Não estava no preço? Veja por que o julgamento do Lula fez o dólar disparar e a bolsa cair 1,2%

Como o mercado aposta em uma condenação por 3 a 0 do ex-presidente, posições mais defensivas estão oferecendo um risco-retorno interessante caso venha um resultado inesperado no julgamento

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Interrompendo a sequência de seis sessões consecutivas renovando máxima histórica, cravada em 81.675 pontos, o Ibovespa registrou seu pior pregão do ano nesta terça-feira (23), enquanto o dólar sua melhor performance, com os investidores em busca de “proteção” no mercado para enfrentar o julgamento de Lula na próxima sessão. Como o mercado aposta em uma condenação por 3 a 0 do ex-presidente, posições mais defensivas estão oferecendo um risco-retorno interessante caso venha um resultado inesperado no julgamento.

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O benchmark da bolsa brasileira fechou em baixa de 1,22%, aos 80.678 pontos, próximo da mínima do dia em 80.524 pontos. O volume financeiro ficou em R$ 11,7 bilhões. Por sua vez, o dólar comercial fechou com alta de 0,85%, cotado a R$ 3,238 na venda. O dia “tranquilo” nos mercados internacionais, com Wall Street operando em leve alta e o petróleo subindo 1%, corrobora para a tese de que os investidores domésticos estão em busca de proteção.

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Em entrevista ao programa Papo com Gestor, transmitida nesta terça no InfoMoneyTV, o gestor e fundador da Kapitalo Investimentos, Carlos Woelz, explicou que muitos ativos “seguros”, que se valorizam em momentos de estresse do mercado, ficaram bem baratos de uns tempos pra cá, tornando-se uma posição interessante caso o cenário positivo projetado pelos investidores não se concretize. “É uma posição bem interessante para incerteza eleitoral, pois não perde muito se tiver um cenário excelente mas pode ganhar bastante se tivermos uma surpresa negativa no desenrolar da eleição ou mesmo no cenário externo”, explica o gestor, que tem posições em cupom cambial e em Risco-Brasil.

A ação que mais colaborou para a derrocada do índice foi a Vale (VALE3), que detém cerca de 10% de participação na carteira do Ibovespa e afundou 4% no pregão, refletindo preocupações sobre a demanda de minério de ferro na China – os contratos do minério negociados no país asiático caíram 4% por conta do corte de produção das siderúrgicas, que estão reduzindo sua produção por conta da temporada de inverno. Com isso, foi registrado novo aumento nos estoques dos portos do país, que bateram recorde de mais de 150 milhões de toneladas acumuladas.

Julgamento do Lula

Na quarta-feira (24), às 8h30 (horário de Brasília), o TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) dará início ao julgamento do recurso de Lula contra a decisão que o condenou, em primeira instância, à prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em quatro anos de Lava Jato, os 3 desembargadores só absolveram 5 de 77 condenados pelo juiz federal Sergio Moro.

Dependendo do placar da decisão dos desembargadores, o trâmite para a condenação definitiva do ex-presidente, o que impediria a sua participação nas eleições presidenciais, pode ser mais rápido ou mais lento. O mercado projeta a condenação por 3×0 do petista pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP), mas ninguém arrisca cravar um placar, principalmente pelas dúvidas quanto ao voto do revisor do processo, Leandro Paulsen. 

Nas duas vezes em que o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi absolvido pelo TRF-4, Paulsen divergiu de João Gebran (relator do recurso contra Lula) e um placar de 2 x 1 abriria espaço para o embargo infringente, o que seria insuficiente para evitar que o ex-presidente oficializasse candidatura junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O passo a passo do julgamento de Lula no TRF-4 e o que acontece depois do tão esperado dia 24; confira aqui

Na véspera do julgamento, a defesa do petista reafirmou a inocência de seu cliente e pediu aos magistrados que reconheçam a prescrição dos supostos crimes que ele foi condenado. Os advogados de Lula sustentam que, além de inocente, ele não pode ser punido por delitos que teriam ocorrido em 2009, como também consta no documento apresentado pela defesa reivindicação pelo direito de recorrer em liberdade caso seja condenado.

