A estatal já traumatizada na Bolsa – e que virou a 1ª grande vítima da eleição de 2018

Apesar das conquistas em termo de governança corporativa, os temores dos investidores sobre uma estatal voltaram após atitude de candidato ao governo do Paraná 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Há uma brincadeira recorrente nas redes sociais de que o Paraná é uma espécie de “Rússia brasileira”. Esta expressão, inventada por Mauricio Cid, do blog Não Salvo, destaca que o estado reúne o que há de mais incomum e bizarro no Brasil, assemelhando-se assim à sede da Copa do Mundo de 2018 – e essa brincadeira rapidamente volta à tona sempre que algum fato curioso ocorre no estado. 

Já no mercado financeiro, o Paraná também tem uma alcunha – mas nada agradável -, ao ser muitas vezes tachado como um dos estados com gestões menos confiáveis e que acaba reiterando o populismo que vez e outra sempre acaba ganhando musculatura dependendo do momento econômico e social do País. E, nesta semana, mais uma vez, o Paraná demonstrou o porquê tem essa má fama, penalizando de maneira severa as ações de companhias do estado, mais descontadas ante as outras estatais da Bolsa brasileira. 

Na última segunda-feira à noite, o até agora líder nas pesquisas entre os pré-candidatos ao governo paranaense (e até então considerado pró-mercado) protocolou um requerimento que afastou alguma percepção dos investidores de que as eleições de 2018 possam ter um final feliz para as estatais do setor.

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O deputado estadual Ratinho Jr.  protocolou na última segunda-feira um requerimento para tentar barrar o aumento médio de 15% nas tarifas da energia elétrica da Copel (CPLE6), que passou valer no domingo (24) em todo o Paraná. A justificativa que ele usou para tomar essa medida também remete a um discurso antigo de soluções fáceis. E claro, muitas vezes, erradas. Segue o trecho: “o aumento [da conta de luz] penaliza a sociedade e dificulta a atividade econômica no Estado, diminuindo a geração de emprego e renda”.

E ele prossegue: “já se tem uma previsão de que o aumento da Conta da Luz para 2018 pode chegar até 44%. Os impactos de tais aumentos sobre a energia elétrica consumida pela indústria, agricultura, serviços e pela população serão enormes, fazendo crescer a inflação e traduzindo em aumento de preços de produtos e diminuindo a qualidade de vida da população”.

Tais falas remetem às justificativas utilizadas pela então presidente Dilma Rousseff em 2012 para cortar os preços de energia em uma canetada com a Medida Provisória 579, no conhecido 11 de setembro para as elétricas – e que fez com que as empresas do setor sofressem os efeitos colaterais até hoje.

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E o Palácio do Iguaçu – sede do Governo do Paraná – recorreu justamente à gestão Dilma para rebater Ratinho Jr: “vale lembrar que o aumento é uma determinação da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e estamos pagando uma conta da má gestão da Dilma. A assembleia legislativa não tem competência legal para isso”.

Como dito pelo governo, a regulação do setor elétrico no Paraná é federal e o estado, nem se pudesse, teria qualquer interferência nas premissas, cálculos e muito menos resultados definidos pela Aneel, o que fez com que os papéis da Copel pouco reagissem à notícia logo após ela ganhar os destaques dos jornais regionais.

“Ou o candidato não faz a mínima ideia do que está falando ou demonstra uma descarada mentira ‘barata’ para a população em troca de votos”, destacou ao InfoMoney um gestor que possui exposição em uma estatal paranaense. Por sinal, a que mais sentiu o baque das falas do pré-candidato ao governo nem chegou a ser citada por Ratinho Júnior. Trata-se da Sanepar (SAPR11), que viu suas units caírem forte nas três sessões após à manifestação do deputado. 

A reação da unit da Sanepar tem seus motivos para ocorrer, ainda mais levando em conta a verdadeira novela que a empresa de saneamento passou durante o seu processo de revisão tarifária em 2017 e que deixou muitos acionistas “traumatizados” com a estatal. A principal questão foi sobre a duração dos reajustes, em um período de oito anos, o que não seria bom nem para a estatal nem para os próprios consumidores. 

Por trás de um reajuste em um período de tempo tão longo, estariam motivações políticas para “suavizar” a alta dos preços ao longo tempo. Isso após o governo paranaense fazer vários roadshows buscando convencer os investidores de um reajuste mais previsível por parte da agência reguladora (no caso, a Agepar), o que acabou não ocorrendo. Assim, os fantasmas sobre novas interferências voltaram, ajudando a espantar ainda mais os investidores. 

Oportunidade em meio ao trauma?
De qualquer forma, assim como a Copel tem pouca interferência do estado em seu reajuste, algumas coisas mudaram na Sanepar desde que houve o mal fadado reajuste tarifário – levando assim a menos riscos de que essas estatais sejam usadas politicamente. Ou, como aponta o gestor, lembram que uma empresa de sociedade mista é aquela em que o governo é sócio do mercado e não dono da companhia. 

Hoje tanto a Copel quanto a Sanepar tem em seus estatutos cláusulas que obrigam as companhias a repassar os reajustes definidos pelos reguladores. “No caso da Sanepar, isso vai até mais longe ao definir que, caso queira tirar essa cláusula do estatuto o governo não tem nem direito de voto, sendo direito exclusivo dos minoritários”, ressalta o gestor. No caso da Sanepar, essas barreiras ao populismo foram estabelecidas no final do ano passado. Ou seja, apesar de muito positivas, ainda são muito recentes para os investidores. 

“O que acontece é que o mercado está extremamente machucado após os ex-governadores [Roberto] Requião e [Beto] Richa (este último que garantiu a aplicação do reajuste da Sanepar ao mercado e depois ‘soltou’ o diferimento de 8 anos). Agora, o Ratinho Jr traz de volta todo esse medo pelo fato da regulação da Sanepar ser estadual e não federal como na Copel. Assim, os investidores têm mais medo apesar de hoje, estatutariamente, a companhia ser muito mais blindada que a elétrica e o posicionamento do candidato ter sido diretamente relacionado à Copel”, avalia o gestor. 

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E são nesses momentos que se formam grandes oportunidades no mercado acionário. Segundo o gestor, nos patamares atuais na bolsa, a Sanepar precifica o total caos e inexistência da regulação, apontando que as units da companhia já tiveram outras oportunidades de compra – e que este último movimento de queda foi apenas mais um capítulo da história. 

“Hoje a Sanepar é a ação mais barata da bolsa e é inacreditável ver uma empresa de saneamento (quer imaginar negócio mais resiliente?) com possibilidade de dobrar de valor meramente seguindo o que está escrito nesses preços”, pontua o gestor.

De qualquer forma, essas sinalizações antes mesmo da campanha eleitoral começar para valer não são nada positivas, levando em conta ainda os traumas já sofridos anteriormente pela intervenção governamental nas empresas. 

Segundo o gestor, a fala de Ratinho Jr. é o caso clássico do “barato vai sair caro”: “é triste pois o candidato vinha mantendo contato constante com o mercado, justamente com o discurso de sepultar de vez a visão que o estado do Paraná era um estado amador, e frisando que o governo dele traria segurança jurídica, gestão eficiente dentro das normas regulatórias. Parece que, antes mesmo de sentar na cadeira do Palácio Iguaçu, o candidato já foi abduzido pelo espírito tradicional da política local”, conclui.

Desta forma, já é bom ir se preparando: a campanha eleitoral, a exemplo de 2014, promete trazer fortes emoções para o mercado financeiro – começando pelo Paraná. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.