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O Conselho de Administração da Ambev (ABEV3) aprovou a distribuição adicional de cerca de R$ 7,3 bilhões em dividendos (R$ 0,4612/ação) e R$ 4,2 bilhões em juros sobre capital próprio (R$ 0,2690/ação, antes de impostos).
Somando os dividendos trimestrais já pagos (R$ 6 bilhões) e o programa de recompra iniciado em outubro (R$ 2,5 bilhões), o retorno total ao acionista com base nos resultados de 2025 deve atingir R$ 20 bilhões, aponta o Bradesco BBI, equivalente a um payout (dividendo em relação ao lucro) de 130% do lucro líquido estimado (ou 144% do lucro ajustado) e um yield (rendimento) total próximo de 9%.
Apesar do volume expressivo, o BBI avalia que o adicional de 5,4% ficou aquém das expectativas mais otimistas do mercado para uma distribuição extraordinária mais agressiva.
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Com isso, as ações chegaram a cair mais de 3% nesta quarta-feira, sendo destaque de baixa do Ibovespa, mas fecharam com leve baixa, de 0,29%, a R$ 13,60.
Conforme destaca a equipe de análise do banco, a decisão reforça uma alocação de capital prudente, considerando o caixa líquido robusto (R$ 16,9 bilhões em 3T25) e o elevado custo de capital no Brasil.
O banco vê argumentos sólidos para evitar alavancagem: (i) captação de dívida em grande escala seria ineficiente; (ii) benefício fiscal limitado, dado o uso de créditos tributários; (iii) impacto marginal de antecipar ganhos antes da tributação de dividendos; e (iv) custo de capital elevado, especialmente frente à exposição global da ABI.
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Contudo, a ausência de uma política clara de dividendos e a sinalização de que não haverá mudança estrutural reduzem a previsibilidade de novas distribuições extraordinárias. Somado a isso, o cenário operacional segue desafiador, com indústria de cerveja mais fraca, pressão competitiva e custos crescentes.
“Com ABEV3 negociando a 14,3 vezes (x) o múltiplo P/L (preço sobre lucro) para 2026, um prêmio de 19% frente a pares globais, mantemos postura cautelosa e recomendação apenas neutra”, apontam os analistas do BBI.
O Goldman Sachs, embora reconheça que o nível de retorno ao acionista não seja desprezível, também acredita que pode ter ficado aquém das expectativas mais amplas do mercado.
O anúncio implica uma distribuição bruta de final de ano de R$ 11,4 bilhões, significativamente abaixo das expectativas do mercado para um pagamento mais agressivo entre R$ 10 bilhões e R$ 35 bilhões, mas acima da sua previsão de R$ 9,2 bilhões (principalmente devido à parcela de dividendos extraordinários). No total, o banco estima que o balanço da Ambev ainda deixaria espaço para até R$ 31,9 bilhões em pagamentos adicionais no futuro.
“Observamos que este é o segundo ano consecutivo em que as ações da Ambev subiram no final do ano com expectativas crescentes para uma reestruturação corporativa mais pronunciada via dividendos, recompra de ações ou fusões e aquisições — e também o segundo ano consecutivo em que essas expectativas foram frustradas”, avalia.
Na visão do Goldman, há mérito na decisão da administração, pois taxas de juros mais altas por mais tempo no Brasil limitariam qualquer benefício de proteger temporariamente os acionistas da próxima tributação sobre dividendos.
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“Acreditamos que as recentes mudanças nas regras de JCP e imposto de renda criaram um descompasso entre a urgência percebida pelos investidores e pela administração para ajustar a estrutura de capital da Ambev”, avalia.
O Goldman tem recomendação de venda para a Ambev e aponta que a principal objeção à sua tese de venda tinha sido o risco de um pagamento extraordinário significativo no curto prazo.
“Em nossa visão, a distribuição mais fraca do que o esperado no anúncio contribui para um cenário fundamental estruturalmente desafiador para 2026, no qual vemos um mercado bem penetrado, participação de mercado elevada, mudanças nos padrões de consumo, uma mistura de produtos mais sofisticada, aumento da oferta e da concorrência, erosão do valor da marca Skol e, mais importante, mais um ano em que a inflação de custos deve superar a inflação geral, forçando as empresas novamente a escolher entre crescimento e rentabilidade”, conclui o banco.
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