“Andamos ao lado de um precipício”, diz Márcio Appel

Para o gestor, fundador da Adam Capital, ainda vale a pena ter ações brasileiras, mas não é o momento de fazer grandes apostas no país

Giuliana Napolitano

Márcio Appel, sócio fundador da Adam Capital

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No início de 2018, a gestora Adam Capital passou a investir na análise de grandes quantidades de dados com o objetivo de destrinchar – e tentar prever – cenários macroeconômicos. Em maio daquele ano, eclodiu a greve dos caminhoneiros, e boa parte das previsões se mostrou inútil.

A partir daí, a equipe da Adam, liderada por Márcio Appel, passou a dedicar mais tempo à análise da opinião pública – e de suas possíveis consequências para o país. “A maneira como o mundo forma opinião mudou. Em determinadas situações, como a greve dos caminhoneiros, pequenos grupos organizados passaram a ter grande influência e mudaram a trajetória da economia”, diz Appel. “Isso torna o cenário atual ainda mais incerto.”

Para Appel, a opinião pública está mais volátil e esse é um grande risco para o Brasil hoje, levando em conta que a economia está demorando mais que o esperado para engatar uma trajetória de recuperação. “Um crescimento baixo, com desemprego ainda alto, piora a avaliação do governo, como já vimos acontecer”, afirmou, durante evento para clientes da XP Investimentos na última sexta-feira, em São Paulo.

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“Quando as pessoas ficam desiludidas, tendem a perder o meio-termo. Se um ‘lado’ falha, migram para o outro extremo. Vimos isso em diferentes países. No caso do Brasil, o perigo é haver uma volta ao assistencialismo e uma aversão a reformas duras, como a da previdência, o que seria péssimo para a economia”, disse. “Esse é o precipício ao lado do qual andamos.”

O gestor acrescentou, no entanto, que não acredita num desfecho catastrófico. Na sua avaliação, o potencial de recuperação da economia é grande. Ainda não virou realidade, em grande medida, por conta da falta de crédito. “Os bancos privados estão aumentando a concessão de empréstimos, mas as instituições públicas continuam num processo de desalavancagem”, afirmou.

Além disso, na sua visão, os juros deveriam ser mais baixos para estimular a economia – e podem cair mais 0,5 ponto percentual no segundo semestre.

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Diante desse cenário – e de um ambiente externo complicado, o que influencia o Brasil –, Appel diz não ser o momento de “montar uma posição grande no mercado local”. “É hora de ter um portfólio equilibrado”, afirmou.

Os fundos da Adam continuam investindo em ações brasileiras, mas num volume menor que no passado. “A bolsa tem valor, só que já subiu bastante. Com esses preços e esse nível de riscos, é melhor ser mais cauteloso”, diz Appel. Os fundos da casa – que tem um total de R$ 28 bilhões sob gestão – mantêm ainda uma posição comprada em dólar em relação ao real, como forma de proteção.

Durante o evento, Appel lembrou também que, historicamente, em torno de 80% do retorno dos fundos da Adam vêm de investimentos no exterior. Lá fora, sua posição é vendida (ou seja, aposta numa desvalorização dos ativos). O motivo é que a maioria das economias está perdendo força. “Parece inequívoco que mundo está desacelerando”, disse Appel, mostrando um levantando que indica que apenas 24% dos países deverá ter crescimentos maiores do PIB em 2019.

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Appel conclui sua exposição dando um conselho aos investidores: “É preciso ter em mente que haverá movimentos bruscos ao longo do ano. Volatilidade é o cenário normal para o Brasil, e os altos e baixos devem ser ainda mais intensos neste ano. Mas é importante não se desfazer de uma aplicação por sofrimento, por não aguentar o vaivém. O foco deve ser o longo prazo.”

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Giuliana Napolitano

Editora-chefe do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre finanças e negócios. É co-autora do livro Fora da Curva, que reúne as histórias de alguns dos principais investidores do país.