Estatais perdem ainda mais espaço entre as recomendações de julho, enquanto Itaú reina absoluto na liderança

Analistas optaram por ações consideradas defensivas em vista do aumento do risco político

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – As indefinições quanto ao rumo do governo de Michel Temer e das reformas adicionaram muita incerteza às previsões e isso refletiu diretamente nas carteiras recomendadas de ações para julho. De modo geral, os analistas dos bancos e corretoras optaram por reduzir o “beta” das carteiras, ou seja, procuraram por ações com perfil mais defensivo e por isso costumam cair menos do que o índice em momentos de pânico – embora em tempos de euforia elas subam menos que o benchmark também.

Levantamento feito pelo InfoMoney com 15 carteiras recomendadas para julho mostrou que, em média, cada portfólio trouxe duas novidades para o mês. A XP Investimentos, por exemplo, justificou que sua carteira está “calcada em fixar o beta em níveis mais baixos e manter papéis defensivos (…) reduzindo a exposição aos papéis ligados ao Governo”. Em linha com isso, a equipe de análise da XP tirou as ações do Banco do Brasil (BBAS3) e colocaram a “dolarizada” Weg (WEGE3) em seu lugar.

Quem também adotou uma postura mais “anti-estatal” foi a Ativa Investimentos, que retirou Banco do Brasil da carteira e reduziu a participação de Petrobras (PETR4), realocando o peso das estatais nas ações do Itaú Unibanco (ITUB4) e da BR Malls (BRML3). “Aumentamos o peso da porção defensiva da carteira e reduzimos a parte com beta mais alto, visto uma perspectiva de continuidade na deterioração dos fundamentos políticos e fiscais”, escreveu a equipe em relatório.

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Em seu relatório, os analistas do BTG Pactual alertam justamente sobre o aumento do risco político. O banco de investimento prevê a manutenção das incertezas por um longo período e acreditam que Michel Temer provavelmente permanecerá no poder, fato que atrasaria o andamento da agenda de reformas, em especial da Previdência, uma vez que a base de apoio do presidente não é forte o suficiente para aprovar uma questão tão complexa. Essa dificuldade de previsão faz com que os analistas permaneçam cautelosos com o mercado de ações brasileiro e fazem um alerta: “à medida que as discussões se voltem para as eleições presidenciais de 2018, com um resultado altamente imprevisível, a volatilidade tende a permanecer alta na bolsa brasileira”.

Itaú Unibanco segue reinando e empate no segundo lugar

Segundo o levantamento do InfoMoney, Itaú Unibanco segue como a “queridinha” dos analistas, com 11 recomendações – duas recomendações a mais que no mês passado. O maior banco privado do Brasil ganhou ainda mais a preferência no setor, já que o Banco do Brasil não está em nenhuma das carteiras em julho (ante duas recomendações no mês passado) e o Bradesco (BBDC4) manteve-se em apenas uma carteira. “Acreditamos que o Itaú Unibanco seja o banco melhor posicionado no mercado brasileiro e, apesar de suas ações estarem sendo negociadas a múltiplos altos em relação a seu histórico, ainda vemos possibilidade de valorização”, destacam os analistas da Spinelli, que incluíram o papel no portfólio de julho.

Neste mês, tivemos um empate na segunda colocação. Com 7 indicações, Petrobras e Cosan (CSAN3) dividem o posto. Em junho, a Petrobras tinha 8 recomendações, enquanto a sucroalcooleira estava em apenas 4 portfólios. Um dos bancos a incluir a estatal na carteira de julho, o BTG Pactual explica que, “à medida que as discussões sobre transferência de direitos [da cessão onerosa] avançam, esperamos que a estatal e o governo cheguem a um acordo sobre o tamanho do ajuste, o que achamos que será favorável para a Petrobras”. Um detalhe: o BTG incluiu PETR4 justamente no lugar da queridinha Itaú, contrapondo a tendência dos demais analistas.

