Alpargatas (ALPA4): resultados mostram “turnaround” complexo, mas há sinais positivos

Companhia está em processo de reorganização internacional mas apresentou melhor dinâmica de volume no Brasil

Camille Bocanegra

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Como esperado, a Alpargatas (ALPA4) trouxe resultados mais fracos e quedas de volumes no Brasil e no exterior em seu balanço divulgado na noite de quarta-feira (7). De acordo com analistas, nem mesmo a combinação de melhor preço e mix de produtos foi suficiente para compensar os números negativos do mercado internacional. Lá fora, o volume foi principalmente impactado pelo recuo de 60% na região EMEA (Europa, o Oriente Médio, e a África).

Para o JPMorgan, os resultados foram principalmente impactados pelo estoque ainda em processo de normalização, pela mencionada redução de volumes (com -3% para Brasil e -48% para exterior) e a desalavancagem operacional. O banco considera que baixas de matéria-prima e produtos acabados refletiram negativamente nos resultados contábeis apresentados.

Os analistas do banco projetaram que as ações iriam sofrer após os resultados; na véspera, os papéis fecharam em queda de 1,09%, cotadas a R$ 8,13. O banco tem recomendação neutra para ALPA4, com preço-alvo em R$ 9,00. A reação, contudo, poderia ser menor considerando a geração de fluxo de caixa positivo nos últimos 12 meses e as observações da administração de que os inventários de canais estão normalizados.

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Como ponto positivo, a análise destaca o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado que veio 7% acima das expectativas. A projeção era de que na teleconferência de comentário de resultados a administração mencionasse iniciativas para melhoria de rentabilidade, redução de estoques e melhor organização de processos da companhia.

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O Citi destacou os lançamentos contábeis e despesas não recorrentes novamente inesperados no balanço. A boa notícia do trimestre, de acordo com a análise, foi a geração de caixa, com a dívida líquida reduzida para R$ 551 milhões. O resultado mostra, contudo, que ainda existem desafios significativos para a recuperação da empresa.

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“Embora a melhoria no capital de giro e o alívio claro nos custos, excluindo os lançamentos contábeis, sejam sinais de progresso, ainda observamos uma operação com dificuldades, especialmente no negócio internacional. Na verdade, acreditamos que 2024 está prestes a ser outro ano desafiador para esta divisão, uma vez que a administração mencionou volumes de pré-encomenda abaixo das expectativas”, afirma o Citi, que recomenda Alpargatas como neutra, com preço-alvo em R$ 9,70.

O Bradesco BBI evidenciou em sua análise, para além dos mesmos aspectos negativos mencionados por outros analistas, as tendências positivas no Brasil para a companhia. Dentre elas, estão a margem bruta ajustada, que subiu para 45%, a diferença quase nula entre vendas para o varejo e vendas totais e a redução de R$ 265 milhões no endividamento líquido trimestral. O banco também considera o nome como neutro, com preço-alvo estabelecido em R$ 9,00.

“Os sinais positivos que identificamos nos resultados do 4T23 devem levar a uma recuperação suave de volumes, margens e geração de fluxo de caixa ao longo de 2024 e 2025, embora ainda estejamos incertos sobre o momento do ponto de inflexão dos resultados. Neste sentido, preferimos aguardar por consistência na execução antes de nos tornarmos otimistas em relação à história”, considera o BBI.

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Entre os destaques do balanço, os analistas Danniela Eiger, Laryssa Sumer e Gustavo Senday, do Research da XP, destacam que o nível de estoque continua a ser ajustado, com sell-in alcançando sell-out em números de pares. Outro ponto relevante, em especial considerando o impacto da queda de 48% no volume no exterior, é que a companhia está reorganizando sua operação internacional. A intenção é separar os mercados nos quais a Alpargatas está presente por meio de distribuidores daqueles que atua diretamente, com intenção de captar sinergias.