Ibovespa cai 2,3% e volta para 95 mil pontos puxado pelo pior pregão da história da Vale

Índice perdeu cerca de 3 mil pontos puxado pela mineradora após tragédia de Brumadinho

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – As atenções dos investidores se voltaram para a tragédia em Brumadinho (MG) após um fim de semana prolongado pelo feriado em São Paulo que manteve a bolsa brasileira fechada na sexta-feira (25). Uma barragem de rejeitos de mineração da Vale (VALE3) se rompeu na sexta, deixando um rastro de destruição ambiental e dezenas de mortos.

As ações da mineradora fecharam com queda de mais de 24%, em seu pior pregão da história. O movimento derrubou o Ibovespa, que caiu 2,29%, aos 95.443 pontos, após atingir 94.783 pontos na mínima do dia. O volume financeiro ficou em R$ 24,627 bilhões, sendo que cerca de um terço deste valor, R$ 8,147 bilhões, foi em negócios com VALE3, que por sua vez movimentou oito vezes mais que sua média de R$ 1,071 bilhão.

Junto com a Bradespar (BRAP4), a Vale tem um peso de 11,45% no índice, sendo portanto, responsável por uma queda de 2,79 pontos percentuais da bolsa hoje. Sendo assim, se as duas ações tivessem ficado estáveis, o Ibovespa teria subido nesta segunda.

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O contrato de dólar futuro com vencimento em fevereiro de 2019 teve queda de 0,30%, a R$ 3,761, enquanto o dólar comercial caiu 0,17%, cotado a R$ 3,7655 na venda, se descolando do dia negativo do mercado.

Sobre o movimento dos DIs, os contratos com vencimento em janeiro de 2021 ficaram estáveis, a 7,21%, enquanto os juros futuros para janeiro de 2023 subiram 1 ponto-base, para 8,37%.

Levando em consideração apenas os impactos operacionais, a mina Feijão, que se rompeu, representa cerca de 1,5% a 2,5% da produção total de minério da Vale. No entanto, as consequências judiciais do desastre deve ser bem maior.

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Embora ainda haja dúvidas sobre as causas do acidente, e os culpados, a informação mais dramática é que o número de mortes já é maior que o da tragédia de Mariana, quando uma barragem da Samarco (empresa controlada por Vale e BHP) se rompeu, resultando em 19 mortes. No caso de Brumadinho, até esta manhã haviam sido informadas 60 mortes 292 pessoas continuavam desaparecidas.

Em decorrência do número de vítimas em potencial, até a manhã desta segunda-feira (28), a Justiça de Minas Gerais já havia determinado três bloqueios de valores da Vale desde o rompimento de uma barragem em Brumadinho (MG), na sexta-feira (25). No total, até o momento, a empresa terá que dispor de pelo menos R$ 11,8 bilhões para ressarcir danos e perdas de forma geral.

O valor representa quase metade (48,4%) de todo o caixa da Vale, conforme dados publicados em seu balanço mais recente, do terceiro trimestre de 2018. O documento informa que a mineradora tinha R$ 24,4 bilhões disponíveis em caixa.

Outras sanções podem vir a ser somadas a esse valor. A Vale informou que foi intimada da imposição de sanções administrativas pelo Ibama e pelo Estado de Minas Gerais de R$ 250 milhões e aproximadamente R$ 99,1 milhões, respectivamente. A Justiça do Trabalho em Minas Gerais determinou bloqueio de mais R$ 800 milhões.

Além disso, o governo de Minas Gerais solicitou a indisponibilidade de todas as ações de propriedade da Vale nas bolsas de valores de São Paulo (Bovespa), Rio de Janeiro, Nova York, Madrid e Euronext Paris. O dinheiro seria utilizado para as despesas com o rompimento das barragens em Brumadinho. 

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De acordo com o documento, o limite para o bloqueio seria de R$ 20 bilhões. Hoje, o valor de mercado da empresa é de R$ 296 bilhões – a terceira maior empresa brasileira de capital aberto. 

Ainda no radar da Vale, o Conselho de Administração da companhia decidiu mudar o sistema de remuneração e incentivos devido ao rompimento da barragem. A mineradora informou que o Conselho decidiu suspender o pagamento de remuneração variável aos executivos e também a Política de Remuneração aos Acionistas “e, consequentemente, o não pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio (JCP), bem como qualquer outra deliberação sobre recompra de ações de sua própria emissão”.

Enquanto isso, no âmbito político, o presidente Jair Bolsonaro passou por nova cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia, no hospital Albert Einstein. A operação durou cerca de oito horas, bem acima das três horas previstas, mas segundo nota do hospital, o procedimento foi um sucesso.

Bolsonaro deve voltar ao trabalho 48 horas após a cirurgia. Um gabinete especial será montado no hospital para que o presidente possa realizar seus trabalhos durante o período de internação, estimado em dez dias.

Os investidores também ficam atentos aos próximos passos do governo, há poucos dias da volta do recesso do Congresso e das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado, além de ficar de olho primeira reunião do Fomc de 2019 e nas negociações entre China e Estados Unidos. 