Já Cosan ganhou a preferência na expectativa por uma recuperação no preço do açúcar no segundo semestre, vide que a commodity acumula desvalorização de 26% até a última quarta-feira (5). Uma queda nas vendas de açúcar na Índia – maior consumidor global – deixou o país com estoques suficientes para seguir até a próxima safra e derrubou os preços ao longo de 2017. “Embora observamos as recentes quedas do preço do açúcar, o valor da commodity deve se recuperar ao longo de 2017, uma vez que esse preço não condiz com os fundamentos. Além disso, no front político, o governo federal pode elevar o imposto para a gasolina com o objetivo de reduzir o déficit fiscal do país. A decisão deve beneficiar as produtoras de etanol do país”, destacou a Guide Investimentos.

Cosan foi incluída pela Spinelli, Brasil Plural e também está na Carteira InfoMoney deste mês, substituindo justamente Petrobras, a fim de reduzir o risco político dentro do portfólio. Vale lembrar que o evento de apresentação da Carteira InfoMoney acontecerá dia 7 de julho (sexta-feira) AO VIVO às 14h00 (horário de Brasília) na InfoMoneyTV.

Outras Mudanças
1- As defensivas
No mais, a tese de “defender-se é preciso” foi vista nas outras recomendações: a defensiva Raia Drogasil (RADL3) segue em 5 carteiras recomendadas, enquanto as “dolarizadas” Embraer (EMBR3), Klabin (KLBN11) e Weg são vistas em 5, 4 e 3 portfólios, respectivamente. As elétricas Equatorial (EQTL3) e Taesa (TAEE11) e a Telefônica Brasil (VIVT4), também 3 votos cada, completam o time de empresas mais resilientes, o que para o mercado significa “menos exposta a turbulências políticas”.

2- As que ganham com a queda de juros
A perspectiva de manutenção do ritmo de cortes da taxa de juros pelo Copom também entrou nas contas dos analistas: o comportamento mais benigno da inflação e o “pedido de socorro” da nossa economia contribuem para que a Selic permaneça em queda livre mesmo com o cenário político conturbado. Dessa forma, empresas que ganham muito com isso voltaram a aparecer nas carteiras. Os principais destaques são Lojas Americanas (LAME4) e CCR (CCRO3), que ganharam duas novas recomendações em julho, aparecendo em 5 e 4 carteiras, nesta ordem.

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3- Uma mudança setorial
Pra fechar as dinâmicas, uma mudança setorial: a Ser Educacional (SEER3) ganhou duas recomendações e agora está presente em 3 portfólios. A empresa com forte atuação no Nordeste tem sido vista como a “grande vencedora” do fracasso da fusão envolvendo Kroton (KROT3) e Estácio (ESTC3) – as duas gigantes do setor, aliás, não foram citadas em nenhuma carteira recomendada. “Entramos com a ação em nossa carteira, principalmente em função do momento de possibilidade de consolidação vivido pelo setor de educação, depois do Cade impedir a fusão entre Estácio e Kroton. Acreditamos que a partir dessa notícia, as atenções do mercado se voltam para a Ser Educacional, que já havia mostrado interesse pela aquisição da Estácio”, destacou a Planner, uma das corretoras que incluíram SEER3 na carteira do mês.

O futuro do setor educacional após o veto do Cade – veja mais clicando aqui

Confira as 18 ações com pelo menos 3 recomendações em julho: 

Empresa Quantidade de recomendações
Itaú Unibanco (ITUB4) 11
Petrobras (PETR4) 7
Cosan (CSAN3) 7
RD (ex-Raia Drogasil) (RADL3) 5
Lojas Americanas (LAME4) 5
Embraer (EMBR3) 5
Klabin (KLBN11) 4
Gerdau (GGBR4) 4
Equatorial (EQTL3) 4
B3 (ex-BM&F Bovespa) (BVMF3) 4
Vale (VALE5) 3
Telefônica  Brasil (VIVT4) 3
Weg (WEGE3) 3
CCR (CCRO3) 3
Rumo (RAIL3) 3
Taesa (TAEE11) 3
Multiplan (MULT3) 3
Ser Educacional (SEER3) 3

Fonte: Levantamento do InfoMoney com 15 carteiras de bancos de investimento e corretoras