Análise: mercado demorou a entender que festa do subprime havia acabado

Dúvida sobre a exatidão dos balanços e da contabilidade dos bancos nos EUA é análoga ao caso Enron, diz analista

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SÃO PAULO – “Enquanto a música estiver tocando, você tem que levantar e dançar”, disse o ex-presidente do Citigroup, maior banco em ativos dos Estados Unidos, Charles Prince, durante entrevista no mês de julho deste ano, pouco tempo antes do ápice da crise do subprime.

Prince fazia uma referência para o enorme apetite da instituição pela grande exposição aos financiamentos em mercados superaquecidos. “Nós ainda estamos dançando”, afirmou.

Nas últimas semanas os mercados apresentaram uma expressiva recuperação. Alguns analistas arriscaram: “o pior da crise já passou”. Outros sugeriam que ainda seria prudente esperar pela emersão de alguns problemas ainda guardados na gaveta.

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Citi no centro do furacão

E foi isso que aconteceu. No centro do furacão, os grandes bancos norte-americanos, com perdas bilionárias. O caso do Citigroup ganhou notoriedade com a renúncia de seu CEO no último domingo.

O Citigroup afirmou que pode apresentar perdas de até US$ 11 bilhões devido aos problemas no crédito imobiliário de alto risco (subprime). A notícia sugere que mais bancos ainda podem anunciar perdas no segmento.

Lehman Brothers e Merrill Lynch estão entre os bancos que já informaram que registrarão perdas. O último, a exemplo do Citigroup, retirou o seu CEO, Stanley O’Neal, do seu quadro de funcionários.

Hora de deixar o salão

Bill Gross, famoso gestor da Pimco, uma das maiores administradora de títulos no mundo, compara a declaração de Prince com a de Irving Fisher, criador da Teoria quantitativa da moeda no início do século.

Fisher ficou mesmo popular, não pelo lado positivo, durante a crise das bolsas em 1929. O matemático relutou em assumir a dimensão dos problemas da época, negando que os preços dos ativos estavam muito elevados.

Para Gross, a declaração de Prince talvez não supere a de Fisher, mas irá satisfazer uma geração de modernos investidores e os seus líderes “que deveriam saber quando deixar o salão”, diz.

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“E para ser justo, havia milhões de investidores dançando no mesmo salão quando o Bear Stearns esclareceu as perdas com seus hedge funds, dando à festa o primeiro sinal de que aquela música seria a última”, diz.

Dúvidas e mais dúvidas

As revisões recentes das perdas de grandes bancos elevam a percepção de incerteza dos mercados, além da redução da credibilidade dos números expressos por grandes instituições financeiras.

“A situação com os bancos de investimentos é análoga com o que o mercado passou quando nós todos tivemos problemas com a Enron”, diz Andrew B. Busch, Estrategista Global do banco BMO (Bank of Montreal). “O mercado tem sérias dúvidas sobre a exatidão dos balanços e da contabilidade”, completa.

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“Os participantes do mercado continuam preocupados de que os problemas no setor financeiro possam se espalhar para o resto da economia”, diz Jerry Webman, Economista-chefe da OppenheimerFunds.