Estrangeiros tiram R$ 4 bilhões e Bolsa resiste. O que esperar agora?

Mais do que apenas a Previdência, um fator técnico será essencial para que a Bolsa suba nos próximos meses

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Podemos considerar que maio foi um bom mês da bolsa brasileira. Apesar da alta de apenas 0,7%, foi o primeiro maio positivo dos últimos 10 anos, superando também a queda dos mercados internacionais. Contudo, o movimento de saída do investidor estrangeiro do País, iniciado na eleição do ano passado, foi intensificado.

Apenas em maio, o saldo estrangeiro na bolsa ficou negativo em R$ 4,16 bilhões, segundo dados da B3. E, se o gringo segue temeroso com o cenário brasileiro, coube ao investidor institucional o papel de retomar o otimismo e sustentar a alta do índice no mês passado.

Segundo James Gulbrandsen, sócio da gestora NCH Capital, nos últimos meses houve uma forte alocação destes grandes investidores na renda fixa. Mas, com a queda recente da taxa de juros, os fundos tiveram de se realocar, retornando para o mercado de renda variável e ajudando na melhora do desempenho das ações.

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Ed Kuczma, gestor responsável por fundos de ações da América Latina da BlackRock, reforça esta visão, explicando que, “embora os investidores estrangeiros possam ter sido vendedores líquidos em maio, o mercado está bem apoiado por investidores brasileiros marginais que aumentaram sua exposição em ações, já que os retornos de investimentos de renda fixa se tornaram menos competitivos”.

Estrangeiro ainda não quer se arriscar
Desde o início do ano, mesmo com a Bolsa superando a marca de 100 mil pontos, o investidor estrangeiro já demonstrava estar reticente com o Brasil, evitando tomar posições aqui enquanto não saíssem notícias concretas sobre a reforma da Previdência e melhora da economia. E o cenário externo também não ajuda.

“À medida que aumentam as tensões comerciais, isso afeta o apetite dos estrangeiros por ativos mais arriscados, como os mercados emergentes”, explica Kuczma, ressaltando que a capacidade do governo de impulsionar as reformas será um sinal claro para os estrangeiros retornarem ao País.

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Brunella Isper, gestora de investimentos do fundo Aberdeen, vê dois fatores bases para esta retomada, um na aprovação da reforma da Previdência e outro nas consequências disso, como a efetiva recuperação econômica.

“Uma vez que houver maior clareza quanto a aprovação da reforma e mais otimismo quanto a retomada do crescimento econômico do país, eu acredito que haverá um maior potencial para a valorização de ativos na bolsa local, impulsionado por fluxo tanto de locais, quanto de estrangeiros”, afirma.

Kuczma lembra ainda que, diante do fraco crescimento, o mercado passa a especular que o Banco Central pode cortar a Selic para ajudar a estimular a economia, “mas a aprovação da reforma é um obstáculo necessário a ser aprovado para manter a estabilidade da moeda brasileira”.

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“A aprovação da Previdência deve liberar uma série de portas necessárias para facilitar o crescimento econômico e maiores retornos no mercado de ações local”, conclui.

Saída não é só culpa da política
Apesar do grande peso da reforma no humor do investidor, James, da NCH, explica que existe um movimento técnico também por trás desta saída do estrangeiro. Segundo ele, os mercados internacionais estão sendo “dominados” por ETF (sigla em inglês para Exchange Traded Funds), que são fundos que acompanham índices.

O gestor explica que, quando um investidor reduz sua posição em um ETF de mercados emergentes, está incluso no pacote o Brasil. E, diante de um cenário externo mais tenso, com investidores buscando ativos mais seguros, o que ocorre é uma redução de exposição nestes emergentes, o que pressiona o mercado brasileiro também.

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“Hoje vejo uma menor relação [da saída do estrangeiro] com a Previdência e mais com um movimento técnico … Lá fora está muito arriscado”, explica.

Por conta disso, ele já vê um impacto menor da aprovação da reforma na Bolsa. “A aprovação da Previdência vai ser fantástica, mas o principal vem depois”, diz ele, lembrando que será preciso esperar os impactos do retorno do investidor estrangeiro efetivamente para ver um movimento mais forte do Ibovespa.

“Se o MSCI aumentar sua exposição no Brasil, isso pode puxar o mercado”, afirma. Os índices MSCI (Morgan Stanley Capital International) são utilizados como referência para diversos fundos passivos de investimento ao redor do mundo, sendo que suas composições tendem a movimentar os mercados a que estão relacionados.

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James afirma que há cerca de 10 anos, o Brasil era responsável por uma fatia entre 10% e 15% do índice MSCI de Mercados Emergentes, enquanto hoje são apenas 7%. Se o índice voltar a aumentar exposição, a tendência é que isso puxe as ações brasileiras para cima também.

No cenário da aprovação de uma reforma da Previdência robusta, com economia de R$ 1 trilhão como quer o governo, o gestor vê o Ibovespa “superando os 100 mil pontos fácil”, sem dar uma projeção exata de pontuação.

Por outro lado, ele acredita que se for uma reforma mais próxima com a da proposta por Michel Temer, com uma economia entre R$ 600 e R$ 700 bilhões, haverá pouco impacto no mercado no curto prazo, deixando a possibilidade de alta mais forte da Bolsa para este movimento mais gradual de volta do investidor estrangeiro para o Brasil.

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Por enquanto, a combinação da queda dos juros tirando a atratividade da renda fixa e o maior otimismo interno com a Previdência está sustentando a recuperação da Bolsa brasileira. Mas será preciso mais do que apenas a aprovação da reforma para que o estrangeiro também decida colocar o seu dinheiro no País.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.