Ibovespa despenca após vitória de Trump; peso mexicano mergulha em frustração com BC

Índice segue apreensão global com resultado surpreendente nas eleições norte-americanas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A vitória do candidato do partido republicano, Donald Trump, nas eleições presidenciais norte-americanas gerou tensão também no mercado brasileiro, com o Ibovespa acompanhando o tom de forte aversão a riscos dos investidores globais. Às 11h52 (horário de Brasília), o benchmark da Bolsa brasileira acumulava perdas de 2,61%, a 62.481 pontos. No mesmo horário, os contratos de dólar futuro com vencimento em dezembro subiam 2,07%, apontando cotação de R$ 3,254. Alta também é vista nos DIs curtos e longos, com os contratos com vencimento em janeiro de 2018 e janeiro de 2021 com respectivos ganhos de 0,07 ponto percentual e 0,23 p.p., a 12,17% e 11,43% nessa ordem.

O empresário bilionário de 70 anos teve vitórias surpreendentes sobre a candidata democrata, Hillary Clinton, em estados-chave, o que abalou os mercados globais que contavam com uma vitória da democrata. Com as urnas ainda em apuração, o êxito do magnata foi decretado às 5h30, quando foram superados os 270 votos necessários. Nas bolsas locais, o S&P futuro chegou a superar os 5% de queda, o que fez com que as negociações fossem temporariamente suspensas. Depois do maior susto, o índice amenizou as perdas e recuou menos que 2%. Na Europa, o londrino FTSE chegou a mergulhar mais de 4% no mercado futuro, mas agora opera estável após a abertura do pregão regular.

O índice acionário de emergentes do MSCI chegou a recuar 3,25%, atingindo o nível mais baixo em pouco mais de três meses. O peso mexicano, ativo prejudicado pelo discurso de Trump crítico aos imigrantes e ao livre-comércio, chegou a cair 12% e agora apresenta recuo na casa de 8,5%. O temor é que a chegada de Trump ao poder dê fim ao acordo de livre-comércio com o país. Os EUA são o maior mercado para as exportações mexicanas. O movimento de forte apreciação do dólar ante o peso mexicano também provoca uma preocupação com efeito inflacionário subsequente, o que poderia levar o Banco Central local a elevar juros novamente. A autoridade monetária do país já elevou sua taxa três vezes neste ano, fixando-a em 4,75%. Apesar disso, o presidente do BC mexicano e o ministro das Finanças não anunciaram novas medidas para proteger o peso depois do resultado eleitoral norte-americano. Em entrevista à imprensa, José Antonio Meade reconheceu o aumento da incerteza e volatilidade, mas disse que não há impacto imediato nas regras comerciais entre os dois países.

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O contrato futuro do VIX, considerado o “índice do medo”, chegou a disparar 42,35%, a 22,70, mas diminuiu os ganhos e agora sobe 11,74%, a 17,85. O VIX negocia a volatilidade das 500 ações mais negociadas na Bolsa de Nova York e tende a disparar em momentos de turbulência nos mercados financeiros. No mesmo sentido, o ouro – ativo normalmente procurado como “porto seguro” em momentos de maior aversão a risco – subia mais de 3%, a US$ 1.300 a onça, refletindo as incertezas dos investidores sobre o que esperar de uma gestão Trump.

Na avaliação do economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o resultado das urnas nos Estados Unidos certamente trazem efeitos negativos para os mercados globais, mas não pode ser comparado ao “Brexit” — plebiscito realizado em junho em que os britânicos decidiram pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE). “Ao contrário do Brexit, quando se sabia que as alternativas eram permanecer ou sair da UE, agora será necessário esperar uma segunda rodada de informações sobre o que de fato Trump pretende fazer à frente da Casa Branca”, comentou.

Para Leal, os mercados reagirão com mais força à medida que o novo presidente norte-americano começar a definir quais serão suas diretrizes de governo, especialmente no campo econômico, o que deve acontecer antes de sua posse, em janeiro.

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“No primeiro discurso após ser eleito, ele já adotou tom mais moderado que o da campanha, na linha de que vai governar para todos. Resta saber se as decisões serão neste rumo ou se ele de fato vai cumprir o que prometeu ao longo da disputa pela presidência”, disse Leal, citando como exemplo as propostas protecionistas de aumentar as alíquotas de importação de produtos do México e da China.

Na avaliação do especialista, as quedas “menos intensas do que se imaginava” podem significar que investidores “ainda estão anestesiados” ou que aceitaram o fato de que terão que lidar com as consequências das eleições norte-americanas pelos próximos quatro anos. “Hoje é o dia de se repensar várias coisas em termos de investimento, mas o que vai ser daqui pra frente, acho ninguém faz a mínima ideia”, afirmou.

Destaques da Bolsa
Dentro da carteira teórica do Ibovespa, apenas as ações das exportadoras Fibria (FIBR3, R$ 24,67, +0,78%) e Suzano (SUZB5, R$ 10,54, +1,25%) operam em alta, no embalo da alta do dólar. No campo negativo, as ações de Petrobras (PETR3, R$ 17,06, -5,64%; PETR4, R$ 15,86, -6,92%) e bancos são destaque de queda.

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As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 RUMO3 RUMO LOG ON 6,34 -6,21 +1,60 9,70M
 PETR4 PETROBRAS PN 16,07 -5,69 +139,85 290,39M
 KROT3 KROTON ON 15,01 -5,18 +59,31 6,14M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 19,34 -5,01 +20,39 3,85M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 17,13 -4,89 +26,82 2,13M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 FIBR3 FIBRIA ON 24,56 +0,33 -51,83 12,82M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 10,44 +0,29 -42,93 8,19M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Agenda doméstica
Do lado nacional, a inflação oficial do Brasil voltou a acelerar em outubro sob o peso dos preços de Transportes, mas ainda assim registrou o menor nível para o mês em 16 anos, indo abaixo de 8% em 12 meses, pintando um cenário positivo para a continuidade do afrouxamento monetário pelo Banco Central.

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Em outubro o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou alta de 0,26%, depois de ter atingido no mês anterior o menor nível em pouco mais de dois anos, de 0,08%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o patamar mais baixo para outubro desde 2000 (0,14%), e também o segundo menor nível do ano, atrás apenas de setembro. Em 12 meses, a inflação acumulada até outubro desacelerou para 7,87%, contra 8,48% no mês anterior.

O dado permanece bem acima do teto da meta –de 4,5% pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais– porém se aproxima cada vez mais da expectativa dos economistas em pesquisa Focus do BC de alta do IPCA de 6,88% para este ano. Também representa a primeira vez que o índice acumulado fica abaixo da marca de 8% desde fevereiro de 2015 (7,7%), e é o menor nível desde então. Os resultados ficaram praticamente em linha com as expectativas de analistas consultados em pesquisa da Reuters, de alta de 0,28% no mês e de 7,9% em 12 meses.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.