Ibovespa futuro cai quase 1% e dólar sobe com mau humor externo

Índice segue o movimento das bolsas internacionais após ameaças de Trump contra o México e dados fracos da China

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – O Ibovespa futuro opera em queda nesta sexta-feira (31) seguindo o mau humor externo em meio às ameaças do presidente americano Donald Trump contra o México e aos dados fracos da economia chinesa, indicando uma contração impactada pela guerra comercial.

Às 9h13 (horário de Brasília), o índice futuro operava com queda de 0,87%, aos 96.950 pontos, enquanto o dólar futuro com vencimento em junho tinha avanço de 0,14, a R$ 3,987. O dólar comercial, por sua vez, subia 0,23%, cotado a R$ 3,9881 na venda.

Não bastasse o efeito da guerra comercial com a China, com efeitos inegáveis sobre a atividade global, Trump, anunciou ontem que o país irá impor uma tarifa de 5% sobre todos os bens importados do México até que o fluxo migratório ilegal de imigrantes cesse. As tarifas, porém, poderão subir cinco pontos porcentuais, por mês, se a “crise” de imigração ilegal persistir, podendo chegar a 25% em 1º de outubro.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Enquanto isso, a atividade manufatureira da China dá mais sinais de desaquecimento, com os dados de maio do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) indicando contração, impactados, segundo analistas, pela guerra comercial com os Estados Unidos, que afetou o sentimento dos consumidores e das empresas chinesas.

No Brasil, com a confirmação de uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, de 0,2% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a possibilidade de liberação de aproximadamente R$ 22 bilhões de recursos de contas inativas do FGTS pode trazer algum alento à economia ainda em 2019.

Bolsas Internacionais
As bolsas europeias operam em queda e os índices asiáticos fecharam em baixa após mais um movimento do presidente Donald Trump de retaliação comercial, ampliando os temores de uma recessão global.

Continua depois da publicidade

Em um comunicado, divulgado após os tuítes de Trump, a Casa Branca informou que o aumento das tarifas contra o México valem a partir de 10 de junho, reforçando que a alíquota cobrada subirá cinco pontos porcentuais por mês se a “crise” de imigração ilegal persistir, podendo chegar a 25% em 1º de outubro.

“As tarifas ficarão permanentemente no nível de 25% a não ser e até que o México pare substancialmente o fluxo ilegal de imigrantes entrando por meio do seu território”, afirma o republicano. “Se o México não agir, as tarifas permanecerão em um nível elevado, e as companhias localizadas no México podem começar a retornar aos Estados Unidos para fabricar seus produtos e bens.”

Na China, o PMI do setor industrial recuou de 50,1 em abril para 49,4 em maio, segundo dados oficiais do Escritório Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês). O resultado abaixo de 50 indica que o setor manufatureiro se contraiu neste mês, à medida que os pedidos de exportações diminuíram em meio à crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos. Analistas consultados pelo The Wall Street Journal previam redução menor do PMI industrial chinês em maio, a 49,9.

Na Europa, o PIB italiano avançou 0,1% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, mas recuou 0,1% na comparação anual. Já na Alemanha, as vendas no varejo sofreram queda de 2% em abril ante março, no cálculo com ajustes sazonais, segundo dados divulgados hoje pela agência de estatísticas do país, a Destatis.

Entre as commodities, o preço do petróleo tem forte desvalorização, seguindo rumo à sua maior queda mensal em seis meses, com o aumento das tensões comerciais pesando sobre a perspectiva da demanda. O minério de ferro também recua nesta sexta-feira.

Noticiário Político e Econômico
O destaque político fica por conta da apresentação de um texto alternativo à reforma da Previdência, pelo Partido Liberal, antigo PR, endossado por 180 deputados. A legenda abriga o deputado Marcelo Ramos, que é presidente da comissão especial da reforma da Previdência. As emendas apresentadas modificam pontos centrais da proposta do ministro da Economia Paulo Guedes, mantendo as aposentadorias rurais e o BPC inalterados, além de mexer no regime de capitalização. Caso seja aprovado, a economia do governo recuariam de R$ 1,2 trilhão para R$ 700 bilhões em uma década.

Ainda na política, o jornal O Estado de S.Paulo destaca que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, pode sofrer um novo revés no Congresso, diante da possibilidade de o grupo de trabalho que analisa o seu pacote anticrime excluir dois itens da proposta. A maioria dos parlamentares é contra manter, no texto, o chamado excludente de ilicitude – que isenta policiais de punição em caso de homicídios em serviço – e o cumprimento de pena em condenação em segunda instância. Dos dez deputados que integram o grupo, seis disseram ao Estadão ser contrários aos dois pontos.

