“Estamos ainda mais fortes e nossos escritórios poderão dobrar de tamanho em 12 meses”, diz CEO da XP

Em entrevista ao InfoMoney, Guilherme Benchimol reforçou que manterá a mesma estratégia que colocou a empresa no topo das corretoras do Brasil;  "Itaú e todos os demais bancos comerciais do sistema financeiro são e serão nossos concorrentes"

Thiago Salomão

Publicidade

SÃO PAULO – “O Itaú e todos os demais bancos comerciais do sistema financeiro são e serão nossos concorrentes”. A frase dita por Guilherme Benchimol, CEO da XP Investimentos, deixa claro que manterá a estratégia que fez aquele escritório de agentes autônomos criado em 2001 tornar-se a maior corretora de valores independente do Brasil, com cerca de 400 mil clientes e R$ 80 bilhões em ativos sob custódia. Em entrevista ao InfoMoney, Benchimol disse que seguirá oferecendo os serviços que diferenciaram sua empresa do restante do setor financeiro – tais como produtos mais baratos que os bancos e taxa zero para manutenção de conta e custódia – e reforçou a parceria com os escritórios associados, parceiros que foram fundamentais na escalada da XP e que, segundo o CEO, só terão a ganhar com essa associação com o Itaú.

“Estamos trabalhando no mesmo projeto há 16 anos e eles [escritórios de investimentos] sabem que não somos aventureiros. Miramos o longo prazo e trabalharemos para fortalecê-los cada vez mais. (…) Agora estamos mais fortes do que antes e os escritórios, provavelmente, dobrarão de tamanho nos próximos 12 meses”, estima Benchimol. 

Confira abaixo a entrevista completa:

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

InfoMoney – Semana passada tivemos o primeiro “circuit breaker” no Ibovespa desde 2008 por conta do vazamento das delações da JBS. Mesmo sendo uma notícia de cunho “político”, ações de companhias sólidas e com resultados resilientes, como Itaú, Ambev e Ultrapar perderam até 10% de valor de mercado em um único dia. Um episódio como esse acontecendo uma semana depois do fechamento do “deal” com o Itaú fala por si sobre o motivo que fez a XP em continuar como empresa de capital fechado ao invés de seguir com o IPO? 
Guilherme Benchimol – Abrir capital requer uma dispêndio muito grande de energia e perda de foco do alto management da empresa, não apenas no IPO mas também após a abertura de capital. Além disso, tínhamos alguns receios em nos tornarmos sócios do mercado. Não sabíamos os impactos que isso poderia trazer para nós, principalmente nos momentos de crises onde as desvalorizações dos ativos são mais acentuadas. O IPO seria um movimento na direção de endereçar um aumento de capital e a melhoria da transparência com nossos clientes e parceiros. No entanto, a união com o Itaú trouxe para perto de nós o maior banco privado do País, como sócio minoritário, nos deixando com a mesma liberdade que nos trouxe até aqui, endereçando o aumento de capital e nos dando uma chancela de qualidade ainda maior do que a que teríamos com a abertura de capital.

Quando comparávamos as opções, a operação com o Itaú se mostrava mais consistente. Não estamos no projeto para sermos heróis, buscamos os caminhos mais seguros para atingirmos o longo prazo e a perpetuidade do nosso projeto. Fizemos a melhor escolha possível, pensando nos nossos clientes, parceiros e funcionários.

IM – A XP sempre atraiu clientes com a ofertas de produtos melhores e mais baratos que os dos grandes bancos. A associação com o Itaú coloca essa política em xeque?
GB – Muita gente tem a percepção de que ter o Itaú no nosso quadro de acionistas mudará a nossa imparcialidade, visão de plataforma aberta ou até mesmo a política de preços. Não tem a menor chance! Somos controladores e estamos exclusivamente alinhados aos interesses da XP. Vamos cada vez mais fortalecer o modelo que nos trouxe até aqui, ou seja, seremos cada vez mais imparciais, com plataforma aberta, taxa zero e focados nos interesses dos nossos clientes.

Continua depois da publicidade

 IM – Existe alguma possibilidade de a XP acabar com a taxa zero para manutenção de conta e custódia de títulos de renda fixa e ações? E a taxa zero para TED?
GB – Nenhuma chance. Não faz sentido mexermos em uma fórmula que vem dando certo. Depois que inventaram a internet o mundo ficou mais democrático. Não tem como você ser bem sucedido sem ser verdadeiro. Os clientes não gostam de taxas e isso visivelmente detratava nosso relacionamento com eles. Quando isentamos nossas taxas, apostamos na relação de longo prazo com nossos clientes e fomos muito recompensados. Nossos níveis de qualidade são os mais altos da indústria financeira. Fazemos pesquisas com nossa base de clientes em diversos momentos do relacionamento.  A XP é uma empresa querida pelos clientes. Vamos continuar buscando isso cada vez mais.

IM – O valor das corretagens pode subir no curto prazo e ficar mais parecido com os dos bancos?
GB – Não. Seguimos sendo uma instituição financeira independente. Não existirá qualquer tipo de integração comercial ou operacional com o Itaú.