Além disso, o Conselho de Administração da Vale decidiu mudar o sistema de remuneração e incentivos devido ao rompimento da barragem. Em fato relevante, a mineradora informa que o Conselho decidiu suspender o pagamento de remuneração variável aos executivos e também a Política de Remuneração aos Acionistas “e, consequentemente, o não pagamento de dividendos e JCP (juros sobre o capital próprio), bem como qualquer outra deliberação sobre recompra de ações de sua própria emissão”.

Destaques de ações

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 VALE3 VALE ON 42,38 -24,52 -16,90 8,14B
 BRAP4 BRADESPAR PN 26,43 -24,49 -14,87 634,57M
 CSNA3 SID NACIONALON 9,78 -5,69 +10,63 160,20M
 PETR3 PETROBRAS ON N2 28,42 -3,53 +11,89 482,74M
 GOAU4 GERDAU MET PN 7,29 -3,32 +5,04 123,31M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ABEV3 AMBEV S/A ON 17,95 +4,60 +16,71 539,43M
 RADL3 RAIADROGASILON 65,11 +4,53 +13,93 99,67M
 EGIE3 ENGIE BRASILON 43,63 +3,88 +32,13 108,60M
 CCRO3 CCR SA ON 14,79 +3,57 +32,05 214,75M
 MRVE3 MRV ON 15,37 +3,50 +24,35 92,81M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 42,38 -24,52 8,14B 1,00B 260.290 
 PETR4 PETROBRAS PN N2 24,77 -3,01 1,55B 1,60B 72.137 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 38,16 +1,79 811,60M 749,08M 52.438 
 BBDC4 BRADESCO PN 43,50 +0,81 643,85M 572,53M 35.626 
 BRAP4 BRADESPAR PN 26,43 -24,49 634,57M 84,45M 56.215 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 17,95 +4,60 539,43M 401,73M 49.348 
 B3SA3 B3 ON 32,11 +1,45 518,66M 373,27M 37.762 
 PETR3 PETROBRAS ON N2 28,42 -3,53 482,74M 248,83M 25.132 
 BBAS3 BRASIL ON 48,32 -1,29 386,46M 498,94M 23.145 
 SUZB3 SUZANO PAPELON 49,38 +2,98 370,74M n/d 22.213 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Bolsas mundiais

Os índices das bolsas dos Estados Unidos caíram repercutindo a revisão de guidance de empresas locais frente à deterioração da economia chinesa. Ainda no radar dos investidores está o ceticismo do presidente Donald Trump em relação a um acordo entre republicanos e democratas sobre a construção de um muro na fronteira com o México. 

Após a suspensão temporária da paralisação do governo norte-americano na sexta-feira (25), Trump disse ao The Wall Street Journal que novo shutdown é “certamente uma opção”. O pacto para a suspensão temporária prevê a destinação de recursos para financiar a administração federal por três semanas, enquanto a Casa Branca e o Partido Democrata continuarão negociando os fundos para o muro no México.   

Os investidores aguardam ainda nova rodada de negociações com a China para dar fim à guerra comercial entre os países. O governo chinês deve enviar seu vice-primeiro ministro para Washington, capital norte-americana, ainda nesta semana para uma nova rodada de negociações com representantes de Trump. 

Na Europa, as bolsas operam em queda contaminadas pelo pessimismo com os Estados Unidos e à espera de novidades sobre o Brexit. A primeira-ministra britânica Theresa May colocará seus últimos esforços para a votação sobre um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia na terça-feira (29).

As bolsas asiáticas fecharam em queda com investidores também pessimistas em relação às negociações entre China e Estados Unidos. 

Os preços do petróleo caíram cerca de 3% repercutindo o aumento, pela primeira vez em 2019, do número de sondas usadas por empresas de energia norte-americanas para a busca pela commodity. 

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O minério de ferro da China teve forte alta após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. A tragédia gera preocupações sobre a oferta, uma vez que inspeções de segurança em outras operações da Vale podem afetar a produção da companhia de forma mais ampla.

Noticiário político 

Na política, atenção especial para as articulações antes da eleição no Congresso, marcada para sexta-feira (1). Até o momento, os favoritos são o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que concorre à reeleição, e o senador Renan Calheiros (MDB-AL). No Senado, porém, a corrida esquentou nos últimos dias com o anúncio da candidatura de Simone Tebet (MDB-MS).

Além disso, atenção para a nova cirurgia que o presidente Jair Bolsonaro faz nesta segunda para a retirada da bolsa de colostomia, no hospital Albert Einstein. A previsão é que a operação dure de três a quatro horas. Será a terceira cirurgia que o presidente fará desde o ataque a facadas em Juiz de Fora, Minas Gerais.

O porta-voz da Presidência da República, general Otávio Santana do Rêgo Barros, informou ontem que após as primeiras 48 horas depois da cirurgia  Bolsonaro voltará ao trabalho ainda no hospital. Um gabinete especial será montado no hospital para que o presidente possa realizar seus trabalhos durante o período de internação, estimado em dez dias.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.