Ibovespa ganha força e dólar vira para queda de olho em novidades sobre a Previdência

Mercado aguarda que possam ser divulgados os pontos da reforma da Previdência ainda hoje

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em mais uma sessão volátil, o Ibovespa voltou a a ganhar força na tarde desta quinta-feira (14) com o mercado de olho nas novidades sobre a reforma da Previdência e na crise que passa o governo Jair Bolsonaro. Mais cedo, o índice chegou a cair quase 1% junto com o exterior após dados do varejo norte-americano abaixo das expectativas.

Às 16h46 (horário de Brasília), o Ibovespa subia 0,57%, aos 96.389 pontos, após ter alcançado a máxima de 96.725 pontos e a mínima de 94.915 pontos. Já o contrato de dólar futuro com vencimento em março tinha queda de 0,31%, a R$ 3,747, e o dólar comercial virava para queda de 0,20%, cotado a R$ 3,7452 na venda. 

No mercado de juros, os contratos futuros com vencimento em janeiro de 2021 caíam 4 pontos-base, para 7,00%, ao passo que os contratos para janeiro de 2023 recuavam 6 pontos-base, a 8,12%.

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O mercado se animou com a possibilidade de que os da reforma da Previdência possam ser divulgados ainda nesta quinta, após Bolsonaro prometer “bater o martelo” na proposta que está sendo discutida com o ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta tarde.

“A reforma da Previdência é o tema mais importante para o ‘call de recuperação do Brasil’. Os dois pontos mais sensíveis que o mercado ficará atento são a idade mínima para homens e mulheres e o tempo de transição”, afirmam os analistas da Rico Investimentos, Matheus Soares e Thiago Salomão, em relatório enviado a clientes.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro precisará lidar com a crise que paira no governo e em seu partido, o PSL. “É realmente difícil imaginar a anuência e participação do grupo do presidente, principalmente pela campanha estoica e totalmente fora dos padrões históricos brasileiros, mais próxima das campanhas do falecido deputado Enéas Carneiro”, avalia Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

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Mas nem por isso o tema perde importância. Os analistas da Rico acreditam que a crise pode afetar a aprovação da reforma da Previdência. “A cizânia dentro do próprio governo, ainda que natural, é um fato disruptivo, com a base formada por uma série de políticos inexperientes, muitos puxados mais pelo ânimo com a eleição de Bolsonaro do que com seus próprios nomes”, avalia Vieira. No fim das contas, “as reformas é que importam”, completa Vieira.

Destaques de ações

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BBAS3 BRASIL ON 53,96 +3,61 +16,07 1,17B
 ESTC3 ESTACIO PARTON 31,00 +3,23 +30,47 329,64M
 SBSP3 SABESP ON 39,35 +2,69 +24,92 85,31M
 EMBR3 EMBRAER ON 19,17 +2,13 -11,58 36,90M
 PETR4 PETROBRAS PN N2 26,58 +2,03 +17,20 1,49B

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 GOLL4 GOL PN N2 27,73 -3,21 +10,48 83,82M
 VVAR3 VIAVAREJO ON 5,31 -2,57 +20,96 83,46M
 EQTL3 EQUATORIAL ON 82,73 -1,97 +10,96 47,40M
 SUZB3 SUZANO PAPELON 45,02 -1,85 +18,22 226,55M
 NATU3 NATURA ON 44,40 -1,77 -0,79 50,32M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Bolsas mundiais

Os índices dos Estados Unidos operam entre leves perdas e ganhos após a divulgação de números do varejo que frustraram as estimativas do mercado. As vendas caíram 1,2% em dezembro, no maior tombo desde setembro de 2009. 

“Esse número foi terrível”, disse Peter Boockvar, chefe de investimentos no Bleakley Advisory Group, à CNBC. As bolsas europeias também perderam fôlego com os números fracos da economia dos Estados Unidos. 

As bolsas na Ásia encerraram em leve queda à espera de informações mais sólidas sobre as discussões entre EUA e China.

No mercado de commodities, os preços do petróleo sobem pelo terceiro dia seguido com a queda nos embarques da Arábia Saudita, que prometeu cortar sua produção, e da Venezuela, que sofre com sanções dos Estados Unidos. O otimismo com as negociações entre China e o governo de Trump também dá suporte à alta.

Reforma da Previdência

A proposta de reforma da Previdência está finalizada e deverá ser analisada pelo presidente Jair Bolsonaro entre hoje (14) e sexta-feira (15), segundo o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho. Ele não deu detalhes sobre a proposta, como idade mínima e regras de transição. Na terça-feira (12), Marinho disse que o texto final da reforma é “bem diferente” da minuta do projeto que vazou para a imprensa na semana passada.