Destaques do mercado

Na ponta negativa, destaque para as ações da Vale (VALE3), que recuaram em vista da queda do minério de ferro, enquanto fora do índice o destaque ficou para os papéis da Hering (HGTX3), fechando com queda de 7,2% após dados decepcionantes no quarto trimestre. Do outro lado, as ações da Fibria (FIBR3) subiram 1,5%, acompanhando a valorização do dólar nas véspera do julgamento do Lula.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Ibovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 USIM5 USIMINAS PNA 10,72 -4,71 +17,80 181,56M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 11,55 -4,55 -6,10 54,11M
 ELET6 ELETROBRAS PNB 20,65 -4,31 -9,03 22,64M
 VALE3 VALE ON 40,87 -4,17 +1,52 1,01B
 CSNA3 SID NACIONALON 10,33 -3,91 +23,27 88,94M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Ibovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CSAN3 COSAN ON 42,65 +1,74 +2,77 34,90M
 FIBR3 FIBRIA ON 55,12 +1,51 +15,19 136,97M
 CPLE6 COPEL PNB 22,85 +0,66 -8,42 11,55M
 BBDC3 BRADESCO ON 35,90 +0,56 +12,04 84,76M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 30,69 +0,46 +7,72 98,66M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o Ibovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON 40,87 -4,17 1,01B 524,53M 32.018 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 48,06 -0,35 939,44M 411,86M 28.371 
 BBDC4 BRADESCO PN 37,75 +0,35 817,24M 239,06M 27.491 
 PETR4 PETROBRAS PN ATZ 18,29 -0,97 725,66M 594,86M 38.017 
 BBAS3 BRASIL ON 35,20 +0,37 622,32M 227,41M 32.402 
 GGBR4 GERDAU PN 13,71 -1,93 305,32M 203,64M 20.908 
 BVMF3 B3 ON 24,51 -0,97 264,94M 158,23M 22.420 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 21,90 0,00 256,76M 185,57M 18.215 
 CIEL3 CIELO ON 27,25 -0,47 231,23M 102,98M 28.683 
 KROT3 KROTON ON 16,40 -3,02 195,87M 158,30M 20.477 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Posse polêmica e Previdência
A decisão da presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia de suspender a posse da deputado Cristiane Brasil no ministério do Trabalho segue gerando polêmica. Segundo a coluna Painel, da Folha, a decisão irritou o Palácio do Planalto e desencadeou reações extremadas, com muitos aliados de Michel Temer vendo até mesmo risco de crise institucional. Segundo relatos ouvidos pela coluna, o governo está disposto a subir o tom e apontam que a sentença foi política, havendo elementos para afirmar que o Supremo está interferindo no Executivo, ao cassar competências do presidente.

Enquanto isso, as notícias sobre a reforma da Previdência seguem no radar, com o jornal O Estado de S. Paulo apontando que o governo pode adiá-la para novembro. Ontem, em reunião com investidores em Londres, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já avisou que a proposta pode voltar a ser pautada logo após a eleição, caso não seja aprovada no mês que vem. O discurso é que, em novembro, há a perspectiva de que uma janela se abra em função do fim do mandato de deputados e senadores que não temerão mais um julgamento popular. Caso confirmado, esse seria o quinto adiamento da votação da reforma desde que a proposta foi encaminhada ao Congresso no final de 2016.

Já pelas contas de aliados de Rodrigo Maia, o governo não tem os votos favoráveis, mas erra ao começar a admitir que a votação poderá ficar para novembro. Não vislumbrando a Previdência, o presidente da Câmara defende a votação de outros pontos de interesse do governo e do mercado diante da falta de otimismo em votar a reforma em fevereiro, diz o jornal O Globo. Entre as prioridades de Maia estariam o projeto de privatização da Eletrobras, a reoneração da folha de pagamentos de alguns setores e as medidas provisóvias que tratam do adiamento do reajuste dos servidores e do aumento da contribuição previdenciária do funcionalismo, segundo o jornal.