“Nossa ideia é seguir comprando e ganhando cada vez mais escala”, afirma CEO da CVC

Luiz Eduardo Falco explica também a opção da empresa em seguir investindo em lojas físicas, enquanto o varejo tradicional aposta cada vez mais no e-commerce

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Além dos resultados operacionais e financeiros mostrando novo crescimento no 3º trimestre (veja mais aqui), a CVC (CVCB3) vem chamando atenção do mercado pela agressividade que está indo às compras mesmo em um momento em que a economia brasileira pouco colaborou – ainda mais tratando-se de uma empresa ligada ao setor de turismo. Nos últimos dois anos, foram 5 empresas adquiridas pela CVC. A mais recente foi a Visual Turismo, que era uma de suas concorrentes no pulverizado mercado de viagens de lazer e teve a compra selada no começo de novembro. Chegou a hora de dar um tempo nas compras? Para o presidente do Grupo CVC, Luiz Eduardo Falco, esse só é o começo.

“Nossa ideia é seguir comprando ativos e ganhando cada vez mais escala”, afirmou Falco em entrevista exclusiva ao InfoMoney. O presidente também falou da estratégia da empresa em seguir investindo na abertura de lojas, enquanto o varejo tradicional aposta cada vez mais no e-commerce, como de suas perspectivas para a temporada de verão.

Se para muitos o setor de turismo tinha que ser um dos maiores prejudicados pelo cenário de recessão da economia brasileira, a CVC está aí para provar o contrário: no 3º trimestre de 2017, a empresa reportou um Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 166,5 milhões, crescimento de 13% frente ao mesmo período do ano passado, enquanto o lucro líquido subiu 21%, para R$ 77,3 milhões. No mercado de ações, esse ótimo momento fica mais evidente: os papéis da empresa atualmente valem R$ 45 na bolsa, 340% a mais do que valia em fevereiro de 2016. Só neste ano, a alta supera a casa dos 90%, enquanto o Ibovespa (principal índice de ações da bolsa) subiu 24%.

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Apesar da forte valorização, os analistas seguem otimistas com a CVC. Nesta semana, o BTG Pactual atualizou suas premissas para os próximos resultados da empresa, reiterando a recomendação de compra dada aos ativos CVCB3 e elevando o preço-alvo de R$ 38 para R$ 58. “Graças ao seu business model híbrido e asset-light, a empresa conseguiu navegar a turbulência econômica com sucesso, consolidando sua liderança na maioria dos segmentos”, escrevem os analistas do banco em relatório enviado aos clientes.

Confira os principais trechos da entrevista com Luiz Eduardo Falco, presidente do Grupo CVC:

InfoMoney: Nos últimos doze meses, a CVC abriu 107 lojas e chegou a marca de 1.156 estabelecimentos, o que de certa forma contraria a tendência do varejo, que nos últimos tempos investe cada vez mais no e-commerce e aos poucos vão deixando de lado as lojas físicas. Por que a CVC segue investindo na abertura de lojas?
Luiz Eduardo Falco: Investir na abertura de lojas faz mais sentido para nós uma vez que somos um varejo de serviço e não de produto. Na compra de um celular pela internet, por exemplo, o cliente faz uma pequena pesquisa antes e em poucos dias o produto está na sua casa. Quando decide viajar, o processo de tomada de decisão é muito mais complexo e o consumidor precisa cuidar da hospedagem, modo de pagamento, roteiro de viagem, etc. Neste momento, o cliente busca por soluções para facilitar sua vida e aí que entra nossa expertise.

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IM: Quais são as vantagens deste modelo de negócio?

LEF: Ao ir em uma de nossas lojas, será oferecida uma consultoria para que ele programe sua viagem sem dor de cabeça e ter mais estabelecimentos significa atender melhor essa demanda. No final das contas, o cliente busca a loja da CVC pela comodidade em organizar sua viagem, pois, se fosse oferecido um produto sem valor agregado, realmente ele buscará uma alternativa mais barata. Além do poder de conversão da loja física, a venda consultiva possui um ticket médio maior e oferece maior margem para a empresa.

IM: No dia 8 de novembro, a CVC anunciou a compra da Visual Turismo, dando mais um passo a caminho da concentração do mercado. Como a Visual irá agregar no portfólio da companhia? A companhia pretende seguir em busca de novas aquisições?
LEF: Apesar de grande, a CVC possui um market share de aproximadamente 15% e há muito mercado para explorar, pois através das aquisições que ganhamos escala, fator muito importante para a estrutura de negócio. Por exemplo: em Nova York, a CVC “não é ninguém”, pois consome no máximo 60 quartos. Com a aquisição do Grupo Trend em maio deste ano, que possui outros 60 quartos, a CVC tem força para negociar um pacote com condições mais atrativas para a empresa e, portanto, oferecer melhores condições para capturar os clientes. Portanto, maior escala significa maior presença e melhores preços. Deste modo, faz todo sentido seguir comprando.

IM: Mas isso não implica em maior endividamento?

LEF: Por conta da forte geração de caixa, a CVC possui a capacidade de desalavancar com facilidade e isso oferece maior tranquilidade para seguir com o processo de aquisições. No segundo trimestre deste ano, a relação Dívida Líquida/Ebitda (índice de endividamento) estava 1,55x por conta das aquisições que foram feitas, ao passo que no último trimestre já caiu para 1,06x em vista da geração de caixa de R$ 263 milhões no período, mais do que o quádruplo do mesmo período do ano passado. A nossa ideia é seguir comprando e ganhando cada vez mais escala, mas, caso não encontrarmos um projeto que ofereça uma boa rentabilidade, pagaremos mais dividendos para nossos acionistas – atualmente, a empresa paga o valor mínimo de 25% do lucro líquido.

IM: Como nos últimos trimestres, as reservas confirmadas cresceram e neste ano acumulam alta de 14% em relação aos nove meses do ano passado. Segundo a empresa, o crescimento foi ocasionado principalmente pelo forte crescimento do segmento internacional, que tem prazo maior de recebimento. Como essa característica afeta o resultado da companhia?

LEF: Além de contribuir no crescimento das reservas confirmadas, o aumento do segmento internacional automaticamente reduz a necessidade de capital de giro da empresa, já que recebo mais cedo e pago mais tarde, fato que impacta diretamente em maior geração de caixa, assim como visto no terceiro trimestre deste ano. Além disso, o aumento do segmento internacional impacta na linha de despesas financeiras, pois, sempre que reduzo minha necessidade de capital de giro, há uma queda do custo financeiro.

IM: Qual sua expectativa para o fluxo de viagens doméstica no quatro trimestre, que, sazonalmente, é o melhor período para a companhia?

LEF: Nós estamos esperando uma boa temporada, apesar do pessoal estar ainda um pouco “preguiçoso” na compra. Estamos notando que as pessoas ainda estão em dúvida sobre os destinos das viagens e neste momento que vamos entrar com mais campanhas de marketing. Não parece que está faltando um mês para dezembro e deveremos ver uma corrida de última hora.