Ibovespa cai e dólar sobe de olho em vazamentos contra Moro

Mercado tem dia de queda após áudios comprometerem o ministro da Justiça quando ele ainda era juiz da Lava Jato

Ricardo Bomfim

Ações em queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta segunda-feira (10), com investidores preocupados com os efeitos que podem ter no governo – principalmente na tramitação das reformas – os vazamentos de mensagens trocadas pelo ministro Sérgio Moro com o procurador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol. Há temores acerca da possibilidade de que as próximas reportagens do Intercept sobre o tema tragam revelações mais comprometedoras.

O principal índice da B3 caiu 0,36% a 97.466 pontos, mas ficou longe da mínima do pregão, quando bateu 96.782 pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 11,103 bilhões. 

Enquanto isso, o dólar comercial teve leve alta de 0,18% a R$ 3,8834 na compra e a R$ 3,8846 na venda. Enquanto isso, o dólar futuro com vencimento em julho subia 0,32% a R$ 3,8955. 

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Lá fora, as bolsas internacionais fecharam em alta, impulsionadas pelo acordo comercial entre Estados Unidos e México, condicionado às providências que o país latino-americano prometeu tomar para conter a imigração ilegal. Foram suspensas, então, as tarifas de 5% que os EUA impuseram sobre produtos mexicanos. 

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2021 cai dois pontos-base a 6,25%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 ficou estável em 7,17%.

Na principal notícia do dia, Moro teria discutido com o procurador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, sobre a possibilidade de se inverterem as fases da operação ou diminuir o intervalo entre elas, para pressionar os políticos investigados.

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Dallagnol, por sua vez, lamentou em grupo de procuradores uma decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), de permitir a entrevista da jornalista Mônica Bergamo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os membros do Ministério Público teriam comemorado depois, quando a liminar foi suspensa pelo ministro Luiz Fux. 

Apesar dos ruídos, o presidente da Comissão Especial da reforma da Previdência, Marcelo Ramos (PL-AM), garantiu que será feito um esforço para blindar a reforma da Previdência. “Os vazamentos não afetarão o calendário da reforma”, afirmou. Ramos, no entanto, disse que a questão é “gravíssima”, porque “atenta contra o Estado Democrático de Direito”.

Segundo Lucas Monteiro, operador de multimercados da Quantitas Gestão de Recursos, o mercado brasileiro diminuiu o descolamento com o exterior diante da falta de impactos práticos das denúncias sobre o andamento das reformas. 

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“O que é positivo é que os deputados querem blindar a reforma da Previdência e  o cronograma está mantido”, diz. Contudo, Monteiro aponta que essa situação é provisória, pois novos vazamentos podem ocorrer e prejudicar ainda mais o ministro, que é o mais bem avaliado do governo Bolsonaro. 

“Tirando o pessoal do Intercept que tem esse material na mão, ninguém sabe o que mais pode chegar para impactar o governo. Ainda nos mantemos com o risco de cauda de material mais comprometedor sendo divulgado”, avalia. 

Ainda na política, sobre a reforma, a leitura do relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) sobre a Previdência foi adiada para quinta-feira (13). Antes o parecer estava previsto para hoje. 

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Relatório Focus 

A estimativa do mercado financeiro para o crescimento da economia neste ano chegou a 1%, após 15 reduções consecutivas. É o que mostra o boletim Focus, resultado de pesquisa do Banco Central (BC) a instituições financeiras, divulgado às segundas-feiras.

A projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – desta vez foi reduzida de 1,13% para 1%.

Já a estimativa de inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), caiu de 4,03% para 3,89% este ano, foi mantida em 4% para 2020 e em 3,75% para 2021 e 2022.

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Para o mercado financeiro, a Selic deve permanecer no seu mínimo histórico de 6,50% ao ano até o fim de 2019. Para o fim de 2020, a projeção caiu de 7,25% ao ano para 7%. 

A previsão do mercado financeiro para a cotação do dólar permanece em R$ 3,80 no fim de 2019 e de 2020.

Noticiário corporativo

No noticiário corporativo, destaque para a Petrobras (PETR3; PETR4) entrou com três ações no Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) deu andamento a ações que deveriam estar travadas por ordem do STF, envolvendo o método de cálculo para benefícios previstos em acordo coletivo firmado em 2007.

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Em junho do ano passado, a Petrobras foi derrotada na maior ação trabalhista da história da companhia, quando o TST concordou com trabalhadores que pediam novo método de cálculo para benefícios previstos no acordo de 2007.

À época, se estimou que a mudança pode causar impacto de R$ 15 bilhões pelos pagamentos passados e ainda adicionaria R$ 2 bilhões anuais na folha de pagamento da Petrobras.

A Vale (VALE3) reiterou, em comunicado, a provisão de US$ 1,855 bilhão destinada ao processo de desativação das barragens a montante, que utilizam a mesma tecnologia da barragem de Brumadinho (MG).

