Ambev (ABEV3) deve ter margens pressionadas no 1º trimestre, mas continua avançando em iniciativas digitais

Alta das commodities deve continuar pressionando papéis da cervejaria, que busca formas de ampliar margens

Vitor Azevedo

(Divulgação/Ambev)

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Abril foi marcado por uma forte queda do Ibovespa, que teve um recuo de 10,1%, o maior para um mês desde março de 2020. Se algumas companhias ajudaram a puxar o índice mais para baixo, caso da Vale (VALE3), por exemplo, com queda de mais de 12%, outras tiveram uma queda menor. É o caso da Ambev (ABEV3), que retrocedeu cerca de 6% e escapou de baixas em alguns dos dias mais sangrentos para o mercado brasileiro.

Em parte, para analistas, o que explica a questão de os papéis da cervejaria terem caído menos do que várias outras ações que compõe o Ibovespa foi o fato de eles já estarem, de certa forma, baratos.

“Olhar para a Ambev na faixa de R$ 14 ou R$ 15 já é ver um desconto embutido, com uma leitura de margens contraídas”, comenta Leonardo Alencar, head do setor de agro, alimentos e bebidas da XP Research. Para ele, as ações da companhia já precificam o atual cenário e para cair mais – ou subir – seria apenas no caso de uma aparição de gatilhos.

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A Ambev divulga seus resultados na próxima quinta-feira (5) e o esperado é que a empresa continue a trazer um balanço que mostre uma lucratividade comprimida. “Projetamos que o aumento contínuo dos preços das commodities afete negativamente as margens”, afirma Alencar.

A recente alta dos preços de várias das commodities, com a guerra da Ucrânia e com a inflação geral vista no mundo, vem pressionando os gastos da Ambev – estes já pressionados há algum tempo. O preço da tonelada do trigo, por exemplo, no dia três de maio do ano passado era negociado a US$ 725,5. Hoje, a mesma tonelada sai a US$ 1.043. A tonelada do milho saiu de US$ 732,5 para 804 na mesma base.

“Em 2020 a Ambev sofreu para manter as margens por conta da demanda, com bares e restaurantes fechados. Depois de 2020, iniciou-se uma problema no lado de custos, que permanece até então e que torna a oferta desafiadora. Há pressão por parte do preço das commodities agrícolas, como milho, trigo, cevada, e também do lado as matérias primas de embalagens, como PET e alumínio, bem como da operação de garrafas de vidro”, diz Alencar.

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A XP vê o início de 2022 como fraco para a companhia. A cervejaria, além das margens comprimidas, deve sofrer também por menores volumes, sentindo o impacto da Ômicron, que se espalhou no começo do ano, nas vendas.

Apesar disso, a corretora vê como provável que a receita líquida avance, com a Ambev colhendo frutos de suas iniciativas na frente de tecnologia e também da “premiumização” (maior participação das cervejas mais caras no portfólio).

Para o primeiro trimestre, a expectativa da corretora é que a receita líquida cresça 7% na base anual, chegando a R$ 17,7 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), contudo, deve recuar 5%, para R$ 5,04 bilhões – com uma margem de 28,4%, frente 32% no primeiro trimestre de 2021.

Apesar de lucros comprimidos, Ambev sai na frente na busca por expandir margens

“Em 2022 temos várias nuances, por isso o papel andando meio de lado. O mercado vê que abaixo, ou acima, do preço atual a ação só anda se tivermos um driver [catalisador] novo”, explica.

Para a XP, fatores como a maior circulação de pessoas podem beneficiar as ações da companhias – apesar de ser benéfico para todas as empresas do setor, a Ambev teria, agora, desenvolvido algumas iniciativas que a destacam frente às demais.

“O BeeS, marketplace business to business (B2B) da Ambev, é uma plataforma de vendas com um milhão de clientes, que já começa a trazer um diferencial competitivo, melhora de preço e capturar valor de mercado. “O cliente, neste caso bares e restaurantes, passa a ver valor no serviço e brigar menos por preço”, pontua o analista da XP.  “Neste ponto, a Ambev está muito à frente da média do setor”.

