Agora os votos do Copom serão abertos ao público: o que isso traz de diferente?

Divulgação dos votos trará maior transparência ao comitê, mas também pode aumentar a pressão nas decisões, avaliam economistas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meados de maio, a diretoria do Banco Central aprovou a alteração no regulamento do Copom (Comitê de Política Monetária), passando assim a divulgar os votos de cada integrante do comitê a partir da próxima reunião – no dia 30 de maio. Essa mudanças promete gerar polêmica entre os economistas.

De um lado, estão aqueles que acreditam que essa mudança é positiva, gerando maior transparência para as decisões, enquanto o outro lado aponta que isso levará a maior intervenções do governo sobre as decisões de política monetária.

Os prós…
De acordo com Inês Filipa, economista-chefe da Icap Brasil, a decisão é bastante positiva, indo em linha com as políticas do , o Federal Reserve, e outras autoridades monetárias. Dentre as consequências, a economista aponta que, com a maior transparência das decisões do Copom, haverá uma menor especulação do mercado sobre quem tomou qual decisão.

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Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos ressalta ainda que, com a maior transparência, haverá uma melhora por parte da autoridade monetária em ancorar as expectativas do mercado. “Com essas mudanças, consequentemente o BC conseguirá monitorar melhor as suas decisões e melhorar as suas discussões acerca dos rumos da política monetária do País”, ressalta.

… e os contras
Do lado negativo, Rosa ressalta o fato de o BC ainda não contar com uma plena autonomia na composição de seu júri, o que pode levar a eventuais constrangimentos em meio a pressão do poder político. Entretanto, o economista afirma que essa postura não existe nas decisões realizadas pela atual gestão de Alexandre Tombini. “A postura da gestão atual do BC sempre foi bem clara nesse momento de crise, e o presidente tem se mostrado correto em suas decisões”, avalia Rosa.

Apesar de haver conversa entre o BC e o governo sobre as decisões, o economista-chefe da SulAmérica afirma que é normal que haja negociações entre as partes, uma vez que ambos os lados tem que ser considerados nas decisões de política monetária da autoridade monetária.

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Jason Vieira, analista econômico da Cruzeiro do Sul Corretora/Apregoa.com, apresenta visão oposta em relação aos outros economistas. Segundo Vieira, a decisão só seria positiva caso o Banco Central apresentasse autonomia em relação às suas decisões, como em outros países. Nesse caso de um autoridade monetária mais independente, a transparência dos votos seria um preceito.

“Entretanto, como o BC não apresenta autonomia em suas decisões, essa mudança servirá como instrumento de pressão política do governo sobre a opinião dos colegiados”, avalia Vieira. Assim, o analista econômico espera que dê continuidade a uma maior pressão sobre a autoridade para a continuidade do corte de juros, ainda mais em um cenário em que haverá divulgação do voto de cada colegiado, afirma Vieira.

Poucas mudanças efetivas no mercado
De acordo com o economista-chefe da SulAmérica, o mercado financeiro como um todo pode ser impactado por essa mudança. Entretanto, afirma, não haverá diferenças em relação às decisões de política monetária, sendo que o maior ganho será em informação e enriquecimento. 

Inês afirma que, mesmo sendo positivo, a transparência maior do BC não gerará grandes alterações. “Não haverá muitas mudanças nas decisões, uma vez que já há um consenso sobre que votos cada integrante do Copom deu nas reuniões”, conclui a economista. 

Para Inês e Rosa, a divulgação dos votos do Copom também não levará a um maior interesse das pessoas que já não acompanham o mercado financeiro. “Isso não levará mudanças nem popularizará um mercado que já não é conhecido pela maior parte do público, que não enxerga de maneira clara as decisões do BC de forma prática em suas vidas”, afirma Rosa.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.