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SÃO PAULO – A forte queda das bolsas pelo mundo está levando a um sell-off generalizado para as ações dos mais variados setores, impactados diretamente ou não-relacionados à crise com o coronavírus.
Com isso, o Ibovespa fechou a última semana em forte queda de de 15,63%, a pior queda para o período desde 2008. A segunda-feira (16) também foi caótica para os mercados, com a B3 acionando o quinto circuit breaker desde a semana passada e fazendo com que praticamente nenhuma ação do Ibovespa ficasse no azul.
A recomendação agora é de cautela para os investidores, uma vez que o terreno é desconhecido e ainda é muito incerto o impacto da Covid-19 na economia global.
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Porém, em relatórios recentes, analistas de grandes instituições financeiras destacaram que a saída dos investidores de alguns papéis da bolsa brasileira parece um tanto exagerado – o que abre oportunidade para compra de ações tendo em vista o aspecto de um prazo mais longo. Além disso, mesmo com a queda recente, esses ativos não foram tão impactados na comparação com outros setores, como de petroleiras e aéreas.
Nos últimos dias, esses analistas reiteraram compras para ações de bancos, que sofreram no começo do ano em meio à maior concorrência, e também para os ativos do setor elétrico, reconhecidamente conhecidos como defensivos e que, desde o início da aversão ao risco com o coronavírus, eram vistos como papéis mais resilientes a choques da economia mundial.
Contudo, vale destacar que não quer dizer que essas ações não sofram mais na bolsa por conta da crise com o coronavírus, e sim que elas podem não sofrer tanto quanto as outras e/ou podem representar uma oportunidade já que elas também registram queda e não são tão impactadas pela crise causada pela pandemia. Confira abaixo as recomendações:
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Bancos: há lado bom na crise?
Em relatório datado do último domingo (15), o Morgan Stanley reiterou a sua recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para os American Depositary Receipts (ou ADRs) dos quatro maiores bancos brasileiros listados em bolsa – Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC3;BBDC4), Santander Brasil (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3).
Os analistas reiteraram as recomendações, mas não sem antes mensurar os impactos, ainda que indiretos, do coronavírus, nas ações, ao cortarem o preço-alvo dos ativos do Itaú de US$ 12 para US$ 9, do Bradesco de US$ 11,50 para US$ 8,50, do Santander de US$ 13 para US$ 9,80, e do BB de US$ 69 para US$ 55. Na avaliação da equipe de análise, esse corte ocorreu justamente por conta das expectativas mais pessimistas com o PIB e com a taxa de juros brasileira mais baixa.
Contudo, eles apontam que, comparado ao resto da América Latina, o Brasil é uma economia relativamente fechada – o que pode ser ironicamente positivo neste momento já que sua atividade pode ser menos impactada pela desaceleração mundial com o coronavírus. Ainda que seja grande o impacto, ele será bem menor na comparação com outros países vizinhos.
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Mesmo com o corte no preço-alvo, o potencial de valorização dos ativos é significativo de, respectivamente, 64%, 63%, 55% e 51% para os ativos do Itaú, Bradesco, Santander Brasil e Banco do Brasil, upside este que aumenta ainda mais em meio à forte queda dos ativos na sessão desta segunda-feira.
O principal risco negativo seria uma possível recessão; mesmo assim, avaliam, a relação risco-retorno parece atrativa. “Uma recessão impacta o lucro por ação do banco por meio de maior inadimplência e menor crescimento de volume, mas provavelmente não através de menor margem financeira, pois nossa equipe não acredita que há espaço para reduzir as taxas de juros para menos de 3,5% devido às dinâmicas desafiadoras de câmbio e inflação”, destacam.
Já do lado da inadimplência, a boa notícia é que os bancos criaram uma grande quantidade de
excesso de provisão para devedores duvidosos no quarto trimestre de 2019, aproveitando ganhos fiscais únicos, o que oferece um bom colchão para o ano, afirma o Morgan.