Para Livia Rodrigues, analista da Ativa Investimentos, as iniciativas digitais da Ambev são “importantes alavancas para que a companhia mantenha seu posicionamento no mercado, se a execução for correta”. A especialista, contudo, também ressalta que a cervejaria tem grande vantagem sobre seus competidores nesta frente, por ter saído na frente.

Volatilidade nas commodities e no dólar

O Bank of America, em relatório, também destacou que as iniciativas digitais da Ambev foram temas muito abrangidos no dia do investidor da companhia. Para a instituição americana, esses empreendimentos podem ajudar a levar a margem Ebitda da Ambev de volta para os 30% no longo prazo – o que configura parte de um cenário de alta para as ações.

Além do BeeS e do Zé Delivery, ajudaria na recomposição das margens da Ambev para o BofA uma possível queda do preços das commodities – a alta destes, por outro lado, também entra na descrição de um possível bear case, com a margem Ebitda chegando a 27,7%.

Recentemente, o que pode explicar certa resiliência das ações da Ambev é que algumas importantes variáveis que impactam negativamente as margens da companhia recuaram.

A tonelada do trigo chegou a tocar o valor de US$ 1.400 após o estouro da guerra da Ucrânia. Hoje, o preço da commodity está bem aquém, com mil quilos sendo negociados a cerca de US$ 1040, apesar de ainda estar bem acima dos patamares do pré-guerra, porém.

Contrato futuro de tonelada do trigo / Fonte: Reuters

“A gente vê um arrefecimento nos preços de algumas commodities que fazem parte dos insumos da Ambev, como alumínio e trigo, por exemplo, mas avaliando os preços em um horizonte de tempo maior, eles seguem acima do que era observado antes do conflito entre Rússia e Ucrânia”, comenta Livia, da Ativa.

O fortalecimento do real frente ao dólar no primeiro trimestre também é, para os analistas, um possível benefício para a cervejaria, com a companhia gastando menos na importação de vários dos produtos que compõe a sua cadeia produtiva. “Parte dos insumos da Ambev é importada, logo, a valorização do real contribuir positivamente para a margem bruta da empresa”, pontua Rodrigues.

A XP pontua ainda que a cervejaria tem um hedge com referencial referencial de aproximadamente R$ 5,40, com “qualquer coisa abaixo disso sendo favorável” ao resultado financeiro.

As ações da Ambev estão muito expostas a variáveis que são de difícil controle. Repassar custos acaba, para qualquer empresa, diminuindo seu volume de vendas, com consumidores procurando alternativas mais baratas. Ao mesmo tempo, não repassar implica em uma queda das margens de lucro.

“Em nosso bull case, assumimos que a participação de mercado da Ambev permanecerá no nível histórico vista em 2021, de 74%. No cenário base, esse número fica em 68,5%. Quando o assunto é receita por hectolitro, nosso cenário base assume um aumento anual de 100 pontos-base acima da inflação e o nosso bull case assume 200 pontos-base”, explicam os analistas do BofA.

A XP tem recomendação de compra para as ações ordinárias da Ambev, com preço-alvo em R$ 18,10, upside de 28,1% frente ao preço de abertura nesta quarta-feira, de R$ 14,12. O BofA se mantém neutro para as ações, com preço-alvo em R$ 14,68, com potencial de alta de 3,9%.

O Morgan Stanley, por sua vez, tem recomendação de underweight (exposição abaixo da média do mercado) para os papéis da cervejaria, com preço-alvo em R$ 12, número 15% menor do que o registrado hoje. Para eles, a grande questão é que em um ambiente de alta inflação de alimentos e de menor renda disponível, o consumo de cerveja deve cair. “Vemos um risco negativo para nossa premissa de volume estável para a indústria de cerveja no Brasil em 2022”, comentam os analistas do banco.

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