Fabricante de armas Forjas Taurus aposta em “tripé estratégico” para convencer acionistas e consumidores

Salesio Nuhs, presidente da Taurus, conta estratégia para melhorar a imagem e os resultados da empresa que acumulam 5 anos de prejuízos

Weruska Goeking

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SÃO PAULO – Com uma nova gestão desde janeiro deste ano, a fabricante de armas Forjas Taurus quer deixar as falhas do comando anterior no passado com renegociações de dívidas e mudanças na produção. O objetivo é conquistar a credibilidade de clientes e de acionistas para, finalmente, sair do vermelho. 

Para isso, Salesio Nuhs, presidente da Taurus, contou ao InfoMoney que a empresa trabalha com um “tripé estratégico” que envolve rentabilidade sustentável, qualidade dos produtos e melhora dos indicadores financeiros e operacionais.

Alguns indicadores já apontaram melhora no terceiro trimestre deste ano. A Taurus informou lucro líquido de R$ 48 milhões, ante prejuízo de R$ 18,5 milhões no mesmo período de 2017. O ebitda (lucro antes de juros, impostos e amortizações) do terceiro trimestre foi de R$ 24,3 milhões, ante um desempenho negativo de R$ 27,6 milhões um ano antes. 

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Contudo, no acumulado do ano, a companhia amarga prejuízo de R$ 44,6 milhões, ligeira melhora ante o resultado negativo em R$ 50,4 milhões no intervalo de janeiro a setembro de 2017. A Taurus registra prejuízo há cinco anos consecutivos.

Segundo Nuhs, o alongamento da dívida foi fundamental para a melhora do desempenho financeiro da companhia. “Além disso, todo o nosso processo de gestão foi reestruturado de forma sustentável. Isso nos faz crer que essa questão das dívidas rapidamente se resolva”, diz.

Renegociação de dívidas

Um dos principais problemas herdados pela gestão anterior, aponta Nuhs, é o elevado endividamento com o agravante dos vencimentos no curto prazo. A saída encontrada foi o reperfilamento da dívida, que ajudou a melhorar o desempenho financeiro da empresa. 

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Aproximadamente US$ 161,8 milhões em dívidas tiveram seu vencimento alongado após negociações com credores. O prazo total da operação passa a ser de cinco anos, com carência de pagamentos do principal e juros em 2018. A amortização do principal e os juros ocorrerão em pagamentos mensais e serão iniciados em 21 de janeiro de 2019. 

Segundo a companhia, a renegociação da dívida proporcionou uma redução de 50% da taxa de juros dos empréstimos que resultaram na redução de mais de R$ 120 milhões de encargos no período de cinco anos. 

Ao fim do terceiro trimestre, a dívida bruta era de R$ 901,9 milhões, sendo 18,5% dos vencimentos no curto prazo e 81,5% no longo prazo. A dívida em moeda estrangeira representou 81,9% da dívida total da Taurus e em moeda nacional era de 18,1%.

Os vencimentos de curto prazo totalizaram R$ 166,5 milhões e no longo prazo, foi de R$ 735,4
milhões no período, valores que foram fortemente impactados pela valorização do dólar no período.

Dólar: para o bem e para o mau
A disparada do dólar pressionou o desempenho no terceiro trimestre. O dólar teve valorização de quase 4% no terceiro trimestre ante o trimestre anterior, com a moeda norte-americana passando de R$ 3,889 em 29 de junho para R$ 4,038% em 28 de setembro. 

Do outro lado, a companhia conta com a vantagem de ter 80% da receita e seu endividamento em dólar. “O que nos deixa tranquilo é que a companhia é exportadora, 80% do nosso faturamento é em dólar, o que nos dá um hedge [proteção] natural”, diz Nuhs.

A receita líquida do mercado externo foi de R$ 153,8 milhões no terceiro trimestre, queda de 3,5% em relação ao mesmo período de 2017. No acumulado do ano, a receita externa aumentou 10,7%, para R$ 516,6 milhões.

“Efeito Bolsonaro”
As ações da empresa dispararam neste ano e acumulam alta de 210% (FJTA4) e de 230% (FJTA3). A maior curva de valorização foi observada durante o período das eleições e ganharam força conforme o presidente eleito Jair Bolsonaro subia nas pesquisas de intenção de voto. 

Os papéis chegaram a registrar ganhos de quase 1.000% desde setembro até o segundo turno. Os movimentos foram apontados como especulativos por analistas do mercado, que citaram os fundamentos fracos da companhia – prejuízos e elevados endividamentos – como principal ponto fraco dos papéis.

A leitura de parte dos investidores foi de que Bolsonaro ajudaria a alavancar as vendas de armas no país, beneficiando a Taurus. Em entrevistas transmitidas em 29 de novembro, o presidente eleito falou em “abandonar o politicamente correto” quando comentou sobre o afrouxamento das regras para a posse de arma e a flexibilização do porte em nome da “legítima defesa”. A idade mínima para o acesso ao armamento cairia de 25 para 21 anos.

Mas quem acompanha a carreira política de Bolsonaro sabe que essa informação não é, necessariamente, positiva para a companhia. Isto porque Bolsonaro já disse em outras ocasiões que pretendia “quebrar o monopólio da Taurus” no mercado brasileiro de armas e munições.

A empresa é uma das duas fabricantes de pistolas no Brasil e fornecedora de armas para as polícias e as Forças Armadas. Ou seja, com a eleição de Bolsonaro, a empresa pode perder espaço no mercado, em que tem quase o monopólio, ainda que haja liberação do posse de armas. 

O presidente da Taurus disse ao InfoMoney que a empresa está focada em seu plano estratégico do “tripé” citado no começo da reportagem e que prevê resultados positivos “independente do governo” e lembrou que 80% da faturamento da empresa vem de vendas no exterior.

“Não vai afetar o nosso resultado de forma significativa”, seja positivamente ou negativamente, respondeu Nuhs ao questionamento sobre o eventual fim do estatuto do desarmamento e abertura do mercado a empresas estrangeiras.

Qualidade dos produtos
As armas produzidas pela Forjas Taurus acumulam um histórico de disparos acidentais, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, e fomenta desconfiança do mercado até hoje. O presidente da Taurus explicou que, cientes dos problemas do passado, a empresa tem investido em sua linha de produção e que todo o sistema agora é automatizado, evitando ajustes manuais que possam resultar em erro humano e posteriores defeitos.  

“Te afirmo com toda certeza que isso ficou no passado [a imagem negativa da empresa por falhas nas armas]. As vendas internas aumentaram e temos produtos novos que atendem às necessidades desse público. Recuperamos nossa credibilidade. Temos processos de produção que impedem ter variação da qualidade do produto. O funcionário não pode interferir na produção da arma. Não tem ajuste e isso garante a qualidade do produto”, explicou. 

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A receita com vendas no mercado doméstico subiram 40,5% no terceiro trimestre na comparação anual, somando R$ 38,5 milhões. No acumulado do ano, a alta é de 51%, com R$ 106,8 milhões em receita líquida interna. 

No trimestre, a Taurus lançou 17 “plataformas” que resultaram em 70 novos produtos acrescentados ao portfólio de mais de 500 itens.