Em maio, ao publicar o balanço referente ao primeiro trimestre deste ano, a Vale explicou que o plano de acelerar a desativação das barragens a montante, comunicado às autoridades no fim de janeiro, resultou em provisão de R$ 7,137 bilhões.

A companhia área Avianca pode ter seu fim sacramentado hoje, quando está prevista sessão de julgamento do Tribunal de Justiça, diz a Coluna do Broadcast. A expectativa é de que a corte dê um veredicto sobre a realização do leilão dos slots (autorizações de pouso e decolagem) da empresa, que está em recuperação judicial desde dezembro de 2018.

Moro e Lava Jato

O site The Intercept publicou ontem trechos de mensagens atribuídas a procuradores da Lava Jato e ao ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro. Segundo o site, procuradores, entre eles Deltan Dallagnol, trocaram mensagens pelo aplicativo Telegram com Moro sobre assuntos investigados pela operação. Na semana passada, Moro relatou que teve conversas de seu celular hackeadas ilegalmente.

De acordo com o Estadão, a Polícia Federal investiga há cerca de um mês ataques aos celulares de Moro e de procuradores que atuam nas forças tarefas da Lava Jato em Curitiba, Rio e em São Paulo. Nas conversas, supostamente, Moro teria combinado orientações para a atuação das investigações da Lava Jato.

Segundo o The Intercept, há conversas escritas e gravadas com Moro sugerindo mudanças da ordem de fases da Lava Jato, além de aconselhar, fornecer pistas e antecipar uma decisão a Dallagnol. O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, disse que esse tipo de comunicação só deve ocorrer nos processos, com a devida publicidade, afirmou ao Estadão.

A força tarefa da Lava Jato afirmou, em nota, “não saber exatamente ainda a extensão da invasão”, mas que possivelmente foram copiados “documentos e dado sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança” dos integrantes do grupo e de suas famílias.

Previdência e Bolsonaro

O relator da reforma da Previdência na Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), afirmou ontem que irá apresentar seu parecer na próxima quinta-feira, dia 13, para ter tempo de discutir os termos da proposta com governadores e líderes partidários. Inicialmente, a expectativa era de que o documento pudesse ser apresentado na terça-feira, 11.

O deputado se reuniu na noite deste domingo com lideranças de nove partidos, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho. No encontro, os parlamentares discutiram pontos do texto que ainda não têm apoio efetivo no Congresso, como o regime de capitalização e as regras de transição para quem está próximo de se aposentar.

Moreira pretende se reunir com os governadores na próxima terça-feira para discutir a permanência de Estados e municípios no texto da reforma. A maioria dos mandatários é favorável à manutenção, mas alguns deputados temem que, ao votarem favoravelmente à proposta, podem se desgastar com suas bases eleitorais.

O deputado afirmou ainda que o adiamento na apresentação do relatório não deve impactar no calendário estabelecido inicialmente para a votação da reforma na comissão especial, que deve acontecer até 15 de junho, e no plenário da Câmara até o recesso de julho. “O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está confiante na formação de uma maioria”, disse.

Em entrevista conjunta ao jornal Folha de S.Paulo, Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) se posicionaram contra o decreto que flexibiliza o porte de armas, criticaram as propostas que alteram as leis de trânsito, se manifestaram contrariamente à política ambiental de Bolsonaro e disseram que o projeto anticrime do ministro Sérgio Moro não é prioritário.

Maia e Alcolumbre afirmaram ainda que Bolsonaro terá “de nos aturar por dois anos e vice-versa”. Os parlamentares acrescentaram ainda desconhecer qualquer pauta importante do governo superar a crise econômica, além da reforma da Previdência – que apoiam com entusiasmo –, e avaliam que, mesmo sem ter uma base sólida, o governo não caí; mas terá problemas para aprovar a agenda que propõe ao País.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar ontem que se o Congresso não aprovar o Projeto de Lei nº 4 (PLN 4), que prevê a concessão de um crédito suplementar para o governo no valor de R$ 248,9 bilhões, não haverá dinheiro para o pagamento de benefícios para aposentadorias, Bolsa Família, Pronaf e Plano Safra.

“Se não aprovar teremos problema. Não é que eu não queira pagar ninguém, não vai ter dinheiro”, afirmou. Questionado sobre se o recurso destinado ao pagamento dos benefícios já não estava previsto no Orçamento, o presidente respondeu: “Está, mas a receita está bem abaixo do previsto”.

O jornal O Globo destaca ainda a PEC, que deve ser aprovada essa semana, alterando os prazos para tramitação das Medidas Provisórias (MPs) no Congresso exigirá mais capacidade de articulação do governo. Levantamento da publicação informa que apenas 12 das 206 MPs editadas desde 2015 pelo Planalto teriam sido aprovadas dentro do novo cronograma.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.