Ibovespa vira para alta seguindo exterior, mas com cautela diante do cenário político

Mercado não tem forças para sair do zero a zero na volta do fim de semana; Focus mostra queda para 5,75% nas projeções para a Selic

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa opera em leve alta nesta segunda-feira (17) com o mercado voltando sem força do fim de semana, à espera de novidades na tramitação da reforma da Previdência. Os investidores aguardam pelo desenrolar das notícias de que Paulo Guedes, ministro da Economia, busca negociar ajustes ao texto da reforma da Previdência após ter criticado as alterações feitas pelo parecer do relator Samuel Moreira (PSDB-SP). 

Às 11h11 (horário de Brasília) o principal índice da B3 tinha leves perdas de 0,22% a 98.334 pontos, enquanto o dólar comercial tem variação negativa de 0,42% a R$ 3,8822 na compra e a R$ 3,8829 na venda. O dólar futuro para julho avança 0,22% a R$ 3,891. 

O câmbio apagou alta depois da divulgação do índice Empire State de manufatura nos Estados Unidos. O dado sofreu uma queda de 8,6% em junho depois de subir 17,8 pontos em abril. As expectativas eram de alta de 11%. 

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No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2021 tem alta de dois pontos-base a 6,01%, ao mesmo tempo em que o DI para janeiro de 2023 registra ganhos de cinco pontos-base a 6,97%. 

No exterior, preocupa o desenrolar da guerra comercial entre Estados Unidos e China, com uma possibilidade cada vez maior de que o presidente Donald Trump eleve para 25% as tarifas sobre mais US$ 300 bilhões em produtos chineses. Apesar disso, lá fora as bolsas norte-americanas sobem entre 0.15% e 0,81%. 

Entre os indicadores, o Relatório Focus mostrou pela primeira vez no ano que os economistas esperam um crescimento menor que 1% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. De 1% na semana passada, a mediana das projeções colhidas pelo Banco Central recuou para 0,93% agora. 

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Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os economistas esperam um aumento de 3,83%, contra 3,85% na semana anterior. A taxa de câmbio se manteve em R$ 3,80.

A grande mudança, contudo, foi nas projeções para a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, que foi revisada de 6,5% (patamar atual) para 5,75%, refletindo as apostas embutidas nos juros futuros de queda da taxa. 

Por outro lado, o mercado pouco reage à demissão do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, que foi defendido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). 

Noticiário corporativo

A Petrobras (PETR3; PETR4) fez em Sergipe sua maior descoberta desde o pré-sal, em 2006. De seis campos, espera extrair 20 milhões de m³ por dia de gás natural, o equivalente a um terço da produção total brasileira.

Divulgada no mês passado, a descoberta deve gerar R$ 7 bilhões de receita anual à estatal e sócias, calcula a consultoria Gas Energy, cita o Estadão. Na avaliação do governo, a conquista pode ajudar a tirar do papel o esperado “choque de energia barata” prometido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes e “reindustrializar” o País.

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) elevou de R$ 100 mil para R$ 200 mil a multa diária para a Vale (VALE3) por conta das atividades na mina de Onça Puma, no Pará. Desde março, a desobediência da Vale já rendeu R$ 19,5 milhões em multas.

Peritos apuraram que setores de metalurgia e beneficiamento estavam em pleno funcionamento. Segundo o MPF, as atividades cercaram por todos os lados três aldeias indígenas na região do Cateté, no sudeste do Pará. No total, são 14 empreendimentos extraindo cobre, níquel e outros minérios.

Segundo o jornal Valor Econômico, a ODB, holding do grupo Odebrecht, deverá formalizar hoje o seu pedido de recuperação judicial, com dívidas de R$ 80 bilhões. Se confirmada, será a maior recuperação judicial já homologada no Brasil, à frente da requerida pela Oi, de R$ 64 bilhões.

Do total das dívidas, mais de R$ 50 bilhões são financeiras, detidas ou garantidas pelas holdings e subholdings. Os seis maiores bancos estão os maiores credores, além de detentores de bônus emitidos fora do País.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BTOW3 B2W DIGITAL ON 32,26 +3,56 -23,23 20,27M
 IRBR3 IRBBRASIL REON 96,88 +3,50 +19,10 134,69M
 GOLL4 GOL PN N2 31,28 +3,17 +24,62 30,05M
 JBSS3 JBS ON 21,52 +1,85 +85,70 31,50M
 MGLU3 MAGAZ LUIZA ON 215,05 +1,64 +19,43 74,07M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CSNA3 SID NACIONALON 16,44 -1,97 +95,12 35,00M
 TIMP3 TIM PART S/AON 10,88 -1,45 -6,98 5,02M
 VIVT4 TELEF BRASILPN 49,54 -1,43 +12,46 7,26M
 KROT3 KROTON ON 10,34 -1,34 +17,60 7,25M
 SMLS3 SMILES ON 45,50 -1,28 +11,63 3,43M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

BNDES e Previdência

O destaque no final de semana foi o pedido de demissão do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, após ter sido alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro no sábado, em função da nomeação do advogado Marcos Barbosa Pinto para o cargo de diretor de Mercado de Capitais do banco de fomento. No sábado, Bolsonaro afirmou: “Levy, demite esse cara na segunda ou eu demito você sem passar pelo Guedes (ministro da Economia)”.

