Apple compra a Tesla e crise na Netflix: 10 “cisnes negros” que podem abalar 2019

O banco dinamarquês Saxo Bank divulgou sua lista de 10 acontecimento improváveis para 2019

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na definição criada por Nassim Taleb, Cisne Negro é algo improvável e que, depois que acontece, as pessoas procuram fazer com que ele pareça mais previsível do que ele realmente era. Já antecipando estas possíveis crises, o banco dinamarquês Saxo Bank divulgou sua lista de 10 acontecimento improváveis para 2019.

Esta lista pode até ser estranha, mas é exatamente aí que mora a lógica do Cisne Negro, algo que é muito improvável, mas não é impossível. Como por exemplo o primeiro item: a Apple comprar a Tesla. Apesar de não ser algo que abalaria o mundo, seria uma grande surpresa para todos e hoje é muito difícil acreditar que algo assim poderia acontecer.

Entre outros itens, o Saxo Bank ainda destaca acontecimentos como uma possível recessão na Alemanha e um perdão de dívida na União Europeia, ou ainda a demissão de Jerome Powell do comando do Federal Reserve pelo presidente Donald Trump. Confira a lista abaixo:

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1) Apple compra a Tesla
Segundo o estrategista-chefe de ações do Saxo Bank, Peter Garnry, está na hora de se questionar o que a Apple fará com com seus US$ 237 bilhões acumulados em um cenário em que “a linha de produtos iPhone é incapaz de gerar mais crescimento”.

Ele dá duas opções: manter uma política “aborrecida” de dividendos e recompra de ações, ou então realizar um movimento “ousado” de ir além das fronteiras de smartphones, computadores e serviços associados a este mercado.

Garnry ressalta que a Apple “já percebeu” que precisa continuar na vida das pessoas e o setor automobilístico é uma ótima saída. E por isso ele acredita que a companhia irá atrás da Tesla, o que seria positivo para as duas empresas.

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Segundo ele, a Apple “vai assegurar o negócio com um prêmio de 40%”, pagando US$ 520 por ação da Tesla, valor US$ 100 acima do sugerido por Elon Musk em um polêmico tuíte. “A aquisição faz todo o sentido. É pequena o suficiente para ser feita apenas em dinheiro e só representa 12 meses do ‘cash flow’ da Apple”, diz o analista destacando que seria a melhor forma de Musk conseguir realizar seus sonhos.

2) Trump demite Jerome Powell do Fed
Tudo começa com um cenário ruim: o Fed eleva os juros mais uma vez em sua última reunião de 2018. Em seguida, no primeiro trimestre, as bolsas dos EUA desabam e todos começam a se questionar sobre o futuro do programa monetário da autoridade norte-americana liderada por Powell.

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Com isso, segundo o estrategista de câmbio do Saxo Bank, John Hardy, Powell decide cortar apenas levemente os juros, o que não deve dar muito certo. Ao fim do primeiro semestre, sem nenhum sinal de melhora da economia e do mercado dos EUA, Trump “demite Powell e nomeia o presidente da Fed de Minnesota, Neel Kashkari para o seu lugar”, avalia.

O novo presidente da Fed ajudará Trump a candidatar-se ao segundo mandato à frente da Presidência dos EUA, ao anunciar “uma linha de crédito de US$ 5 bilhões para comprar bonds perpétuos de cupom zero do Tesouro, que ajudaria a financiar os novos projetos de infraestrutura de Trump”.

3) Alemanha entra em recessão
Para diz Steen Jakobsen, economista-chefe e CIO do Saxo Bank, “as tarifas sobre os carros alemães e a falta de digitalização podem levar a Alemanha a entrar em recessão antes do final de 2019″.

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Com Angela Merkel fora do governo, começa uma batalha pelo poder, “numa altura em que o país precisa de estabilidade e de uma transformação grande da economia mais poderosa da Europa”, ressalta. Segundo ele, “a joia da coroa da economia alemã, representando 14% do PIB, é a sua indústria automóvel”, mas o país está “bastante atrasado na sua conversão para carros elétricos e utilização de dados”.

E diante deste contexto de atraso tecnológico, as tarifas dos EUA devem tornar o cenário ainda mais complicado. Para ele, o próximo ano “vai ser marcado como o pico do sentimento anti-globalização e vai ser pautado por uma série de marcos, como a utilização de “big data” e a redução da poluição, que “são exatamente o oposto do que tem beneficiado a Alemanha desde o anos 80”. Tudo isso, deve levar o país para uma recessão até o terceiro trimestre.

4) União Europeia lança um perdão de dívida

“Os níveis insustentáveis de dívida pública, a revolta populista, o aumento das taxas de juros do Banco Central Europeu que reduzem a liquidez e o crescimento anêmico reabrem o debate na Europa sobre como responder à nova crise”, explica Christopher Dembik, responsável pela área de análise macroeconômica do Saxo Bank.