Bolsonaro disse ontem em entrevista à TV Record, que “a grande dúvida na idade é se passaria para 62 ou 65 os homens e para mulheres 57 ou 60”, mas que isso será definido ainda hoje. As informações sobre as datas que o projeto será enviado ao Congresso são discrepantes dentro do governo. 

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou acreditar que o texto final sobre a proposta de reforma da Previdência pode ser enviado ao Congresso Nacional na próxima semana. “Julgo que sim, porque os acertos são pequenos. É uma questão mais de decisão só, não do que vai ter que escrever ainda”, disse.

Por outro lado, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o envio do texto ao Congresso depende de Bolsonaro e pode ocorrer apenas entre os dias 25 e 28 de fevereiro. Com tom pouco assertivo, Onyx afirmou que a reforma “provavelmente deve ser apresentada até o final do mês”.

Agenda econômica 

O volume de serviços prestados cresceu 0,2% em dezembro ante novembro na série com ajuste sazonal, segundo  dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No mês anterior, o resultado foi de uma estabilidade (0,0%). A queda registrada em 2018 completa uma sequência de quatro anos consecutivos de taxas negativas no segmento.

Na comparação com dezembro do ano anterior, houve queda de 0,2% em dezembro de 2018, já descontado o efeito da inflação. A mediana estimada pelo mercado apontava para queda de 0,4% na comparação anual, conforme levantamento da Bloomberg.

Segundo Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, a compressão do setor de serviços coloca em xeque a atual pausa nos cortes de juros promovidos pelo Banco Central e a eficácia do instrumento de política monetária solitário na busca pelo estímulo da economia.

Clique aqui para conferir a agenda completa de indicadores.

Noticiário político 

O clima de tensão no governo ganha corpo após declarações de Bolsonaro e de Gustavo Bebianno, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que protagoniza acusações sobre candidaturas de laranjas para ter acesso a fundos públicos. 

O conflito entre os dois toma as manchetes dos jornais após Bolsonaro endossar o ataque de seu filho, Carlos Bolsonaro, a Bebianno ao afirmar que não conversou sobre o tema com o ministro enquanto esteve no hospital nos últimos dias.

O presidente disse ainda que pediu que a Polícia Federal investigue o caso e não descartou a demissão de Bebianno. “Se estiver envolvido e, logicamente, responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, disse. 

Informações de bastidores apontam que Bolsonaro pretendia chegar a Brasília ontem, após ter alta médica, e receber um pedido de demissão do próprio Bebianno e, assim, mostrar força política ao mesmo tempo em que coloca panos quentes na crise de seu governo.

Sua expectativa foi frustrada e Bebianno disse, em entrevista à GloboNews, que não pretende pedir demissão. “Não tenho essa intenção porque não fiz nada de errado. Meu trabalho continua sendo em beneficio do Brasil. O presidente, se entender que eu não deva mais continuar, ele certamente vai me comunicar”, afirmou.

Para aquecer ainda mais as discussões, o jornal Folha de S. Paulo traz uma reportagem informando que uma gráfica de pequeno porte de um membro do diretório estadual do PSL foi a empresa que mais recebeu verba pública do partido em Pernambuco nas eleições. Sete candidatos declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na gráfica Vidal, que nunca havia participado de uma eleição e funciona em uma pequena sala na cidade de Amaraji, interior de Pernambuco.

O dono da gráfica é Luis Alfredo Vidal Nunes da Silva, que se apresenta como presidente do PSL em Amaraji. O empresário afirmou que não havia irregularidades na prestação de serviços. Questionado se teria como mostrar alguns exemplares do material que havia sido impresso, disse que nem tudo estava lá. “Se for necessário, eu apresento à Justiça”, disse à Folha.

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Procurado pela Folha, Bebianno não se manifestou e Luciano Bivar, deputado e fundador do PSL, declarou que não cometeu nenhuma ilicitude e que as contas do partido foram aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Vale lembrar que grande parte do apelo eleitoral de Bolsonaro veio de sua promessa de tolerância zero à corrupção após anos de escândalos políticos de alto nível. O próprio presidente não enfrenta alegações de irregularidades, mas as questões sobre a conduta do seu partido e as lutas internas entre os principais aliados estão azedando o clima político, enquanto ele se prepara para iniciar sua agenda legislativa. 

Ao mesmo tempo, já se discute nos porões de Brasília que o tratamento com as acusações que envolvem seu filho Flávio Bolsonaro tiveram um tratamento diferente do presidente – bem menos duro do que a forma como o tema de Bebianno vem sendo debatido. 

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.