Heineken fará investimento bilionário em fábricas no Brasil: como isso impacta as ações da Ambev (ABEV3)?

Analistas do BBI destacam que notícia atenuou desempenho positivo das ações na véspera, por mais sinais de concorrência, mas eles seguem otimistas com ação

Lara Rizério

(Divulgação/Ambev)

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As ações da Ambev (ABEV3) tiveram forte volatilidade na sessão da última quinta-feira (4), na sessão de repercussão dos resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23). Os ativos fecharam em alta de 0,82%, a R$ 14,70, na esteira dos ganhos de margens divulgados, mas a ação da gigante de bebidas deixou as máximas de cerca de 5% registradas no início do pregão, fechando assim com ganhos bem mais modestos.

Conforme destaca o Bradesco BBI, a maior fraqueza das ações, que se deu no fim da manhã da véspera, coincidiu com a notícia de que a Heineken, rival holandesa do grupo, vai investir R$ 1,5 bilhão em duas fábricas na região Nordeste.

Do total, R$ 1,2 bilhão será destinado à unidade de Igarassu (PE), para triplicar a produção de marcas puro malte mais acessíveis, como a Amstel, que a companhia chama de categoria ‘mainstream’. Além disso, mais R$ 320 milhões serão destinados para a fábrica de Alagoinhas (BA), com o foco de aumentar a produção premium (marca Heineken) em 60%.

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O BBI observa que a Heineken tem enfrentado restrições de capacidade nos últimos anos, o que pode ter limitado o crescimento de seu volume, principalmente para sua marca emblemática de grande sucesso (também chamada Heineken).

Nesse sentido, avaliam os analistas, o anúncio dessa expansão da Heineken pode ter sido lido como negativo pelos investidores para a Ambev – cuja ação conta com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra, com preço-alvo de R$ 21,00) do banco – pois pode significar uma concorrência mais forte.

“No entanto, isso não muda nossa tese otimista para a Ambev, que se baseia na expansão de margem acima do consenso, uma vez que gradualmente se beneficia de custos de insumos mais baixos (os preços spot de trigo, milho, alumínio caíram significativamente) e preços de cerveja que são historicamente resilientes (nós esperamos que a Heineken continue focada em expandir a lucratividade no Brasil)”, avaliam os analistas da casa.

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Cabe ressaltar, contudo, que logo após os resultados do primeiro trimestre da Heineken, no fim de abril, o BTG Pactual reiterou visão cautelosa para a Ambev, principalmente de olho nos sinais de concorrência da brasileira com a holandesa.

Na ocasião, a Heineken informou que sua receita líquida no país cresceu cerca de 20%, impulsionada por preços, premiumização e crescimento de volume. O volume de cerveja cresceu um dígito alto, o que está “à frente do mercado”. Seu portfólio de cervejas premium e convencionais cresceu em cerca de 10%, liderado pelas marcas Heineken e Amstel, enquanto o portfólio de cervejas econômicas caiu um dígito alto.

Na avaliação do BTG Pactual na ocasião, este foi um forte desempenho de vendas e indicou que os volumes da Heineken superaram ou ficaram em linha com a Ambev pelo sexto trimestre consecutivo, depois de enfrentar desafios de produção e distribuição durante a pandemia.

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“O desempenho implícito de receita/hectolitro de mais de 15% também sugere que a Heineken continuou a entregar na frente de preço e mix à frente da Ambev”, avaliaram os analistas. Para eles, a Heineken conseguiu ganhar participação de forma consistente enquanto alavancava o impressionante valor de sua principal marca premium.

Já após o resultado da Ambev da véspera, o BTG reiterou os motivos de por que achava que seria difícil para a brasileira sustentar o forte ritmo de crescimento de volume dos últimos anos, e que o crescimento do resultado agora dependeria principalmente da capacidade de alavancar um maior poder de precificação como principal catalisador da alavancagem operacional e expansão das margens.

“De certa forma, os resultados do 1T23 demonstraram exatamente isso”, aponta, mas com os investidores devendo receber positivamente os números, uma vez que o balanço foi impulsionado principalmente por margens mais altas, em vez de crescimento de volume. “A questão é se isso resultará em muito sacrifício de participação de mercado, obrigando a Ambev a reconsiderar sua estratégia”, avalia o BTG.

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O banco segue neutro com ABEV3, com preço-alvo de R$ 16 para os ativos. Para os analistas da casa, uma tendência operacional mais forte no Brasil, aliada a um valuation que agora é descontado em relação aos pares globais, possivelmente dá às ações da Ambev uma das melhores propostas de valor em anos.

Por outro lado, ainda existem riscos associados à reforma tributária e ao macro da Argentina que exigem muito mais consistência da nova fase de precificação (mais forte) da companhia antes de haver revisões de altistas de lucros, ponderam.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.