Analistas veem operação “ganha-ganha” com compra da Mosaico pelo Banco Pan (apesar de movimentos bem distintos na Bolsa)

Mosaico terá oportunidade de venda cruzada com a base de clientes do Pan, enquanto banco acelera estratégia de criação de marketplace

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em uma decisão considerada estratégica por analistas de mercado, o Banco Pan (BPAN4) comunicou a aquisição da Mosaico (MOSI3), dona dos sites de comparação Buscapé e Zoom.

A transação será via troca de ações, com uma relação de troca inicial de 0,8 ações BPAN4 para cada 1 ação MOSI3.

No entanto, os acionistas de Mosaico também receberão um bônus de subscrição que pode ser convertido em um 0,17 ação BPAN4 caso as ações BPAN4 ultrapassem R$ 24,0 por três dias seguidos nos próximos 30 meses. Dessa forma, a transação implica em um prêmio entre 9,7% (assumindo que o bônus de subscrição vire pó) e 42% (assumindo que o bônus de subscrição seja exercido) sobre o fechamento de MOSI3 na sexta-feira (1).

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Os analistas de mercado têm destacado a operação como benéfica para os dois lados, ainda que as ações registrem movimentos distintos. Os ativos MOSI3 fecharam em alta de 5,55%, a R$ 13,32, após chegarem a subir 24% na máxima do dia, enquanto os papéis BPAN4 caíram cerca de 10% depois de chegarem a ter alta no início da sessão de 6%. A queda ocorre pontuada por baixas mais acentuadas de ações de empresas de tecnologia, que devem ser as mais afetadas num possível ciclo de alta de juros no país, receio que voltava a rondar o mercado.

Em relatório, Danniela Eiger, Gustavo Senday e Thiago Suedt, analistas da XP ressaltam que, do lado da Mosaico, o principal benefício é a oportunidade de venda cruzada com a base de clientes do Banco Pan, uma vez que este irá direcionar seus clientes para os sites da Mosaico ao incorporar o marketplace da companhia em seu aplicativo.

No segundo trimestre de 2021, a companhia acumulava 12,4 milhões de clientes versus a média mensal de 21,9 milhões de visitantes únicos da Mosaico. O movimento reforça ainda a oferta financeira da Mosaico, um braço que os analistas veem como bastante estratégico para empresas vinculadas ao setor de varejo.

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O Itaú BBA ressalta que a transação aumenta o potencial da Mosaico. Desde seu IPO em fevereiro, o ativo caiu 36%, em comparação com uma queda de 6% para o Ibovespa, sendo que recentemente os analistas da casa reduziram a recomendação para os ativos.

“Um dos principais desafios da empresa tem sido sua incapacidade de identificar totalmente o perfil do tráfego da plataforma. As plataformas de comparação de preços também têm perdido participação para os portais de cashback.
O Pan pode mudar o jogo a esse respeito: ele começará a canalizar clientes identificados de seu próprio aplicativo, enquanto
adicionam seus próprios produtos financeiros que provavelmente aumentarão os níveis de engajamento. O Pan já é significativo e a base de clientes de rápido crescimento provavelmente atrairá mais vendedores e melhorará os termos da taxa de aceitação, criando um ciclo positivo de tráfego”, avaliam os analistas.

Já para o Banco Pan, a aquisição acelera sua estratégia de criação do seu próprio marketplace, adiciona um time robusto de tecnologia (cerca de 300 pessoas do time Mosaico além dos seus três fundadores e novo CEO), além de acessar a base de clientes da Mosaico com oferta de produtos do Pan, como créditos e seguros.

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Guilherme Pacheco, chairman da Mosaico, irá para o conselho de administração do banco. Já José Guilherme Pierotti, cofundador da Mosaico, será head de e-commerce do Pan, enquanto José Guilherme Pierotti, também sócio da Mosaico, será diretor de e-commerce do banco.

Os analistas da XP ainda reforçam ser importante destacar que o BTG é o controlador do Banco Pan, com uma participação de 71,7%, enquanto também é um acionista relevante da Mosaico – o 2º maior com uma participação de 13,3%, atrás apenas de um dos co-fundadores da companhia, José Pierotti (participação de 15,8%). Além disso, o Banco BTG já é um parceiro de negócios da companhia desde janeiro de 2021, além de ter um histórico como credor antes do IPO (quando converteu suas debêntures em ações).

A transação faz parte da estratégia do Banco Pan para acelerar seu marketplace, com a Mosaico passando a oferecer produtos do banco para seus mais de 22 milhões de usuários que acessam seus sites mensalmente, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

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Além disso, o Banco Pan expandirá seu funil de vendas e aumentará suas competências em tecnologia através da Mosaico.

“Portanto, entendemos a transação como positiva para ambas as companhias”, apontam.

O Pan já possui uma parceria com o Méliuz (CASH3) para emissão de cartões, que corresponde a cerca de 10% dos cartões emitidos pelo banco. “A parceria com o Méliuz permanece, porém o foco total do Pan agora é na Mosaico”, destacam os analistas da Levante.

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Os analistas do Itaú BBA lembram inclusive que Pan e Méliuz se beneficiaram de sua parceria em cartões de crédito de marca compartilhada.

Méliuz serviu como um canal importante para a expansão da base de cartões de crédito do Pan ao mesmo tempo em que ganha dinheiro de clientes gerados pelo produto. “Nós acreditamos que um caminho semelhante poderia ser seguido por Mosaico e Pan em várias outras frentes, como compre agora-pague depois, seguros, carteira e empréstimos”, avaliam.

O banco passará a contar com ferramentas de varejo diversas como comparador e alertas de preço e crediário digital, sem precisar desenvolver tais ferramentas internamente.

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“Este negócio economiza tempo e dinheiro. Ele traz grande tecnologia, talento do e-commerce e uma plataforma que já conta com significativo fluxo de clientes e vendas de mercadorias brutas (GMV, na sigla em inglês, de mais de R $ 4 bilhões ao ano). Como a integração progride, não apenas o principal negócio legado da Mosaico deve melhorar, mas também o produto financeiro. É provável que surjam oportunidades de venda cruzada”, avalia o BBA.

Os analistas do banco possuem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para BPAN4, com preço-alvo de R$ 27, ou um potencial de alta de 56% em relação ao fechamento de sexta, enquanto tem recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) para os ativos MOSI3.

Já a XP removeu a recomendação e preço alvo para Mosaico uma vez que as ações devem negociar de acordo com a relação de troca da transação e não mais de acordo com fundamento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.