Um jogo da Copa pode afetar o Ibovespa? O inesquecível “7 a 1” é a prova que sim

Ano de Copa coincide com eleições presidenciais - e a goleada alemã contra o Brasil levou a um efeito eufórico em julho de 2014 de olho no pleito daquele ano

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A histórica goleada da Alemanha sobre o Brasil na última Copa do Mundo por um placar de 7 a 1 foi marcante até para quem não liga muito para futebol. Mas o impacto não ficou restrito às quatro linhas do campo. Por sinal, o seu efeito foi sentido com força no mercado de ações – principalmente pelo fato do mercado ter ficado, naquela época, extremamente sensível quanto ao cenário eleitoral (algo que pode se repetir em 2018). 

Vale lembrar que, coincidentemente, todo ano de Copa também é um ano de eleição no Brasil. Se até aquele momento o evento futebolístico, que acontece em meados do ano, trazia pouca relação com as eleições, tudo pareceu mudar depois daquele 8 de julho de 2014. 

Se o pregão na Bovespa terminou mais cedo no dia 8 por conta do jogo e o dia seguinte não contou com negociações por causa do feriado paulista de 9 de julho, os ADRs (American Depositary Receipts) brasileiros negociados na Bolsa de Nova York “comemoraram” e muito a goleada, enquanto boa parte da população nacional ainda estava perplexa com o resultado do dérbi. O índice Brazil Titans 20 Dow Jones, negociado na Bolsa de Nova York, que têm como principal referência as maiores e mais líquidas ações brasileiras que possuem ADRs, fechou em alta de 1,24%, com destaque para os papéis da Petrobras (PETR3PETR4), que saltaram mais de 3%. No dia seguinte, o Ibovespa acompanhou o movimento e fechou em alta de 1,79%, com a alta se estendendo por mais três sessões. 

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Desta forma, aqueles dias foram parte de um período mais extenso marcado por forte volatilidade em meio ao até então pleito mais disputado da era democrática –  e que teve contornos dramáticos para o mercado.

Afinal, sempre quando uma pesquisa mostrava a presidente Dilma Rousseff em baixa na disputa eleitoral para a reeleição, o Ibovespa disparava. Isso porque o mercado “sofreu” bastante na segunda metade do primeiro mandato da petista, com as intervenções realizadas no mercado, com corte da taxa de juros de empréstimo de bancos públicos, regulação das taxas de retorno das concessões e congelamento de preços da gasolina para conter a inflação, o que prejudicou os números da Petrobras, bancos, entre outras companhias listadas ou não na Bolsa de valores. Em meio às perspectivas de troca de poder para um presidente mais pró-mercado, o Ibovespa se animava. 

Assim, o mercado estava à flor da pele naquele ano: qualquer rumor de pesquisa eleitoral ou de notícia que poderia prejudicar a campanha da presidente à reeleição já levava a um grande efeito para a Bolsa brasileira. E, para o mercado, a derrota da Copa do mundo era um fator desestabilizador para a presidente. 

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A reação do mercado foi de que, após a derrota, o mercado voltasse a acordar sobre os problemas econômicos e a passageira euforia gerada durante a Copa do Mundo com o governo de Dilma Rousseff minguasse. “A melhora da aprovação do governo Dilma nas últimas pesquisas, impulsionada pela performance da seleção em campo deve ser revertida”, destacou uma das casas de análise na época. Vale destacar que, enquanto tudo corria bem em campo brasileiro – afinal, a seleção foi eliminada apenas nas semifinais -, Dilma havia mostrado um aumento nas intenções de voto, de 34% para 38%, conforme pesquisa Datafolha. 

Dilma saiu, mas não por causa da Copa…

Porém, apesar da derrota humilhante para o Brasil e com tanta volatilidade do mercado em meio à disputa acirrada entre Dilma e o então candidato Aécio Neves (PSDB-MG), ela acabou reeleita com aproximadamente 52% dos votos no dia 26 de outubro, pouco menos de quatro meses depois do trágico desfecho na Copa do Mundo para o Brasil. Vale ressaltar que os últimos meses antes da eleição foram de forte tensão e com outros fatores que embaralharam a disputa, como a morte do candidato Eduardo Campos em um acidente aéreo no dia 13 de agosto daquele ano, sendo substituído por Marina Silva (que chegou a liderar a disputa em setembro, mas não chegou ao segundo turno), enquanto as denúncias de corrupção da Lava Jato seguiram guiando os mercados naquele período. 

Assim, atropelada por novos acontecimentos, a Bolsa acabou “esquecendo” a Copa do Mundo, mas o pregão pós-jogo ficará marcado como aquele em que até o futebol – erroneamente – foi considerado para traçar previsões sobre as eleições. O que se viu, posteriormente, é que o efeito foi nulo ou, no mínimo, desprezível.

Voltando um pouco atrás, é possível observar que o “efeito-Copa” é extremamente baixo para definição do cenário político: na última Copa vencida pelo Brasil, em 2002, foi um ano justamente de troca de estilos de governo. O tucano Fernando Henrique Cardoso deu lugar para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, dando início a um período de mais de treze anos em que o PT ocupou a presidência. Em 2006, Brasil perdeu para a França na Copa da Alemanha nas quartas-de-final e Lula conseguiu se reeleger; em 2010, o Brasil perdeu para a Holanda nas quartas-de-final e Lula conseguiu fazer a sua sucessora, Dilma Rousseff. 

Se a Copa não foi suficiente para enfraquecer Dilma, outros fatores de risco seguiram no radar e culminaram com o afastamento da presidente e posterior impeachment da petista: crise econômica, Operação Lava Jato, falta de traquejo político foram fatores que enfraqueceram a agora ex-presidente e já estavam no cenário em 2014.

Como já sabemos, Dilma sofreu impeachment e Michel Temer assumiu a presidência, o que levou a bolsa brasileira a uma forte alta em meio às sinalizações pró-mercado e as primeiras medidas que foram implementadas pelo novo presidente, que possuía uma forte base no Congresso e conseguiu aprovar o teto de gastos e a reforma trabalhista. Além disso, nomes mais pró-mercado foram nomeados para gerir as estatais, como foi o caso de Pedro Parente na Petrobras e Wilson Ferreira Júnior na Eletrobras, fazendo com que as ações das companhias subissem forte.

Porém, no último ano, com o governo tendo que barrar duas denúncias no Congresso após o “Joesley Day”, a economia se recuperando a passos ainda lentos e a impopularidade de Temer nas alturas, as incertezas políticas seguem dando o tom, ganhando novos contornos com a proximidade novamente das eleições presidenciais. Elas, aliás, também apontam para um cenário de forte fragmentação e incerteza, com candidatos que não são os preferidos do mercado liderando a disputa eleitoral. 

O mercado pode estar até “calejado” e aprendido a lição de que nem sempre um resultado muito favorável ou desfavorável nos jogos terá impacto na política, percepção esta que será reforçada ainda pelo fato de que a Copa deste ano está sendo sediada na longínqua Rússia, e não no Brasil como em 2014. O Brasil pode ser considerado o País do Futebol, mas está longe de olhar só para o tema fora das quatro linhas do campo. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.