Amorim alerta para “novo Vietnã” caso EUA avancem militarmente sobre a Venezuela

Assessor de Lula critica fechamento do espaço aéreo venezuelano por Trump e diz que intervenção poderia arrastar toda a região para um conflito prolongado

Marina Verenicz

Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Celso Amorim, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

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O assessor especial de política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Celso Amorim, fez um alerta contundente sobre a escalada de tensões entre Estados Unidos e Venezuela.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Amorim afirmou que uma ofensiva militar norte-americana poderia transformar a América do Sul em um cenário semelhante ao da Guerra do Vietnã, com repercussões regionais e globais.

Amorim classificou como “ato de guerra” e “totalmente ilegal” a decisão recente do presidente Donald Trump de fechar o espaço aéreo venezuelano, e disse temer que a crise avance rapidamente.

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Ele afirmou que “a última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra” e que qualquer intervenção externa acabaria gerando resistência unificada, mesmo entre governos que têm divergências com Nicolás Maduro.

“Eu conheço a América do Sul, todo o nosso continente existe graças à resistência contra invasores estrangeiros”, destacou o diplomata. Amorim também argumentou que, se invasões passassem a ser justificadas por eleições contestadas, “o mundo estaria em chamas”.

Embora o Brasil não tenha reconhecido o resultado da eleição que manteve Maduro no poder, Amorim ressaltou que o governo Lula rejeita qualquer mudança de regime imposta pela força.

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“Se Maduro chegar à conclusão de que deixar o poder é o melhor para ele e para a Venezuela, será uma conclusão dele. O Brasil jamais imporá isso”, afirmou.

O assessor também ponderou sobre especulações de que Maduro poderia buscar exílio em outros países, incluindo o Brasil. Ele evitou confirmar qualquer possibilidade, mas lembrou que o asilo é uma “instituição latino-americana” e citou o caso do ex-presidente equatoriano Lucio Gutiérrez, acolhido pelo Brasil em 2005.

Amorim disse esperar que Trump adote uma solução diplomática para o impasse e sugeriu até a realização de um novo referendo na Venezuela, semelhante ao de 2004, quando Hugo Chávez foi mantido no cargo após consulta popular. “Não sei quem venceria agora”, afirmou.

As tensões entre EUA e Venezuela voltaram a subir nas últimas semanas, com o governo Trump elevando a recompensa pela captura de Maduro, movimentando navios de guerra para a região e acusando embarcações venezuelanas de tráfico de drogas. Segundo relatos mencionados pelo jornal, Trump teria dado um ultimato para que Maduro deixasse o país durante telefonema em 21 de novembro.