ADRs têm “suspiro” com Fomc, mas viram para queda após fala de Powell

Com feriado na B3, investidores acompanham movimento dos papéis de empresas brasileiras negociados nos Estados Unidos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após operarem em queda durante boa parte do dia, os ADRs (American Depositary Receipts) de empresas brasileiras negociados nos Estados Unidos chegaram a virar para alta na tarde desta quarta-feira (1), em meio confirmação de que o Federal Reserve manteve a taxa de juros norte-americana na faixa entre 2,25% e 2,50.

O movimento, porém, durou pouco, e os papéis voltaram a operar em queda com as falas do chairman Jerome Powell indicarem chances pequenas para cortes nas taxas locais, como vinha precificando o mercado.

Às 15h48 (horário de Brasília), o índice Dow Jones Brazil Titans 20, um dos mais monitorados pelos investidores em dias sem negociações na B3, operava em queda de 1,45%, a 23.433 pontos. Entre as principais quedas, destaque para os papéis de Petrobras (PETR4), Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e BRF (BRFS3).

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No comunicado da decisão, o Fed adicionou avaliação mais positiva sobre o desempenho da economia norte-americana. “Informações recebidas desde a reunião do Fomc em março indicam que o mercado de trabalho continua forte e a atividade econômica cresceu a uma taxa sólida”, diz o texto.

Outro fator destacado no documento foi o desempenho da inflação. Em uma base de 12 meses, o índice geral e o indicador fechado para alimentos e energia caíram e estão abaixo de 2%.

A notícia, em um primeiro momento, foi bem recebida pelos investidores e se traduziu em queda nos yields dos treasuries e aumento dos ganhos no mercado acionário. Porém, indicações dadas pelo chairman do Fed frustraram as expectativas dos agentes econômicos com relação a um possível corte nos juros.

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Em coletiva de imprensa, o comandante da autoridade monetária norte-americana reforçou seu compromisso cumprir a meta de inflação de 2% e disse não ver espaço para mudanças de conduta. “Acreditamos que, no momento, não devemos fazer nenhum movimento em nossa política. Não vemos cenário forte no momento para movermos os juros em nenhuma direção”, afirmou.

A fala derrubou não apenas os ativos de empresas brasileiras negociadas em Wall Street, mas trouxe forte volatilidade para os principais índices acionários norte-americanos e os yields dos treasuries.

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Indicadores econômicos

O setor privado dos Estados Unidos criou 275 mil empregos em abril, segundo pesquisa com ajustes sazonais divulgada hoje pela ADP. O resultado superou as expectativas de analistas consultados pelo Wall Street Journal, que previam geração de 177 mil postos de trabalho.

O dado de criação de empregos de março, por sua vez, foi revisado para cima, de 129 mil a 151 mil.

A pesquisa da ADP é considerada uma prévia do relatório de empregos (payroll) americano, que inclui dados do setor público e será divulgado nesta sexta-feira.

O índice de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial dos Estados Unidos, que mede a atividade no setor, subiu de 52,4 em março para 52,6 em abril, saindo do menor nível do indicador atingido desde junho de 2017.

O PMI acima da marca de 50 mostra que a atividade se expandiu. O crescimento sólido observado em novos pedidos, segundo relatório divulgado pela IHS Markit, resultou em uma melhora nas condições de operação. O crescimento de novos negócios atingiu a maior alta em três meses e foi registrada uma melhora moderada nas condições de operação no mês passado, acrescenta a pesquisa.

“Comparações históricas indicam que o medidor de vazão da pesquisa precisa subir acima de 53,5 para sinalizar o crescimento da produção da fábrica. Assim, os dados contribuem para sinais de que a economia parece desacelerar após o início do ano mais forte do que o esperado”, ressalta o economista chefe da IHS Markit, Chris Williamson.

Previdência e investigações

A Câmara dos Deputados registrou na última terça-feira (30) a primeira das 10 sessões de prazo para a apresentação de emendas à reforma da Previdência na comissão especial. O prazo estabelece também a possibilidade de apresentação do relatório por parte do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP).

O início da contagem ocorreu após uma tentativa frustrada de deputados favoráveis à reforma previdenciária de abrir uma sessão na segunda-feira (29), o que poderia ajudar na celeridade da tramitação da matéria. O quórum atingido ontem foi de 87 parlamentares, 36 a mais do que o necessário para já garantir a contagem.

Havia um entendimento entre governo e “centrão” para que o prazo das 10 sessões do plenário fosse iniciado apenas na semana que vem, o que teria possibilitado o acordo para a instalação da comissão especial na última quinta-feira (25). Formalmente, porém, essa contagem teve a primeira sessão ontem.

Parlamentares argumentam que, em função do feriado do Dia do Trabalho, haverá poucos deputados no parlamento nesta semana, o que dificultaria na coleta das 171 assinaturas necessárias para o registro de emendas à proposta.

O prazo de 10 sessões para apresentação de emendas, porém, pode ser prorrogado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Na prática, este prazo é tido como a principal exigência para os trabalhos em comissão especial. Caso a articulação política do governo supere as expectativas e construa apoio necessário à sua proposta, há quem observe espaço regimental para que a reforma seja votada sem que sejam esgotadas as 40 sessões plenárias de que trata o regimento da casa legislativa.

Ainda no noticiário nacional, destaque para a decisão do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), de arquivar uma das investigações contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) aberta com base na delação da Odebrecht.

O movimento atendeu a pedido feito pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que alegou falta de provas nas alegações. Fachin, porém, ressaltou que “o arquivamento deferido com fundamento na falta de provas suficientes à denúncia não impede o prosseguimento das investigações caso futuramente surjam novas evidências”.

Protestos

Por fim, também merece atenção a tentativa de grupos opositores de articular a primeira manifestação significativa contra o governo Jair Bolsonaro. O ato deve aproveitar a celebração do Dia do Trabalho e aglutinar pela primeira vez uma oposição fragmentada desde a eleição. Participam da organização CUT, Força Sindical, CSB e Intersindical, CTB, UGT, CGTB, Nova Central e CSP-Conlutas, além das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular.

O palanque do Vale do Anhangabaú, em São Paulo, deve reunir três dos principais candidatos da esquerda na eleição do ano passado: Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), que depende de condições de saúde para participar, e Guilherme Boulos (PSOL).

Apesar das divergências políticas, as lideranças sindicais envolvidas no ato acreditam que o evento conjunto pode ser um ponto de partida para a aproximação de forças da oposição para novas manifestações contra o governo. Há um planejamento para a realização de uma greve geral nacional no dia 14 de junho, às vésperas da data prevista para votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.

(com Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.