Ambipar (AMBP3) tem alta de custos, mas analistas destacam resiliência e companhia fala em “mercado aquecido”; ação salta 8,4%

Empresa ainda descartou planos, no médio prazo, de retomar IPO da Environmental ESG, mas que não afeta os planos de crescimento

André Cabette Fábio

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As ações da Ambipar (AMBP3) tiveram um forte desempenho nesta terça-feira (15), avançando mais de 8% após o resultado. Os papéis fecharam com alta de 8,42%, a R$ 33,99. 

A companhia, que oferece serviços e produtos completos voltados à gestão ambiental, reportou lucro líquido de R$ 52,3 milhões no no quarto trimestre de 2021, alta de 98,8% na comparação anual.

Segundo a empresa, o lucro líquido foi impulsionado pelo melhor lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), que cresceu 192%, totalizando R$ 185,9 milhões –alta impulsionada pela melhor performance do segmento de Environment, refletindo a captura de sinergias operacionais das aquisições feitas ao longo do ano.

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A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida), contudo, atingiu 27,3% no período entre outubro e dezembro de 2021, baixa de 0,9 ponto percentual frente à margem registrada no mesmo intervalo de 2021.

Em teleconferência com analistas para a apresentação de resultados, ao ser perguntado sobre o repasse de custos aos contratos com a alta de commodities, o CFO, Thiago Silva, afirmou que a empresa praticamente não tem exposição à alta da energia porque esses custos ficam majoritariamente com os próprios clientes.

Quanto aos combustíveis, afirmou que eles respondem por cerca de 5% dos custos, e que os contratos preveem reequilíbrio financeiro. Mas ponderou que “tudo cabe uma negociação e ela já foi iniciada” com os clientes.

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Para a Ativa Corretora, os resultados foram neutros, apresentando receitas exatamente em linha às projetadas com a modelagem da corretora.

Porém, apesar do aumento trimestral nos custos e despesas operacionais ocasionados pelas rubricas pessoal e combustíveis, a companhia conseguiu entregar uma margem Ebitda 1,1 ponto superior versus o 3T21, dando provas de sua resiliência mesmo diante de um cenário mais desafiador tanto no Brasil como no exterior, o que, por sua vez, impediu a obtenção de um resultado operacional ainda melhor. “Apresentando um resultado financeiro mais oneroso em função do crescimento de seu passivo financeiro e do CDI e assim, um lucro líquido inferior às nossas expectativas, classificamos seus resultados como neutros”, avalia a corretora.

Já para o BTG, a Ambipar apresentou outro conjunto de resultados sólidos, com Ebitda 5% superior à projeção do banco devido aos ganhos de sinergia das aquisições concluídas em 2021, principalmente no segmento de serviços ambientais.

Durante a tele, o CFO também ressaltou que não vê a retomada do IPO da Environmental ESG, braço da companhia que consiste em dar um destino a todo tipo de lixo industrial, no médio prazo. O processo foi suspenso em outubro de 2021 e Silva destacou que ele não foi adiante porque a empresa avaliou que o mercado não estava pagando um preço ideal.

Mesmo sem o IPO, o executivo pontuou que isso não afeta os planos de crescimento da empresa, que continua a avaliar qualquer possibilidade de financiamento para tanto. 

Mercado de crédito de carbono “aquecido”

O CFO da Ambipar afirmou que o mercado de crédito de carbono está “muito aquecido” desde a COP (Conferência das Partes sobre mudanças climáticas) da ONU, que trouxe nova visibilidade ao assunto. Ele disse que a empresa fez investimentos “assertivos” no braço Biofílica, comprado no terceiro trimestre de 2021, e já está praticando preços que eram modelados para daqui a três anos. 

Silva afirmou que a maior parte dos clientes da empresa neste mercado estão no Brasil. Mas disse que há interesse também em outros países na América Latina, ressaltando uma parceria com a British Petroleum no Peru.

Cristina Andriotti, CEO da Environmental ESG, afirmou que alguns setores, como o siderúrgico e o de mineração, vêm sofrendo maior pressão para apresentar planos de neutralização de emissões. Ela disse que desde a última COP há uma procura muito maior, “e a maioria das empresas fala em apresentar planos até 2030”.

Capex

Sobre a empresa de gestão ambiental Disau, cuja compra foi anunciada em junho de 2021 pela Ambipar, Thiago Silva disse acreditar que há perspectiva de captura de mais sinergias em 2022. 

O CFO da Ambipar afirmou ainda que há um “problema” no mercado de equipamentos, o que torna necessário antecipar investimentos (Capex em inglês) para garantir as compras. Em sua apresentação de resultados, a empresa apresentou Capex de R$ 192 milhões no quarto trimestre de 2021, dos quais R$ 35 milhões se referiram à antecipação de compras futuras, de forma a evitar ajustes de preços em máquinas e equipamentos. Ele diz esperar que o ano de 2022 seja tão difícil quanto o de 2021 neste quesito.

Silva afirmou que a empresa emitiu debêntures em janeiro, no valor de R$ 750 milhões, para garantir recursos e não deixar escapar oportunidades. A maior parte desses recursos deverá ser utilizada em fusões e aquisições, já que o crescimento orgânico é feito com caixa próprio. O enfoque no setor de “Response” (resposta a emergências) será principalmente na América do Norte, mas também na Europa. E no campo ambiental (“Environment”) o enfoque será na América Latina, em especial em valorização de resíduos na costa andina. 

Para 2022, Silva disse esperar uma razão entre dívida líquida e Ebitda de até três vezes.  

O diretor Yuri Keiserman afirmou que o enfoque em fusões e aquisições será sobre alguns países estratégicos com bom ambiente político nos quais a empresa já tem presença. A prioridade deve continuar sendo na América do Norte, nos Estados Unidos e no Canadá, que vêm remunerando com boas margens. Outros países destacados foram Reino Unido e Irlanda. 

“Provavelmente, mais da metade da receita da companhia virá do mercado externo”, afirmou. Ele disse que o ritmo de crescimento até o momento no primeiro trimestre indica um avanço maior em 2022 do que o observado em 2021. O executivo afirmou que o setor de environment deve se sair melhor do que o ano anterior.

Ambipar Response e concorrências públicas

Silva afirmou que houve queda no faturamento do braço Ambipar Response Brasil no quarto trimestre de 2021 frente ao anterior porque houve um atendimento excepcional no terceiro trimestre. Depois disso, os resultados foram normalizados, afirmou. 

Silva afirmou que não há nenhuma perspectiva de que a empresa participe de concorrências públicas, mesmo com oportunidades advindas do fechamento de lixões com o Marco do Saneamento, que prevê o encerramento desses locais de despejo até 2024.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney