Analistas dizem que Petrobras e Vale estão baratas, mas exposição política da petroleira torna investimento mais arriscado

Recomendação é ter maior exposição na Vale mesmo após a queda recente do minério, enquanto cenário é mais incerto para a petroleira estatal

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – As ações das duas maiores blue chips ligadas a commodities, Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3) estão descontadas tanto historicamente quanto em relação aos pares internacionais. Contudo, a mineradora é um investimento menos arriscado levando em conta o cenário atual para as duas blue chips, apontaram os analistas da XP Investimentos, RPS Capital e AZ Quest no evento Super Clássicos da Bolsa na última segunda-feira (22), realizado pela XP.

De acordo com Paolo Di Sora, gestor da RPS, o caso da petroleira tem um componente político muito maior, que acaba tornando o investimento mais arriscado. “Ninguém discute governo ou política de preços na Vale. O próprio [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] BNDES vendeu boa parte da participação que tinha na mineradora, tornando-a menos exposta a pressões políticas”, avalia.

Yuri Pereira, analista da XP, diz que fundamenta sua visão otimista a respeito da Vale na distribuição prevista de dividendos, que devem ter retorno de 9% a 10% sobre o preço da ação, e nos investimentos que a companhia vem fazendo para se tornar ambientalmente mais segura e sustentável depois das tragédias de Mariana e Brumadinho.

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“Enxergamos a Vale negociando a 2,8 vezes o múltiplo [valor de mercado dividido pelo lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] EV/Ebitda. Isso se compara a uma média histórica de 5 vezes, então, considerando que o minério de ferro daqui para frente seguirá a um valor elevado, vemos a ação como muito barata”, explica Pereira.

Paolo lembra que, apesar da queda recente no valor do minério por conta das medidas tomadas pelo governo chinês para mitigar a poluição no polo siderúrgico de Tangshan, é provável que a commodity retome seu movimento de alta no longo prazo.

“A Vale é quem produz o minério de melhor qualidade, que polui menos. Com o fechamento temporário dos alto-fornos, só vão sobreviver em Tangshan as siderúrgicas maiores e mais eficientes, que são o principal mercado da Vale”, defende.

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Já Caio Monteleone, analista da AZ Quest, destaca que a utilização de barragens nas operações da Vale está prevista para cair de 40% para 14% em um prazo de três a quatro anos. “Isso é transformacional. O descomissionamento das barragens ativas retira muita pressão que havia no meio ambiente e torna a empresa mais segura.”

Petrobras

No caso da petroleira, os analistas também enxergam que os múltiplos tornaram a empresa barata, porém recomendam baixa exposição ao papel.

Gabriel Fonseca, analista da XP, explica que o racional de sua recomendação de venda para Petrobras não é que todos os investidores deveriam operar vendidos na ação, mas que o percentual ideal que as pessoas podem ter de PETR3 e PETR4 em suas carteiras é um valor menor que os 8,7% de participação que a estatal tem na composição do Ibovespa.

“Para termos um patamar diferente da Petrobras precisaríamos de uma nova narrativa, de que todos os próximos diretores vão seguir o que está no estatuto, como é o caso da manutenção da política de preços com paridade em relação ao valor do petróleo no mercado internacional”, argumenta.

Mais otimista, Caio Monteleone diz que as sinalizações do general Silva e Luna, indicado pelo governo para presidir a empresa no lugar de Roberto Castello Branco, foram até agora de continuidade em relação à gestão anterior.

“A companhia depois das gestões de Pedro Parente, Ivan Monteiro e Castello Branco está mais blindada para disparidades e erros do que em 2013 e 2014, quando foi usada politicamente pela gestão da presidente Dilma Rousseff”, opina. Para ele, no médio e longo prazo os preços praticados pela Petrobras e a cotação do petróleo devem convergir.

Paolo concorda que há mais margem para surpresas positivas do que negativas para as ações da petroleira. De acordo com o gestor, o presidente Jair Bolsonaro deve continuar fazendo declarações que agradem à sua base de apoiadores, como é o caso dos caminhoneiros. No entanto, a Lei das Estatais aprovada no governo Temer e o estatuto atual da Petrobras limitam o nível de interferência política possível.

Além disso, segundo ele, o petróleo deve se manter operando em uma banda entre US$ 60 e US$ 65, pois isso garante um nível confortável de lucratividade para os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) ao mesmo tempo em que não torna os players de gás do xisto dos Estados Unidos tão competitivos. Assim, nem a Petrobras teria suas operações inviabilizadas por um petróleo muito barato, nem a pressão por reduzir o valor dos combustíveis seria tão grande.

“Sempre vai haver um desconto político na Petrobras, mas não é algo que justifique tanta diferença entre os preços das ações da estatal e de suas concorrentes internacionais”, conclui.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.