Volatilidade, e daí? Com cenário binário, Bradesco BBI vê Ibovespa em 2018 a 90 mil pontos

Estrategistas do banco têm como aposta que o ajuste fiscal deve continuar após as eleições, após um período eleitoral de volatilidade

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechará o ano que vem nos 50 mil ou nos 100 mil pontos? Para os estrategistas André Carvalho e Marina Valle, do Bradesco BBI, a expectativa é de que 2018 tenha um desfecho muito mais positivo do que negativo, a despeito do movimento de forte volatilidade que está por vir nos seis meses antes das eleições. 

Eles apontam que, mais uma vez, o cenário é binário – e a sinalização sobre se haverá continuidade para o ajuste fiscal após as eleições será determinante para definir. Com um cenário de continuidade de ajuste fiscal, o Ibovespa iria para os 100 mil pontos enquanto que, em um ambiente negativo para o ajuste, o índice iria para os 50 mil pontos.

Com os estrategistas apontando uma chance de 80% do cenário a 100 mil pontos, a projeção é de que o benchmark da bolsa brasileira feche o ano que vem a 90 mil pontos, o que representa um potencial de valorização de 23% em relação ao fechamento de segunda-feira (18).  No cenário com ajuste, o dólar iria para R$ 2,90 e o CDS (Credit Default Swap), o chamado seguro-calote, de dez anos cairia para 150 pontos. Já em um cenário sem ajuste, o dólar iria para R$ 4,50 e o CDS iria para 500 pontos. 

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Os estrategistas também ressaltam que os múltiplos também parecem atraentes: isso porque o índice está, atualmente, classificando o crescimento dos ganhos até meados de 2019 – mas eles esperam que o ciclo de crescimento atual dure cinco anos.

O PIB e a recuperação dos lucros ainda são o principal tema de investimento, com o consenso de mercado revisando os números para cima, sendo seguidos pela expectativa de um “achatamento” da curva de juros. Isso apesar do vencimento dos contratos de mais longo prazo apresentarem um representativo aumento do prêmio frente aos vencimentos mais recentes.

Os estrategistas apontam que a curva de juros tem se inclinado consideravelmente desde maio, principalmente por conta do estresse político e, ao considerar a diferença entre os contratos com vencimento de 2027 com os de 2019, a diferença subiu de 110 pontos-base em maio (mês em que foi divulgada a gravação de Joesley Batista com o presidente Michel Temer, eclodindo a maior crise política do atual governo) para 320 pontos-base atualmente. Contudo, os estrategistas acreditam que o cenário de continuidade do ajuste fiscal mitigará tais questões políticas e também as fiscais, levando a um achatamento da curva de juros nos próximos doze meses. Entre os principais setores beneficiados por esse cenário, estão o de shopping centers, concessionárias, utilities e boas pagadoras de dividendos. 

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A virada das estatais está em terceiro lugar, um tema mais difícil, uma vez que ainda é preciso ter mais clareza sobre o que pensam os presidenciáveis a respeito das companhias estatais e também sobre as questões fiscais. De qualquer forma, os estrategistas veem oportunidades de investimento com ações de companhias controladas pelo governo negociando com desconto em relação às privadas. 

Riscos estão por vir

Por outro lado, os riscos vêm das eleições e do ajuste fiscal. O Bradesco BBI aponta que nas últimas cinco eleições presidenciais (1998, 2002, 2006, 2010 e 2014), a volatilidade do Ibovespa aumentou materialmente nos seis meses anteriores às eleições. “Se o passado for um bom padrão para o futuro, devemos esperar um aumento substancial da volatilidade do mercado de ações brasileiro no futuro”. Os estrategistas ainda questionam:  “o ex-presidente Lula vai concorrer? Haverá um outsider na corrida presidente? O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai disputar a corrida?” Eles não respondem diretamente a essas perguntas mas, pelo que sinalizam com as projeções do Ibovespa, esperam que um nome pró-mercado seja eleito no ano que vem. 

Os estrategistas destacam ainda que o ajuste fiscal não acabou, apesar do cenário-base dos investidores é de que não haverá um ajuste fiscal adicional até o fim de 2018. Para eles, há três riscos positivos: 1) o acordo de transferência de direitos com a Petrobras, que poderia somar R$ 60 bilhões em receitas; (2) os depósitos voluntários de bancos no Banco Central, que podem reduzir materialmente o estoque de dívida bruta e (3) o PLS 314/2017, que pode fazer com que o Banco Central devolva o equivalente a R$ 150 bilhões, ou 2,3% do PIB, em títulos do Tesouro, reduzindo o estoque da dívida. 

Carteira de estratégia do banco

Com todos esse cenário no radar, o Bradesco BBI substituiu a Ser Educacional (SEER3) pela MRV (MRVE3) no portfólio. “Em nossa opinião, a MRV é um player de crescimento atraente, pois provavelmente ganhará participação de mercado através do programa MCMV (Minha Casa Minha Vida) e também uma boa maneira de posicionar para um cenário de baixa taxa de juros. Alguns drivers específicos da empresa seriam maiores lançamentos e volumes de vendas.  Em contraste, o impulso de ganhos de curto prazo da Ser deve ser moderado e a revalorização esperada pode levar mais tempo para se materializar”, afirmam os estrategistas. 

Além da MRV, o portfólio do banco contém as ações do Banco do Brasil (BBAS3), Itaú Unibanco (ITUB4), B3 (BVMF3), CVC (CVCB3), Iguatemi (IGTA3), Duratex (DTEX3), Usiminas (USIM5), Iochpe-Maxion (MYPK3) e ações PN da Petrobras (PETR4), totalizando dez ações no portfólio. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.