 IM – Houve redução no volume de contas abertas após o anúncio da associação com o Itaú? E há clientes resgatando suas aplicações além do normal?
GB – Pelo contrário. Provavelmente atingiremos recorde de captação e abertura de contas em maio. Estamos projetando quase 30 mil contas novas e provavelmente mais de R$ 4,5 bilhões de entradas líquidas. Queremos oferecer o melhor dos mundos para nossos clientes. Eles continuam tendo a XP de sempre, mas com a chancela de qualidade do Itaú, o que é uma vantagem para aquele investidor que tinha alguma dúvida sobre fazer seus investimentos de longo prazo conosco por sermos uma casa independente. Acredito que agora nossa credibilidade aumentará frente a esse público e o processo se tornará mais natural.

 IM – Os escritórios de investimentos afiliados à XP perdem algo com a associação com o Itaú?
GB – Apenas ganham. Afinal, com a chancela do Itaú ficará mais fácil abrir as próximas contas e, principalmente, convencer os atuais clientes a terem 100% dos seus investimentos na XP. Nossos parceiros nos ajudaram a chegar até aqui, jamais faríamos algo que pudesse prejudicá-los. Estamos trabalhando no mesmo projeto há 16 anos e eles sabem que não somos aventureiros. Miramos o longo prazo e trabalharemos para fortalecê-los cada vez mais. O assessor de investimentos é uma profissão recente no Brasil, são apenas 3 mil pessoas exercendo a atividade, enquanto existem 300 mil pessoas exercendo papel semelhante nos Estados Unidos. Sempre dissemos que é a profissão do futuro e hoje temos ainda mais certeza disso.

IM – Há rumores que muitos escritórios de investimentos ficaram assustados com a associação entre a XP e o Itaú e estão sondando outras corretoras com o objetivo de migrar os clientes para plataformas diferentes da XP. Isso é verdade?
GB – A concorrência tentou usar o momento da associação para criar uma instabilidade com os nossos parceiros. Não acho viável que alguém saia da XP para se aventurar em um projeto que ainda não está consolidado ou que não tenha nem de perto as condições estruturais que oferecemos. No entanto, construímos nesses 16 anos algo intangível e de muito valor, e isso é o mais importante. Os parceiros sabem que podem confiar em nós e isso não se constrói da noite para o dia. Agora estamos mais fortes do que antes e os escritórios provavelmente dobrarão de tamanho nos próximos 12 meses.

IM – A XP liderou o discurso de desbancarização dos investimentos do brasileiro nos últimos anos. Agora que foi fechada a associação com o Itaú, esse discurso terá de ser alterado?
GB – Não. Ele será intensificado. O Itaú e todos os demais bancos comerciais do sistema financeiro são e serão nossos concorrentes. A nossa crença de que as pessoas investirão melhor fora do banco segue inabalada e continuará sendo reforçada, hoje e sempre. Os bancos não são focados em investimentos, cobram taxas elevadas e a maioria deles vendem apenas os seus próprios produtos, isso não é oferecer o melhor para o cliente. Queremos ser o oposto deste perfil: seremos especializados em investimentos, prestaremos assessoria financeira, não cobraremos taxas e teremos plataforma aberta.

 IM – Em entrevistas recentes, você dobrou a meta. Se antes o plano da XP era se tornar líder em investimentos em 10 anos, agora a ideia é alcançar isso em 5 anos. Por que tanto otimismo?
GB – Porque agora temos por trás do nosso projeto o maior banco privado do País dando a chancela de qualidade que nos faltava. Isso faz muita diferença na hora de transmitir credibilidade para os nossos investidores, pois simplifica muito o processo de apresentação da empresa, do assessor de investimentos e dos produtos que ofertamos. 

IM – A concorrência no segmento de investimentos está aumentando com a entrada de bancos médios no mercado de plataformas digitais. Como a XP vai se diferenciar e continuar a liderar com folga esse mercado de investimentos?
GB – Nosso maior diferencial em relação a concorrência é a nossa cultura. Somos incansáveis no aprimoramento de processos e nunca estamos satisfeitos com os padrões de qualidade que atingimos. Estamos preparados para uma corrida de longo prazo e vamos nos dedicar, com todas nossas forças, para continuar liderando o processo de transformação do mercado de investimentos do Brasil.

IM – Existe algum plano ou projeto para este ano que deve ser abandonado após a associação com o Itaú? As metas para 2017 estão mantidas?
GB – Nenhum. Todos os projetos seguem no mesmo cronograma anterior. É importante deixar claro que o Itaú não tem direito a interferir nesse tipo de assunto, ele é apenas um acionista minoritário.

IM – Até que ponto a XP tem o controle sobre a operação? O controle do Itaú sobre o comitê de auditoria pode tornar a empresa menos ágil?
GB –Temos controle integral da operação. Esse tipo de indicação é praxe nesses acordos. O Itaú, como acionista minoritário, quer garantir a austeridade patrimonial da companhia da qual é sócio investidor. É justamente isso que nos traz a chancela de qualidade que tanto buscamos. O auditor interno não tem poderes de engessar a companhia. A sua missão será de nos apontar as possíveis fragilidades de processos, para que possamos montar planos a fim de corrigi-los.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers