove sérias discussões sobre dinheiro digital e futuro da economia

CoinDesk

(Sandali Handagama/CoinDesk)

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Em Davos, na Suíça, mesmo nos trens você não consegue fugir das criptomoedas.

A reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF) – cancelada em 2021, e adiada no início de 2022 – começa formalmente nesta terça-feira (24), mas os entusiastas das criptomoedas já começaram a se movimentar no domingo (22) com barracas para celebrar o Bitcoin Pizza Day e pavilhões de blockchain com banners chamativos ao longo da Promenade, famosa rua que leva ao evento.

Os participantes do WEF, quando desembarcaram de seus aviões em Zurique ou trens em Davos, foram bombardeados com cartazes da Circle, empresa emissora de stablecoin, e da corretora de criptomoedas Bitcoin Suisse. Transeuntes casuais falaram sobre ter Shiba inu (SHIB) e Cardano (ADA). No final do dia, os entusiastas se dispersaram para um dos airbnbs próximos.

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“Cinco anos atrás, éramos a única empresa de criptomoedas na Promenade”, disse Sandra Ro, CEO da Global Blockchain Business Council (GBBC) em uma festa de lançamento em uma igreja local (apelidada de “The Sanctuary”), que fica do lado de fora do ponto de encontro da conferência. “E olhe para isso agora”, acrescentou.

Talvez nada tenha anunciado mais a chegada da turbulenta indústria de criptomoedas à maior mesa de negócios do mundo do que o fato de que o próprio WEF está mantendo sérias discussões sobre dinheiro digital, com players importantes do setor.

Jeremy Allaire, presidente e CEO da Circle Pay, e Brad Garlinghouse, CEO da Ripple, sentaram-se lado a lado na segunda-feira (23) para discutir remessas e dinheiro digital em um evento no espaço para jornalistas do WEF. O painel, intitulado “Remessas para recuperação: uma nova era do dinheiro digital”, também incluiu Asif Saleh, diretor executivo da BRAC, uma organização não governamental de desenvolvimento com sede em Bangladesh.

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O fórum também sediou uma discussão sobre futuro da economia global, economia dos Estados Unidos e moedas digitais do banco central (CBDC). Isso não quer dizer que os líderes globais do evento ainda aceitem criptomoedas – mas eles não estão mais ignorando esse mercado.

Rastejando

Um painel que tratou do futuro da economia dos EUA – com a CEO da Nasdaq, Adena Friedman, o CEO do PayPal, Dan Schulman, o senador dos EUA, Pat Toomey, e o economista Jason Furman, continuou a discussão sobre criptomoedas.

“Para muitos países ao redor do mundo, as moedas digitais do banco central (CBDC) podem fazer sentido, mas não acho que os Estados Unidos precisem fazê-las”, disse Furman, professor de economia da Universidade de Harvard.

Todos os participantes do painel rapidamente ficaram muito entusiasmados em compartilhar seus pensamentos sobre stablecoins e similares, apesar dos melhores esforços da moderadora, a editora-chefe adjunta do The New York Times, Rebecca Blumenstein, de tentar mudar o foco da discussão.

Toomey mencionou um projeto de lei que ele apresentou para regular as stablecoins, perguntando sobre o papel de uma CBDC em um mundo onde as stablecoins privadas florescem.

“Acho que devemos ter uma estrutura que permita que as stablecoins de emissão privada prosperem em uma organização racional e, se isso acontecer, não tenho certeza se precisamos de um dólar digital”, disse ele.

Outro painel focado na economia global também abordou a proposta de valor do Bitcoin (BTC) e de algumas outras criptomoedas.

“A geração mais nova diz que a geração mais velha desvalorizou o dólar ou o valor de outras moedas, então talvez algo novo não seja tão ruim”, disse David M. Rubenstein, cofundador do Carlyle Group, em um encontro que discutiu o futuro da economia global em meio a um crescimento econômico mais lento e as consequências das sanções.

Presença oficial

Os painéis oficialmente destinados a discutir criptomoedas foram muito mais profundos.

