Argentina não muda cenário positivo para o mercado brasileiro, mas pode nos dar uma lição, aponta Bredda

Gestor da Alaska Asset aponta bom momento para comprar ações e que Selic em baixa vai impulsionar os brasileiros a buscarem a renda variável

Lara Rizério

(Flavio Santana/Biofoto)

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SÃO PAULO – A perspectiva da volta de um governo de esquerda na vizinha Argentina, por mais que não seja uma notícia positiva para o mercado brasileiro (o que foi sentido na sessão da última segunda-feira, com queda de 2% do Ibovespa), não altera a perspectiva positiva para os investimentos no nosso País. 

Esta é a avaliação de Henrique Bredda, co-fundador da Alaska Asset. A gestora é responsável por um dos fundos de ações com melhor desempenho do mercado, o Alaska Black FIC FIA BDR Nível I, que registra ganhos acumulados de 22,50% até julho, ante ganhos de 15,84% do Ibovespa. 

Ele destacou em entrevista ao InfoMoney que o cenário-base bastante otimista para o mercado brasileiro pouco mudou com a grande possibilidade da chapa Alberto Fernández – Cristina Kirchner ser eleita após vencer por 15 pontos de diferença a chapa do presidente Mauricio Macri. 

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Há temores de que medidas intervencionistas – amplamente utilizadas no período dos ex-presidentes Nestor e Cristina Kirchner – sejam retomadas, como o controle de acesso ao dólar e a concessão de subsídios em serviços como transporte e energia.

Assim, Bredda avalia que algumas empresas brasileiras que possuem bastante exposição em Argentina podem ser afetadas, como é o caso de Alpargatas (ALPA4), que vende 20% da sua produção para o país, Metal Leve (LEVE3) que tem entre 10% e 12% das vendas para a Argentina. De modo geral, contudo, não haverá tanto impacto. 

Mas é possível tirar lições do que ocorrido no último domingo com os nossos vizinhos, aponta o gestor. “Está bem claro para a população, o governo e o Parlamento o que significaria um retrocesso. Os preços dos ativos despencariam”, avalia. 

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Segundo Bredda, há dois cenários caso a chapa de esquerda vença a eleição na Argentina: i) endereçamento dos problemas econômicos, com Alberto Fernández assumindo como uma espécie de “Lula de 2002” ou ii) dobrar a aposta e agravar seriamente os problemas do país vizinho.

Neste caso, “pode acontecer como na Grécia, onde o [ex-premiê Alexis] Tsipras teve que voltar atrás [no discurso] e fazer as reformas que o Parlamento Europeu e o BCE estavam pedindo”, aponta Bredda. 

Razões para o otimismo com a bolsa brasileira

Para sustentar o otimismo com o mercado de ações brasileiro, Bredda destaca que os tempos de ganhos fáceis com a renda fixa estão ficando para trás com a Selic na mínima histórica de 6% ao ano e perspectiva de redução ainda mais forte nos próximos encontros do Comitê de Política Monetária (Copom).

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Assim, deve haver uma migração de investimentos cada vez maior para o mercado de ações.  Para ele, os brasileiros vão liderar esse movimento, comprando os papéis que hoje estão nas mãos de investidores estrangeiros. 

“O brasileiro irá à Bolsa por necessidade e oportunidade”, avalia o gestor. A sua visão é de que o Ibovespa ainda está barato, pois as ações de blue chips como Petrobras (PETR3;PETR4), Vale (VALE3) e grandes bancos têm andado de lado. 

De acordo com o gestor, os investidores foram muito para small caps de olho nas maiores perspectivas de rentabilidade, mas o rali dessas empresas está com os dias contados. “Comprar small e medium caps é barato e fácil, mas vender é difícil. Hoje o maior desconto está nos preços das ações mais líquidas”, diz. 

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Henrique Bredda aponta ainda que o mercado antecipará o momento de melhora no ambiente de negócios para o qual se caminha no Brasil.

“As reformas estão encaminhadas, reduzindo o tamanho do Estado, e com maior previsibilidade, o setor privado está timidamente ocupando o espaço do governo nos investimentos produtivos”, comenta. 

Por outro lado, se as concessões em logística, energia elétrica e outros setores que são gargalos ao desenvolvimento brasileiro caminham bem, o gestor admite que uma nova greve dos caminhoneiros poderia ser o calcanhar de Aquiles da gestão Bolsonaro. 

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O presidente tem como forte base a categoria, que só abandonou a paralisação de 2018 após a gestão Temer criar uma tabela para os fretes, que gerou reclamações do agronegócio. 

Contudo, mesmo para esse caso, Bredda tem uma mensagem animadora: “sobrevivemos à greve de 2018 e sobreviveríamos a uma nova também.”

Ciclo de alta para o mercado 

Assim como o seu sócio, o também fundador do Alaska Asset Management, Luiz Alves Paes de Barros, destacou recentemente o seu otimismo para as ações brasileiras. 

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Durante painel no treinamento “Do mil ao milhão”, do Primo Rico (Thiago Nigro), que ocorreu neste fim de semana em São Paulo, Luiz Alves, uma das figuras mais lendárias do mercado, apontou que estamos vivendo um momento positivo para o investidor em bolsa. 

Ele destacou que o mercado funciona por ciclos, que duram entre 6 e 7 anos. O último de alta foi em 2007 e, posteriormente, houve uma forte queda dos mercados, momento este “em que não podia se fazer nada”.

Agora, contudo, em meio às mudanças na agenda econômica, Luiz Alves aponta que estamos no início de um “grande ciclo de alta”, que vai “multiplicar em dólar por muitas vezes o mercado”.

Se em um ambiente de queda “não se pode fazer nada”, em momentos de alta da Bolsa, com o Ibovespa acima dos 100 mil pontos como o de agora, Luiz Alves afirma que o investidor não pode se desligar: “qualquer notícia negativa é ótimo [para comprar mais]”. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.