Ibovespa cai 1,3% com Maia atenuando “pânico” do mercado após prisão de Temer; dólar vai a R$ 3,80

Bolsa chegou a voltar para os 95 mil pontos após a notícia da prisão do ex-presidente, mas recuperou parte da queda após Maia tentar acalmar os ânimos

Rodrigo Tolotti

Painel de cotações indicando forte queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Após chegar a cair 2,64% na mínima do dia repercutindo a prisão do ex-presidente Michel Temer, o Ibovespa chegou a reduzir as perdas na sessão desta quinta-feira (21), mas ainda sim fechou com forte queda. O mercado tentar entender quais os impactos do caso sobre a reforma da Previdência e como isso pode prejudicar o cenário atual.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 1,34%, aos 96.729 pontos, após bater em 95.456 pontos na mínima do dia. O volume financeiro ficou em R$ 17,858 bilhões. O dólar comercial, por sua vez, subiu 0,90%, cotado a R$ 3,8001 na venda, ao passo que o dólar futuro com vencimento em abril avançou 0,71%, a R$ 3,803.

A pequena recuperação do mercado ocorreu após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmar que a prisão de Temer não afeta as reformas. Agora, após o susto com a apreensão do ex-presidente e também do ex-ministro Moreira Franco, sogro de Maia, analistas buscam avaliar o cenário.

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A reforma da Previdência já enfrentava um ambiente de pessimismo desde ontem em meio à má repercussão da reforma dos militares tanto entre economistas quanto no Congresso, além das dificuldades sobre a articulação política.

A avaliação agora é de que o episódio desta quinta afeta ainda mais a percepção sobre a reforma uma vez que desvia o foco da pauta econômica e novas questões ganham destaque, como se outros políticos podem estar envolvidos. 

“A sociedade apoia, mas é mais um capítulo da implosão do sistema politico brasileiro. Isso dá fôlego pra travar a reforma [da Previdência], já que o MDB vai querer negociar com o governo não a situação de Temer, mas o que isso representa pro futuro do partido”, observa Leopoldo Vieira, analista político da consultoria Idealpolitik. 

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Já o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, ressalta que a prisão aumenta a incerteza e prejudica o clima no Congresso. “Isso não favorece acordos. É ruim para quem precisa de 60% para aprovar reforma”, avalia. 

Leia também:
– Prisão de Temer contamina Brasília e aumenta custos políticos de Bolsonaro
– Com prisões de Temer e Franco, ministro Bretas manda recados ao STF
– Operação da PF pode atrapalhar reforma da Previdência, dizem analistas
 

A prisão foi determinada pelo juiz federal Marcelo Bretas, titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, responsável pelas ações de desdobramento da Operação Lava Jato. Vale ressaltar que o ex-ministro de Minas e Energia da administração emedebista, Moreira Franco também foi preso nesta quinta-feira. 

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Após a notícia, os principais contratos de juros futuros passaram a registrar forte alta, cenário que também mudou com a fala de Maia, levando os DIs a fecharem com movimentos mistos. O contrato com vencimento em janeiro de 2021 caiu 2 pontos-base, a 6,88%, enquanto o com vencimento em janeiro de 2023 teve alta de 4 pontos-base, a 7,97%.

Veja o gráfico com a reação da Bolsa à prisão de Temer:

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Altas e baixas da Bolsa

A prisão de Temer azedou o desempenho dos papéis de estatais e de bancos, enquanto as ações de empresas que se beneficiam da alta do dólar passaram a registrar ganhos, caso de Suzano (SUZB3) e Vale (VALE3). 

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Já as maiores baixas ficaram com B2W e Lojas Americanas, com queda de cerca de 6% cada uma. A B2W apurou no 4º trimestre de 2018 um prejuízo líquido de R$ 67,7 milhões, montante maior que os R$ 47,2 milhões estimados pela compilação de estimativas da Bloomberg.

