Amazon vai vender mais que livros no Brasil em breve – e isto é péssimo para as varejistas brasileiras

Expansão tão aguardada por consumidores está próxima de acontecer, segundo o BTG, e isso promete mudar completamente o mercado nacional

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em 2012, quando a Amazon aterrizou no Brasil, muitas empresas de e-commerce devem ter se assustado, não só porque este é um mercado muito mais desenvolvido no exterior, mas porque a companhia de Jeff Bezos é considerada uma das melhores no que faz. E agora o “problema” para as brasileiras está prestes a aumentar consideravelmente.

Isso porque, em relatório enviado à clientes na noite de segunda-feira (19), o BTG Pactual disse ter conversado com seis dos maiores vendedores de marketplace do País e eles indicaram que a Amazon já está se preparando para aumentar sua oferta de produtos no Brasil no curto prazo (entre julho e outubro). E segundo os analistas, isto pode mudar bastante o cenário para as empresas do setor, com o risco de muitas delas não sobreviverem.

Os analistas do banco Fabio Monteiro e Luiz Guanais afirmam que a presença da Amazon “certamente deve se tornar a principal fonte de discussões internas para os players no curto prazo, fazendo com que eles repensem suas estratégias e acelerem seus planos de transformação”.

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Os analistas afirmam ainda que uma presença maior da Amazon deverá aumentar a concorrência e até mesmo reduzir temporariamente a abordagem racional de preços, taxa e frete vistos nos últimos trimestres. E isto deve afetar principalmente a B2W, que visa aumentar a rentabilidade de suas operações, migrando para um modelo de negócios de mercado mais centrado.

E a reação a este cenário mais difícil teve início nesta terça-feira no mercado. As ações da B2W (BTOW3) tiveram perdas de 3,03%, cotadas a R$ 12,18, enquanto a Lojas Americanas (LAME4) caiu 2,02%, para R$ 13,60. A Magazine Luiza (MGLU3), por sua vez, teve uma queda mais forte, de 4,33%, a R$ 245,87 – mínima do dia.

A equipe do BTG aponta que vai haver alguns vencedores neste cenário, que serão aqueles que combinarem um DNA de internet, com bons níveis de serviços, uma grande variedade de produtos e um bom tráfego orgânico nos sites. A questão é que grande parte das empresas brasileiras ainda sofrem em muitos desses pontos (quem nunca sofreu com fretes abusivos ou atrasos nas entregas?), e isso aumenta a dificuldade de lutar contra a Amazon.

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Diante de um mercado de e-commerce ainda em desenvolvimento, a Amazon ganhou força rapidamente quando entrou no Brasil. Em 2012 vendia apenas livros digitais, para dois anos depois passar a vender livros físicos. Em abril deste ano, a companhia entrou no mercado de marketplace, ainda focado apenas em livros, e agora já se prepara para expandir seu negócio para outras áreas.

Segundo o BTG, a Amazon já tem cerca de 1.000 vendedores de livros em sua plataforma brasileira, e já vendeu mais de 300.000 livros, o que representa, segundo o banco, 10% do mercado editorial brasileiro. Ainda recente no Brasil, o marketplace é gigantesco para a Amazon no exterior. Este tipo de negócio consiste em a companhia fazer parcerias com outras lojas para que estes comerciantes usem a sua plataforma para vender produtos pagando uma taxa.

E o futuro parece realmente estar no marketplace. No primeiro trimestre, a Magazine Luiza surpreendeu o mercado com um resultado ainda mais forte do que já era esperado (veja mais clicando aqui) e isso se deu por um salto de 56% no faturamento online da companhia. Segundo analistas, focar no marketplace foi fundamental para o crescimento, com empresa aumentando de 30 mil para 220 mil a oferta de itens.

Um mercado em crescimento
Apenas no ano passado, o e-commerce movimentou R$ 59 bilhões no País, e deve chegar a R$ 135 bilhões em cinco anos, segundo as estimativas do BTG. Apesar deste segmento estar crescendo de forma rápida, ainda está longe de ser considerado grande por aqui. As quatro maiores companhias de comércio online no Brasil são donas de 55% do mercado, mas de apenas 2% das vendas totais do varejo.

Para se ter ideia do tamanho da Amazon, a companhia de Jeff Bezos tem hoje cerca de 20% do tráfego da Americanas.com e cerca de metade do tráfego de outros grandes sites como Submarino e Walmart. E mais: 62% do tráfego da Amazon é orgânico, ou seja, não depende de gastos com marketing, valor parecido com de outras gigantes brasileiras.

O mercado brasileiro é bastante complicado, com desafios de logística, custos de tráfego e um sistema fiscal complexo. Porém, a Amazon não é uma amadora no negócio, e a cada passo que ela dá em sua expansão no Brasil, promete afetar toda a cadeia do e-commerce e obrigar as empresas brasileiras a correrem para não perderem espaço no ainda pequeno mercado nacional.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.