Garlinghouse e Allaire comentaram amplamente sobre o futuro das finanças e a necessidade urgente de clareza regulatória no mundo das criptos durante um encontro sobre remessas.

davos cripto
(Nikhilesh De/CoinDesk)

De acordo com Allaire, cuja empresa emite a moeda USD Coin (USDC), uma stablecoin atrelada ao valor do dólar americano, o mundo está se movendo para um lugar onde o conceito de pagamento transfronteiriço será tão “louco” quanto o conceito de e-mail transfronteiriço.

”Não pensamos em e-mails transfronteiriços. Não pensamos em ter uma sessão de navegação na web transfronteiriça, é absurdo pensar nisso. E acredito que estamos à beira disso com dinheiro. E acho que quando se trata de remessas, acredito que o conceito de remessa também desaparecerá”, disse Allaire.

Garlinghouse, cuja empresa Ripple está atualmente envolvida em uma ação movida pela Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) por causa da venda do token (XRP) em 2013, alertou que os governos controlam os sistemas financeiros e disse que é improvável que isso mude enquanto ele estiver vivo.

“A coisa que penso é que se você abordar os reguladores com ‘você precisa se adaptar a nós’, você morrerá já na chegada”, falou.

Respondendo a uma pergunta sobre a falta de certeza regulatória no setor de criptomoedas, Garlinghouse falou que a clareza regulatória é um problema que precisa ser resolvido, acrescentando que os EUA estão atrasados na criação de regras mais compreensíveis para o setor de criptomoedas.

“Eu digo não incorpore (sua empresa) nos EUA porque é onde alguns estão sendo hostis e incertos, e há muito mais clareza no Japão e em Cingapura, ou vá para a Suíça para investir globalmente com mais clareza. Mais certeza ajudará [a impulsionar a inovação], e também as remessas”, disse Garlinghouse.

Allaire, que participa da conferência de Davos desde 2008, disse ao CoinDesk que as criptomoedas atingiram um novo nível de destaque no WEF e as esperanças para o próximo ano já são altas.

Allaire encerrou o painel dizendo que daqui a um ano espera que o setor cripto venha à mesa com mais exemplos de soluções que funcionem para as pessoas.

Isso não quer dizer que os banqueiros centrais e os reguladores financeiros estejam apaixonados pela ideia de ativos digitais.

No palco principal do congresso do WEF, Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), disse que criptomoedas como Bitcoin não são dinheiro, mas ativos.

“Um pré-requisito para algo que seria dinheiro é ser uma reserva estável de valor”, falou.

Ela estava acompanhada por Axel P. Lehmann, presidente do conselho do Credit Suisse, Sethaput Suthiwartnarueput, governador do Banco da Tailândia e François Villeroy de Galhau, governador do banco central da França, para discutir CBDCs.

Um relatório recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), organização global responsável pela supervisão bancária, descobriu que nove em cada 10 bancos centrais em todo o mundo estão explorando o design e a emissão de CBDCs.

Olhando para fora

A Promenade, a avenida principal que leva aos painéis oficiais do WEF, está dominada por empresas de criptomoedas. A Filecoin, que promoveu uma festa de boas-vindas lotada no domingo, está em um santuário no início da rua, seguido por Circle a apenas algumas centenas de metros abaixo.

Entre outros grandes nomes de criptomoedas com lounges e programação própria estão Polkadot, Securrency, GBBC e Casper Labs, entre outros. Todos têm em comum uma coisa: grandes anúncios.

Em “2018, tudo girava em torno de castelos de criptomoedas, e agora é tudo sobre branding”, disse Sheila Warren, CEO do Conselho Cripto para Inovação (CCI, na sigla em inglês). “São empresas estabelecidas chegando a Davos como uma indústria.”

CoinDesk

CoinDesk é a plataforma de conteúdos e informações sobre criptomoedas mais influente do mundo, e agora parceira exclusiva do InfoMoney no Brasil: twitter.com/CoinDeskBrasil