A Lojas Americanas, por sua vez, registrou uma receita líquida de R$ 4 bilhões no 4º trimestre de 2018, frustando a menor estimativa compilada pela Bloomberg, de R$ 5,86 bilhões. No período, o lucro líquido ajustado foi de R$ 272,2 milhões e o Ebitda ajustado R$ 893,5 milhões, com margem ajustada de 22,4%. No ano, a companhia teve um lucro líquido de R$ 380,5 milhões.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

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 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BTOW3 B2W DIGITAL ON 46,75 -6,31 +11,26 207,38M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 18,27 -5,58 -6,90 371,52M
 GOLL4 GOL PN N2 29,15 -5,02 +16,14 130,67M
 CIEL3 CIELO ON 10,36 -3,99 +19,28 180,82M
 CYRE3 CYRELA REALTON 17,20 -3,75 +11,18 67,97M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 SUZB3 SUZANO PAPELON 45,25 +3,15 +18,83 322,51M
 CSAN3 COSAN ON 46,44 +1,11 +38,79 121,65M
 RADL3 RAIADROGASILON 66,50 +0,76 +16,36 78,85M
 VALE3 VALE ON 50,89 +0,65 -0,22 998,97M
 TIMP3 TIM PART S/AON 12,58 +0,48 +7,55 60,26M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN N2 28,56 -1,42 2,28B 1,51B 94.408 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 34,57 -1,76 1,09B 655,81M 57.224 
 VALE3 VALE ON 50,89 +0,65 998,97M 996,30M 47.518 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 50,39 -2,10 793,15M 512,83M 45.789 
 BBDC4 BRADESCO PN 42,77 -2,20 690,21M 689,23M 37.164 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,98 -0,12 610,47M 377,96M 36.423 
 PETR3 PETROBRAS ON N2 32,31 -2,00 597,89M 327,79M 31.108 
 CSNA3 SID NACIONALON 15,58 -2,01 375,93M 300,38M 35.061 
 LAME4 LOJAS AMERICPN 18,27 -5,58 371,52M 80,20M 42.364 
 ITSA4 ITAUSA PN 12,28 -1,52 326,96M 416,26M 43.782 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

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Reforma: ambiente desafiador

Antes mesmo da prisão de Temer, o ambiente para as reformas já se apontava como desafiador em meio aos acontecimentos dos últimos dias. 

Reforma dos militares má recebida pelo Congresso e por economistas, Ibope apontando queda na popularidade do governo de Jair Bolsonaro e insatisfação com a articulação política do governo já haviam acendido o sinal de alerta para o mercado com relação à aprovação da Reforma da Previdência, não somente pelo montante a ser economizado com a Reforma (inicialmente de R$ 1,16 trilhão), mas também pelos prazos a serem cumpridos para a aprovação da mesma. 

A avaliação geral era de que a proposta de reforma dos militares enfraquece parte do argumento do governo de que todas as categorias farão sacrifício. 

No Congresso, os deputados também reagiram negativamente. Até mesmo entre os parlamentares da base, há uma impressão de que a reestruturação dá um recado errado à sociedade. Para o delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido do presidente na Casa, é necessário analisar com cuidado a medida.

Na última quarta, praticamente ao mesmo tempo em que Bolsonaro entregava a proposta dos militares ao Congresso, o Ibope divulgou pesquisa mostrando que a avaliação positiva (ótima ou boa) do governo caiu 15 pontos desde janeiro, e cinco desde fevereiro, em comparação com os outros dois levantamentos feitos neste ano pelo instituto. 

Essa avaliação, associada à queda da popularidade do governo Bolsonaro no último Ibope, significam um flanco aberto no governo para o Congresso fazer cada vez mais exigências em troca da aprovação de reformas.

Agora, com a prisão de Temer, a tramitação da reforma aponta para ser ainda mais desafiadora. Porém, antes mesmo do evento, o mercado já reagia negativamente ao adiamento do anúncio  do relator da Previdência na Comissão de Constituição, Cidadania e Justiça (CCJ), que pode afetar o trâmite da Previdência. 

Além disso, no noticiário internacional, o Federal Reserve manteve ontem seus juros básicos na faixa de 2,25% a 2,50%, mas também indicou que não irá elevar as taxas até o fim de 2019, diante de sinais de desaceleração da economia global. Isso chegou a animar o mercado na véspera. Mas nesta sessão, o investidor passou a reagir com mais cautela em meio aos temores sobre a economia global. 

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.