5 pontos que podem dar o pontapé para o “super ciclo” das ações de bancos – e 3 obstáculos para isso

O bom momento estimado para os bancos em 2019 não chancelou uma recomendação de compra devido à forte concorrência das fintechs e às incertezas com as reformas

Weruska Goeking

Serviços bancários foram destaque na aceleração dos preços no período

Publicidade

SÃO PAULO – Os analistas do Morgan Stanley elevaram a perspectiva para os ativos do Itaú Unibanco (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Santander Brasil (SANB11) e Bradesco (BBDC4) de underweight (abaixo da média do mercado) para equalweight (em linha com o mercado) diante do potencial de entrada do setor em um super ciclo em virtude das estimativas de crescimento econômico brasileiro.
“Se o novo governo no Brasil impor as reformas políticas necessárias para impulsionar o crescimento econômico sustentável com baixas taxas de juros, os bancos brasileiros poderão ver um período de vários anos de forte crescimento dos lucros e expansão do ROE [retorno sobre o patrimônio líquido], em grande parte impulsionados pelos empréstimos imobiliários”, escreve o diretor-geral do Morgan, Jorge Kuri, em relatório.
Invista nos ativos dos maiores bancos do país: abra uma conta na Clear sem pagar nada pela corretagem!

O Morgan Stanley detalhou os cinco pontos que podem pavimentar o caminho do super ciclo dos bancos brasileiros. Confira:

1 – Forte crescimento do crédito
As taxas de juros mais baixas e os vencimentos mais longos da dívida devem ter um impacto positivo no acesso ao crédito e, portanto, na demanda por empréstimos. Nesse cenário, o Morgan Stanley espera que os empréstimos cresçam 15%, ou cerca de duas vezes o crescimento nominal do PIB (Produto Interno Bruto), um incremento significativo na taxa de crescimento anual de 4% observada nos últimos cinco anos.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

2 – Mudança no mix dos balanços
Devido às taxas elevadas de juros, os empréstimos representam uma parte relativamente pequena nos balanços dos bancos brasileiros, com os títulos do governo representando a maior parte dos ativos. Os empréstimos representam 37% dos ativos no Brasil, bem abaixo do nível de 50% a 80% observados entre os pares globais.

Os bancos brasileiros, aponta o Morgan, estão perdendo uma grande oportunidade de receita, já que os rendimentos dos empréstimos são significativamente maiores do que os títulos públicos. No Itaú, por exemplo, o Morgan Stanley calcula que o aumento da participação dos empréstimos de 35% para 45% dos ativos rentáveis seria capaz de elevar a receita de juros em 9%.

3 – Alongamento da dívida
Outro problema apontado pelo Morgan são os prazos particularmente curtos dos empréstimos, atualmente em cerca de 1,8 ano. Em contraste, os pares latino-americanos são 3,4 e os pares internacionais são 4,5 anos. O baixo patamar de financiamentos de imóveis ajuda a explicar essa diferença, já que apenas 8% dos empréstimos no Brasil são imobiliários ante 15% a 20% em outros países emergentes e de 30% a 40% nas economias desenvolvidas. Além disso, o financiamento da maior parte dos produtos de consumo tem vencimento de curto prazo. 

Continua depois da publicidade

Segundo o Morgan Stanley, esse quadro cria dois problemas para o setor bancário brasileiro. Um deles é a limitação da acessibilidade ao crédito, dado o curto período em que o valor da dívida deve ser pago. “Calculamos que a extensão de um ano no vencimento do empréstimo reduziria o serviço da dívida do consumidor em 14% ou o índice do serviço da dívida em 280 pontos-base, um divisor de águas para a demanda”, estima o Morgan. 

Outro problema são as despesas operacionais muito altas, uma vez que os bancos precisam mexer em toda a sua carteira de empréstimos a cada dois anos.

Assim, o Morgan considera que um superciclo no Brasil pode impulsionar não apenas o crescimento do crédito, mas também levar à queda das despesas operacionais na medida que o prazo da dívida se estender. “Isso, obviamente, deve ser muito positivo para a lucratividade do banco”, avaliam os analistas.

Continua depois da publicidade

4 – Ganhos de eficiência
Na medida em que os vencimentos dos empréstimos são prolongados, os altos custos associados ao prazo da dívida devem cair. Além disso, a melhoria no mix dos balanços oferece alavancagem operacional significativa enquanto as receitas financeiras aumentam, presumivelmente, com o mesmo custo de captação e despesas operacionais fixas. “A melhoria potencial é muito convincente: as despesas são de 3,4% dos ativos no Brasil, contra cerca de 2,7% na América Latina e de 1% a 2% nos bancos globais”, observa o Morgan.

5 – Recuperação de negócios não bancários
As taxas de juros mais baixas e a maior renda disponível podem desencadear uma mudança significativa de alocação de ativos, se distanciando das formas convencionais para fundos de maior retorno e outros produtos de seguro e previdência. “O seguro é um produto significativo para os bancos que cobrimos, correspondendo de 10% a 30% dos lucros consolidados”, destaca o Morgan.

Três obstáculos atuais

Se o horizonte à frente se desenha de forma tão positiva para o setor bancário brasileiro, por que os ativos do Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Santander e Bradesco não ganharam o selo de recomendação de compra pelo Morgan Stanley?

Segundo os analistas, três situações presentes hoje no setor podem segurar o ímpeto dos bancos. A primeira delas é a incerteza sobre o encaminhamento das reformas necessárias para impulsionar o crescimento econômico sustentável e segurar as taxas de juros em seus patamares mínimos. 

Invista nos ativos dos maiores bancos do país: abra uma conta na Clear sem pagar nada pela corretagem!

Além disso, a maior parte das ações dos bancos mostrou recuperação com o fim das eleições e, possivelmente, já precificam algumas das possíveis melhorias estruturais advindas das reformas. Por fim, o Morgan Stanley, considera que as fintechs estão atrapalhando o sistema bancário no Brasil, possivelmente mais do que em outros lugares do mundo.