Analistas elogiam balanço da CSN, destacando melhor mix de vendas e margem Ebitda

Apesar do otimismo permear maioria das avaliações, JPMorgan se mostra menos entusiasmado e reitera underweight

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Anunciado na noite da véspera, o resultado da CSN (CSNA3) no segundo trimestre recebeu uma recepção bastante positiva dos analistas. A companhia reportou lucro líquido de R$ 894 milhões no período, alta de 167% na base anual. 

Mais do que o lucro, que foi impulsionado por uma alta do lucro bruto, vendas maiores de minério e de produtos siderúrgicos, os analistas chamaram a atenção para a margem Ebitda (relação percentual entre a geração operacional de caixa e a receita líquida) da companhia, que ficou em 46,4% no trimestre. “A margem Ebitda foi impressionante”, afirmam Alexander Hacking e Claudia Feddersen, do Citi. A Link também destacou que o número já veio “bastante acima da meta de 40% da companhia”.

Os ganhos nas margens reportados pela CSN foram o destaque da maioria dos relatórios. “Mais uma vez a CSN apresentou um bom resultado. Continua trabalhando com alto nível de produção e registrando contínuos ganhos de margem”, disse Antonio Emilio Ruiz, do BB Investimentos, que apontou ainda o ganho de margem bruta como uma surpresa positiva “A autossuficiência de minério fez a diferença”.

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Na conferência com analistas realizada nesta quarta-feira (11), a empresa reforçou sua aposta no mercado doméstico e na recuperação dos preços do minério de ferro exportado.

Minério de ferro
Apesar dos maiores volumes de vendas de minério e da alta nos preços da matéria-prima, o Citi ressaltou que o preço de realização do minério foi de cerca de US$ 76 por tonelada, abaixo do esperado e do preço mostrado no resultado da Vale (VALE3, VALE5) – que, cabe lembrar, também foi considerado baixo pelos analistas. “As vendas no segundo trimestre podem ter incluído algum volume repassado do primeiro trimestre, que pressionou os preços como um todo”, explica o banco.

O BB também destaca a maior participação do minério de ferro como um dos destaques positivos do resultado, enquanto a Brascan elogia a “boa evolução” nas vendas da commodity. “Além disso, cabe ressaltar que as exportações representaram 95% do volume comercializado pela CSN no trimestre, explica o analista Rodrigo Ferraz.

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Melhora no mix
Outro ponto que rendeu elogios dos analistas foi o melhor mix de vendas da companhia, com participação maior do mercado doméstico no resultado. “Os volumes de vendas de aço no 2T10 foram de 1.300 mil toneladas (…) este crescimento se deu graças ao mercado interno (+5% QoQ), fruto da forte demanda doméstica por aço”, afirma Luciana Leocadio, da Ativa.

Rodrigo Ferraz, da Brascan, também deu atenção a este ponto: “a empresa tem aumentado significativamente o volume para o mercado interno que, onde sabemos, há maior margem, além de diminuir sua exposição às incertezas do mercado externo”. 

“Outro ponto importante é a melhora das vendas para o mercado interno, onde a companhia consegue uma rentabilidade melhor, o mix de vendas no 2T10 subiu de 86,8% para 88,5%”, completa Leonardo Alves, da Link.

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JP: viés negativo
Ao contrários dos demais analistas, o JPMorgan recebeu o balanço trimestral da CSN com menos entusiasmo. Para Rodolfo De Angele, que assina o relatório do banco, as receitas da companhia vieram, de modo geral, em linha com o consenso, mas os custos acima do esperado pressionaram o Ebitda, que ficou abaixo das projeções do banco.

“Acreditamos que a alta dos custos esteja relacionada a maiores compras de carvão de terceiros e demais matérias-primas”, escreve o analista. A margem Ebitda da companhia, elogiada nos demais relatórios, veio abaixo da expectativa do banco (47,8%).

A Brascan também aponta diversos pontos negativos no resultado da companhia. Entre os principais, estão a alta no custo de produção unitário no segmento de siderurgia, uma elevação da dívida bruta e “forte queda” no volume de vendas de cimento.

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Ainda entre as críticas, o analista Leonardo Alves, da Link Investimentos, afirmou que apesar do “ótimo” desempenho operacional, a companhia mostrou uma demora na entrega da expansão da produção e vendas de minério.

Perspectivas e ações
“O cenário para o Brasil indica a continuidade dos altos níveis produtivos nos setores onde a empresa opera. Permanecemos otimistas em relação ao desempenho da empresa e aos seus diferenciais estratégicos em relação às perspectivas para o setor”, afirma o BB, que tem recomendação de compra para as ações.

Para a Brascan, que também tem recomendação de compra para os ativos, a atenção agora deve se voltar para a expectativa de aumento da produção e venda de minério de ferro, “uma vez que os preços do 3T10 devem ser substancialmente maiores do que o do trimestre reportado”. “Enfatizamos (…) sua exposição em minério de ferro, protegendo-a de futuros reajustes, além de beneficiar-se diretamente dos altos preços no mercado transoceânico”. Também devem ficar em foco a manutenção do direcionamento das vendas para o mercado interno, e as questões externas, como a China.

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“A expectativa para os próximos trimestres é bastante positiva, com uma melhora ainda maior dos preços médios praticados, que ajudará as margens a subirem ainda mais. O ano vem sendo muito bom para a CSN, e deverá melhorar ainda mais”, afirma Alves, da Link, que não alterou sua recomendação outperform para as ações.

O Citi manteve a CSN como top pick no Brasil, devido à sua exposição ao minério de ferro. A Link também não alterou sua recomendação de outperform para os papéis, classificando-os como “a principal opção para investimento na siderurgia brasileira, com ótima margem operacional, e perspectivas bem melhores que suas concorrentes”.

Dissonante dos demais analistas, o JP optou por manter sua recomendação underweight aos papéis. Segundo Rodolfo De Angele, analista do banco, a recomendação é baseada em maiores atrasos na expansão da Casa de Pedra, aumento da percepção de risco relacionada à estratégia de diversificação da companhia e valuations esticados.

“A CSN mostra um cenário desafiador para as siderúrgicas. Apesar da demanda seguir em alta no mercado doméstico, os estoques dos distribuidores seguem acima da média histórica”, completa o banco norte-americano.