Manifestações contra o contingenciamento de verbas para a Educação ocorreram ontem em cerca de 100 cidades de 25 Estados e no Distrito Federal, diz o Estadão, enquanto a Folha estima que os protestos ocorreram em 95 cidades. Já o Valor Econômico cita que os protestos ocorreram em 131 cidades. Os atos foram convocados por entidades de estudantis e reuniram menos gente em comparação às manifestações do último dia 15, quando haviam sido organizados por sindicatos de professores. Os protestos acontecem cinco dias após os atos pró-governo do presidente Jair Bolsonaro.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, acusou professores de coagir alunos a participar dos atos e conclamou pais a denunciá-los. Ele ameaçou, ainda, cortar o ponto dos professores. Segundo a Coluna Painel da Folha, a nota do MEC desautorizando pais, alunos e professores a estimularem e divulgarem os protestos contra sua política foi visto como um declaração de guerra ao setor por políticos experientes, que antes apostavam no arrefecimento dos atos. A medida do MEC poderá ser questionada e para o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, viola o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outros dispositivos legais.

Na economia, o destaque é a confirmação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que recuou 0,2% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, e com o anúncio, por parte do ministro Paulo Guedes, de que o governo estuda a liberação de aproximadamente R$ 22 bilhões de recursos de contas inativas do FGTS, após a aprovação da reforma da Previdência. Segundo o Estadão, o pacote incluiria a possibilidade de saque das contas do PIS/Pasep e seria um fôlego para o consumo e para a redução do endividamento das famílias.

Diante do resultado do PIB do primeiro trimestre e as perspectivas desanimadoras para o segundo trimestre, analistas e economias já passaram a cortar suas projeções de expansão do PIB deste ano para um patamar inferior a 1%. Cresce no mercado ainda as apostas de que o Banco Central possa retomar o seu processo de corte dos juros. A fraca atividade econômica poderia levar a revisões para baixo nas próximas semanas das taxas de inflação para o ano que vem.

Noticiário corporativo
O destaque corporativo fica por conta do anúncio de ontem à noite de que a BRF e a Marfrig avaliam uma combinação dos negócios entre as duas companhias. As empresas assinaram um memorando de entendimentos vinculante, estabelecendo regras e condições de acesso a informações que permitam a análise da possível viabilização da transação. O valor de mercado combinado das duas empresas é de cerca de R$ 28 bilhões, com faturamento anual na casa de R$ 76 bilhões.

O memorando prevê um período de exclusividade de 90 dias, prorrogáveis por 30 dias, durante o qual nenhuma das partes poderá iniciar negociações com terceiros. No âmbito dessa análise, a BRF e a Marfrig deverão avaliar, junto aos seus respectivos assessores financeiros, legais, contábeis e outros, os efetivos benefícios econômicos que possam advir de eventual transação, e, ainda, a estrutura societária mais eficiente a ser adotada.

A BRF diz que a transação, se ocorrer, irá “reduzir a exposição da empresa aos riscos setoriais e gere sinergias, em virtude do equilíbrio e complementariedade de produtos, serviços e diversificação geográfica com relevância no Brasil, Estados Unidos, América Latina, Oriente Médio e Ásia”. A companhia espera ainda que isso ajude na redução da alavancagem financeira e adequação da estrutura de capital.

O comunicado destaca ainda que não existe uma estrutura societária definida para a fusão, que pode “incluir a consolidação dos ativos das duas companhias e de suas bases acionárias em uma nova sociedade”. Pelo acordo, os acionistas da BRF terão 84,98% da nova empresa, enquanto os da Marfrig ficarão com 15,02%.

Ainda no noticiário de empresas, o juiz do Foro Central Criminal da Barra Funda, Fabio Pando de Matos, determinou a condução coercitiva contra o presidente do Banco Santander, Sérgio Rial, para que ele preste depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito da Sonegação Tributária, na Câmara Municipal de São Paulo. O depoimento está marcado para a próxima quinta, 6, às 11h, no Palácio Anchieta. A decisão se estende a outros executivos do banco. Segundo o magistrado, eles serão ouvidos na condição de testemunha e terão direito ao silêncio.

O Santander afirma que “está em situação de regularidade fiscal com o município de São Paulo, e que a convocação de 15 executivos da instituição pela CPI ocorre mesmo após todos os esclarecimentos já terem sido prestados anteriormente, e sem que novas informações possam ser acrescentadas – portanto, o Banco recorrerá da decisão”. “Em 2018, o Santander e suas coligadas recolheram ao município de São Paulo cerca de R$ 430 milhões em ISS, o equivalente a 60% do que é recolhido em todo o País pelo grupo, e R$ 36 milhões em IPTU”, afirma o banco.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.