Americanas (AMER3) já vale quase o mesmo que empresa menor do mesmo grupo

Valor de mercado da AMER3 se aproxima ao da São Carlos, empresa criada pelo grupo nos anos 1980 para administrar os imóveis da rede

Estadão Conteúdo

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A queda livre das ações da Americanas (AMER3), após a revelação de um rombo de R$ 20 bilhões em seus balanços, provocou uma situação completamente inusitada: a varejista chegou a valer, na última semana, menos do que o negócio criado pelo grupo, nos anos 1980, para administrar os imóveis da rede, a São Carlos.

A inversão de posições, observada entre os dias 19 e 25, é surpreendente considerando a distância que ambas tinham até pouco tempo atrás. No dia 11 de janeiro, quando a Americanas informou um rombo contábil de R$ 20 bilhões que a levou à recuperação judicial, a rede valia 11 vezes mais do que a São Carlos na Bolsa de Valores.

Em 2020, auge do boom de ações de varejistas virtuais durante a pandemia, a diferença chegou a 50 vezes. Agora, elas oscilam em valores semelhantes, embora a varejista tenha terminado a semana levemente acima, após recuperação.

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A São Carlos é avaliada em R$ 842,4 milhões; a Americanas, em R$ 1,083 bilhão – em 2020, chegou a ultrapassar os R$ 100 bilhões.

O quadro mostra não só a corrosão do valor de mercado da gigante, como também o avanço do negócio de imóveis, fruto do olhar estratégico, até então admirado, do trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, sócios do 3G capital e principais acionistas da Americanas.

Juntos, os três protagonizaram uma das maiores ofensivas capitalistas brasileiras pelo mundo, ao comprar fatias relevantes em nomes como Kraft Heinz, Burger King e a dona da Budweiser. Até o ano passado, o trio ocupava o topo da lista de bilionários do País, com uma fortuna somada de cerca de R$ 160 bilhões.

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Crescimento

A São Carlos começou a operar em 1989 debaixo do guarda-chuva da Americanas. O foco inicial era comprar e administrar shopping centers para apoiar a expansão da rede no interior do País. No fim dos anos 1990, a divisão incorporou as lojas de rua, centros logísticos, além de outros imóveis da companhia, e foi separada do grupo.

A ideia teria partido de Beto Sicupira, segundo relata a jornalista Cristiane Correa, no livro Sonho Grande, sobre a ascensão do trio. O executivo era visto como um obcecado por corte de custos na varejista, marca que ficou famosa nas empresas administradas pelo grupo.

Separada, a São Carlos abriu capital na Bolsa e caminhou com as próprias pernas. Deixou o foco das lojas para trás e apostou em negócios mais robustos, como as torres corporativas e centros de conveniências (strip malls, no jargão do mercado). Hoje, o grupo é um dos maiores do setor de escritórios na B3, com 123 imóveis, avaliados em R$ 5,5 bilhões.

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Entre eles, estão o emblemático edifício João Brícola, no centro de São Paulo, famoso por abrigar lojas de departamentos, atributo pelo qual herdou o apelido de edifício Mappin. Há ainda uma torre na região da Faria Lima ocupada hoje pela Editora Globo. As ações da São Carlos estão em queda de 20% no mês, mas nada perto dos 88% das da Americanas. Procurada, a companhia não respondeu ao pedido de entrevista.

Controle

A companhia de imóveis São Carlos é controlada pelas famílias Sicupira, Telles e Lemann, com pouco mais de 53% do capital. Representantes do clã também participam do conselho de administração: Jorge Felipe Lemann e Marc Lemann, filhos de Jorge Paulo, além de Christian Telles, filho de Marcel.

No ano passado, a empresa registrou R$ 213 milhões em receitas e um prejuízo de R$ 70 milhões, segundo dados acumulados até o terceiro trimestre. Como comparação, no mesmo período a Americanas teve uma receita líquida de quase R$ 19 bilhões e um prejuízo de cerca de R$ 450 milhões.

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A São Carlos carrega ainda valores do modelo de gestão 3G, como o de “cultura do dono”, e vez ou outra faz negócios que remetem a sua origem. Ao fim de 2021, por exemplo, pagou quase R$ 400 milhões por 41 lojas de rua da Pernambucanas.

Mais recentemente, o grupo iniciou uma nova frente de negócios ao ingressar na locação residencial. “O setor de renda residencial é um dos maiores mercados do mundo, o maior do setor imobiliário nos Estados Unidos. Aqui, está crescendo e tem natureza segmentada”, afirmou ao Estadão/Broadcast o presidente da São Carlos, Felipe Goes, na ocasião do lançamento.

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