Barbosa Pinto trabalhou como assessor do BNDES durante o governo PT, de 2005 a 2007, o que irritou Bolsonaro. Ele foi chefe ainda de gabinete de Demian Fiocca na presidência do BNDES (2006-2007). Fiocca era considerado, no governo federal, um homem de confiança de Guido Mantega, ministro da Fazenda nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. O próprio Levy foi ministro da Fazenda de Dilma entre 1º de janeiro e 18 de dezembro de 2015, primeiro ano do segundo mandato da petista.

Em entrevista ao portal G1, Paulo Guedes disse entender a “angústia’ de Bolsonaro com a situação. “Eu entendo a angústia do presidente. É algo natural ele se sentir agredido quando o presidente do BNDES coloca na diretoria do banco nomes ligados ao PT”, disse o ministro da Fazenda.

Uma das promessas de campanha de Bolsonaro era abrir a “caixa-preta” do BNDES em relação a empréstimos polêmicos, como os feitos para Cuba e Venezuela. “Ninguém fala em abrir a caixa-preta e ainda nomeia um petista”, disse Guedes.

Em nota, Levy declarou que sua expectativa é que o ministro da Economia aceite sua demissão. No comunicado, ele deseja a Guedes “sucesso nas reformas”.

Entre os cotados para assumir o cargo, segundo o Estadão/Broadcast, estão Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central que assumiu a presidência do conselho do BNDES neste ano, e Salim Mattar, secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia. Também estão no páreo Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do banco, e Solange Vieira, funcionária de carreira do BNDES e atual presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

A forma como Levy foi demitido gerou diversas reações. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se disse “perplexo” pela forma como Levy foi demitido. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, ele afirmou que a impressão no Congresso é a de que a equipe econômica continua participando da “usina de crises”. Segundo Maia, Levy era um quadro de qualidade que tinha a acrescentar para garantir as reformas.

A Folha pontua que a demissão foi vista com preocupação pela indústria, gerando expectativas em relação ao seu sucessor e temor de interferência política. Já o Estadão ressalta que a demissão foi mal vista no mercado financeiro, com críticas de pesos pesados do setor, que viram como desnecessária a postura, que pode afastar a atração de bons nomes para compor o governo.

O UOL, por sua vez, diz que a CPI do BNDES quer explicações de Levy e que uma convocação será apresentada hoje pelo Podemos, para que o economista fale sobre a chamada “caixa preta” dos empréstimos internacionais.

Bolsonaro e Governo

O presidente da República, Jair Bolsonaro, usou as redes sociais ontem para dizer que o governo estuda reduzir o imposto para produtos de tecnologia. Segundo ele, a intenção é fomentar competitividade e inovação. Bolsonaro afirmou que o imposto poderia cair de 16% para 4%, “para estimular a competitividade e inovação tecnológica”. A intenção é reduzir os impostos sobre importação de produtos de tecnologia da informação, como computadores e celulares.

No sábado, Bolsonaro disse, ao ser questionado sobre a reforma da Previdência, que a “a bola está com o parlamento”. “Na nossa bancada, PSL, a gente orienta de uma forma. Se perder no voto, paciência. Vamos respeitar”, disse ele neste sábado, 15, ao deixar o Palácio da Alvorada.

Questionado sobre as declarações por vezes polêmicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, ele disse que isso “é natural”. “Em casa a gente briga as vezes, com filhos”, disse. No entanto, elogiou o ministro. “Ninguém duvida da capacidade do Paulo Guedes”, afirmou.

Bolsonaro afirmou ainda no final de semana, após novos diálogos vazados publicados pelo site The Intecept, que “não existe 100% de confiança” sobre Moro. O presidente, entretanto, defendeu o legado de Moro no combate à corrupção. Na sexta à noite, o site informou que, em supostas conversas, Moro sugeriu aos procuradores uma ação para rebater a defesa do ex-presidente Lula por um “showzinho” da defesa do ex-presidente.

A Folha destaca que Bolsonaro intensifica “fritura” de aliados às vésperas da ida de Moro ao Senado federal para dar explicações sobre os vazamento de conversas com membros da força-tarefa da Lava Jato, como forma de evitar a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso.

O jornal destaca que o clima de “fritura” iniciou com a demissão do ministro da secretaria de governo, general Santos Cruz, se seguindo a de Levy, do BNDES. Tudo isso, em meio às insatisfações de Guedes, com o texto do relator da reforma da Previdência.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.