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Também com uma visão positiva, o Bradesco BBI elevou a recomendação das ações do Itaú Unibanco e do Santander Brasil de neutra para compra em relatório de sexta-feira, apontando ver risco de queda limitado para a estimativas do cenário de deterioração. Já o Banco do Brasil segue com recomendação neutra, pois o balanço de risco parece menos atraente. O preço-alvo para os ativos é de R$ 52 para o BB, R$ 38 para o Itaú e R$ 49 para as units do Santander Brasil.
Segundo a equipe de analistas, os bancos de grande porte devem continuar enfrentando condições bastante desafiadoras nos próximos anos, com margens mais baixas de intermediação financeira com a taxa de juros também baixa, e receita com tarifas desafiada pelo cenário de maior concorrência.
“Entretanto, por mais surpreendente que possa parecer, os grandes players estão sendo salvos e podem agora serem os melhores candidatos para os investidores terem em seus portfólios nessas turbulências do mercado”, afirma o Bradesco BBI. Isso porque a pior visibilidade e as incertezas econômicas crescentes devem reduzir o apetite ao risco das instituições, fazendo com que as margens diminuam de forma mais gradativa, atenuando uma possível deterioração da qualidade dos ativos.
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Além disso, ao realizarem uma análise de sensibilidade, apontam que os lucros dos bancos não devem ser impactados de forma material pelas perspectivas econômicas. “Em situações de perigo, os bancos do setor privado são vistos como ‘portos mais seguros'”. Soma-se a isso o fato de que, na avaliação dos analistas, “os ativos estão baratos demais para serem ignorados”.
Os analistas do Bradesco BBI e do Morgan Stanley também avaliam que, com a turbulência do mercado, o Banco Central pode definir outras prioridades ao invés da agenda intensificada no começo do ano para aumentar a concorrência no setor. “Embora consideremos positiva para o desenvolvimento do sistema como um todo, esta agenda naturalmente apresenta desafios para os grandes players”, afirma o Bradesco BBI.
De acordo com os analistas, isso não significa que o BC colocará a agenda em segundo plano, mas deverá avançar de forma mais gradual e cuidadosa, de forma a reduzir os efeitos colaterais em um cenário de deterioração para diversas classes de ativos. E isso pode dar mais tempo para os grandes bancos.
Elétricas: porto seguro – apesar da queda expressiva
Setor já citado como mais seguro desde que a crise do coronavírus começou a impactar mais fortemente o mercado, o setor elétrico continua chamando a atenção dos analistas, uma vez que segue em queda (ainda que menor), apesar de ser visto como um setor pouco impactado durante crises internacionais, já que grande parte das empresas já tem contrato para fornecimento de energia, levando a um fluxo de caixa mais estável para essas companhias.
Em relatório, o Credit Suisse destacou o sell-off do setor, com baixa de 23% desde a volta do Carnaval (26 de fevereiro) até a sessão da última sexta-feira, enquanto o Ibovespa caiu 27%.
Nesse contexto, a equipe de analistas destacou enxergar oportunidade de compra em alguns nomes com dividend yield (indicador calculado pelo dividendo pago por ação dividido pela cotação do papel) altos e níveis atrativos de retorno.
Nesse cenário, as companhias de transmissão aparecem como primeira opção como players defensivos, com destaque para Alupar (ALUP11) e Taesa (TAEE11) com alto nível de retorno. Além disso, são empresas que não seriam afetadas pelo PIB e uma maior inflação poderia levar a maior receita, compensando o impacto de maiores taxas no lucro.
Entre as distribuidoras, Neoenergia (NEOE3) e Energisa (ENGI11) são destacadas como as melhores opções e, em geração e renováveis, Cesp (CESP6) e Ômega Geração (OMGE3) possuem um alto retorno, com energia contratada totalmente pelos próximos quatro anos.
Novamente, o Bradesco BBI destaca o setor elétrico como atrativo no atual cenário. Entre as empresas de menor risco, eles também apontam a Taesa como uma ação muito defensiva e valuation atrativo, citando também a Alupar e a Cesp que, na avaliação da equipe de análise, estão sendo excessivamente punidas pelo mercado por seus baixos dividendos.
Já com relação às estatais Eletrobras (ELET3;ELET6) e Cemig (CMIG4), a primeira às voltas com o difícil processo de privatização, os analistas avaliam ver uma excelente relação entre risco e recompensa nos atuais patamares de negociação.
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