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Um dos destaques é a Itália, que está no centro das atenções e correndo o risco de contagiar outros países europeus. Neste cenário, Dembik fala sobre uma recessão na União Europeia, levando o BCE a atuar, instalando um novo programa de financiamento de longo prazo, o que não deve ajudar muito. “Quando o contágio se espalha para a França, os responsáveis políticos percebem que a UE enfrenta o abismo”, avalia.

As soluções disponíveis não são muitas. E para evitarem que a Zona Euro se desintegre, Alemanha e outros países europeus decidem alargar o mandato de monetização de dívida do BCE, cobrindo todos os níveis de dívida acima de 50% do PIB. E será lançado um programa, em paralelo através de Eurobonds, afirma.

5) Jeremy Corbyn se torna primeiro-ministro do Reino Unido
Theresa May perde todo seu poder e um acordo para o Brexit não é alcançado, levando a eleições no Reino Unido e o partido Trabalhista ganha, escreve Kay Van-Petersen, estrategista de macroeconomia do Saxo. Com isso, Jeremy Corbyn se torna o primeiro-ministro e promete um segundo referendo sobre o Brexit.

Diante disso, são implementadas políticas que incluem a renacionalização das “utilities”. O aumento dos gastos públicos elevam o déficit do país para 5% do PIB.

Neste cenário, a libra é arrastada para a paridade contra o dólar, num contexto de incerteza em relação ao Brexit e aos receios em torno do aumento do déficit. A queda da libra ascende a 20% e, pela primeira vez na história, um dólar tem o mesmo valor de uma libra, levando a um caos no mercado.

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6) O colapso da GE que derruba a Netflix 
“2019 se provará um ano de dominó no crédito no mercado de obrigações de empresas dos EUA”, afirma Peter Garnry, e a Gerenal Electric será a primeira a “perder a credibilidade” dos investidores, com a empresa revelando uma deterioração na sua geração de fluxo de caixa.

Este período conturbado irá culminar com um pedido de proteção de credores, que obriga a uma reestruturação e à venda de ativos, “remetendo a outrora gloriosa gigante industrial ao caixote do lixo da história”, avalia.

Os estilhaços atingem a Netflix, que vê os custos de financiamento disparar, também devido à dificuldade em mostrar um crescimento dos números. “Para piorar a situação, a entrada da Disney na indústria de streaming de vídeo” afeta ainda mais as perspectivas de crescimento da Netflix. “Há uma reação negativa em cadeia nas obrigações das empresas”, levando a uma crise.

7) Pânico na Europa impõe novo imposto nos transportes
“O mundo sofre outro ano de clima adverso, com a Europa a viver um verão extremamente quente, ligando os alarmes de pânico nas capitais de todo o mundo”, prevê Steen Jakobsen.

Neste contexto, a aviação e a indústria de transporte marítimo tornam-se alvo de um novo imposto, que dependerá das emissões de carbono. As ações de empresas expostas ao setor do turismo, companhias aéreas e transportes marítimos afundam, derrubando o mercado.

8) FMI e Banco Mundial abandonam PIB e focam na produtividade
“O longo reinado do Produto Interno Bruto como a medida para aferir o progresso econômico termina em 2019”, prevê Christopher Dembik.

“Num movimento surpreendente“, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial anunciam que vão deixar de medir o PIB, justificando com o fato de esta análise ter falhado em captar o impacto de questões como o meio ambiente ou os serviços baseados em tecnologia.

Em vez do PIB, as duas instituições propõem que se passe a analisar a produtividade dos países. “Como o prêmio Nobel Paul Krugman escreveu em 1994: ‘a produtividade não é tudo, mas no longo prazo, é quase tudo'”, avalia.

9) Explosão solar cria o caos e causa danos de US$ 2 biliões
Uma das previsões para 2019 está relacionada com o Sol, segundo John Hardy, que projeta uma explosão de classe X, que cria um caos com danos econômicos gigantescos.

Para ele, a tempestade solar atinge o ocidente, afetando a maioria dos satélites e provocando o caos nos setores dependentes de GPS, como os transportes, logística e infraestruturas de energia elétrica. Para Hardy, a conta será de cerca de US$ 2 bilhões.

10) Mercado imobiliário arrasta a Austrália para uma recessão
Depois de anos vendo o mercado imobiliário a crescer, a Austrália entra num período conturbado, com os preços afundando e provocando grandes perdas. “A Austrália entra em recessão pela primeira vez em 27 anos”, estima Eleanor Creagh, estrategista de mercado australiano do Saxo Bank.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.