É hora de sair das blue chips: o próximo rali virá das ações “abandonadas pelo mercado”, diz gestor

Segundo André Vainer, que tem R$ 128 milhões sob gestão, o rali das blue chips ficou para trás e o investidor deve aproveitar esse momento para comprar os "exageros" criados na Bolsa com as ações de menor liquidez

Paula Barra

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SÃO PAULO – O rali de quase 20 mil pontos do Ibovespa entre fevereiro e maio já ficou para trás, mas não é motivo para se desanimar: um próximo movimento de alta da Bolsa está próximo, e será puxado pelas ações que foram “abandonadas pelo mercado” nos últimos meses. A opinião é de André Vainer, fundador da Athena Capital, gestora que administra atualmente R$ 128 milhões. Para ele, a maior parte do movimento já deveria ter passado; agora é a hora de começar a fazer contas e migrar para as empresas que ficaram exageradamente baratas. 

E a seleta lista das ações que puxarão esse movimento de alta tem 3 empresas: M.Dias Branco (MDIA3), Porto Seguro (PSSA3) e Minerva (BEEF3). Veja no final da matéria a explicação de cada um destes cases. 

A escolha é justificada pela brusca mudança de cenário para algumas premissas econômicas. O dólar é uma delas: a taxa de câmbio começou o ano perto de R$ 4,00 e com apostas de que subiria mais, no entanto atualmente a moeda está cotada perto de R$ 3,40; já a Selic que deveria se manter em 14,25% ao longo do ano, vê cada vez mais economistas acreditando em cortes de até 125 pontos-base ainda este ano. Esses eventos, que decorreram da melhora de perspectiva dos investidores para a economia brasileira e internacional, provocaram uma forte disparada da Bolsa. 

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“O dinheiro rápido sempre vai para as ações mais líquidas, como vimos em abril, com Petrobras (PETR3; PETR4), Vale (VALE3; VALE5), bancos e siderúrgicas liderando as altas. Não foi um desempenho por conta de nenhum evento específico dessas empresas; foi simplesmente o fluxo indo em direção aos ativos de maior liquidez”, disse o gestor com 16 anos de atuação no mercado. 

As 3 ações que o gestor da Athena está de olho: 

– M.Dias Branco
A queda de 26% da ação da M.Dias Branco no ano passado foi exagerada, tanto é que o papel mais do que recuperou prejuízo em 2016 – a ação subiu mais de 70% desde a mínima de fevereiro e recentemente voltou aos R$ 96 pela 1ª vez desde novembro de 2014. Apesar disso, a empresa segue “muito barata”, na visão do gestor. “Quando olhamos as projeções do mercado, ainda vemos as pessoas trabalhando com números muito abaixo do que a empresa deveria valer”, disse Vainer. Vale mencionar que a máxima histórica do papel MDIA3 é R$ 105 (valor já ajustado pelo pagamento de proventos), alcançada em 2013. 

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Segundo Vainer, o mercado penalizou demais a empresa ano passado, vendo a piora nos seus resultados da companhia com algo estrutural – e não como pontual, como ele acredita. Para o gestor, o resultado de 2015 foi penalizado por uma estratégia da companhia de não repassar os altos preços do trigo, levando essa pressão diretamente para sua margem. A disparada do dólar e a alta do preço do trigo afetaram em cheio seu custo: a M. Dias Branco historicamente trabalha com margem Ebitda (Ebitda/Receita Líquida) de 17%-18%, mas passou a apresentar margem de 12% em 2015, explica o gestor. 

Desde então, alguns eventos têm começado a ajudar os números da empresa: a empresa começou a repassar preços – algo que também foi feito pelos seus competidores, minimizando o impacto na demanda. Além disso, o sentimento econômico do Brasil melhorou e a própria dinâmica do setor de alimentos que começou a melhorar – e a M.Dias Branco, como líder no segmento, tira proveito disso. 

– Porto Seguro
Outro ativo que teve uma queda exagerada no mercado foi Porto Seguro, avalia Vainer, que colocou a ação recentemente na carteira do fundo. Vainer faz menção ao temor em relação à queda da Selic, que penaliza normalmente empresas que têm forte situação de caixa, como as seguradoras – como é um setor que precisa ter caixa para atender os segurados, essas empresas tradicionalmente aplicam esse dinheiro em renda fixa de alta liquidez, beneficiando-se dos juros em alta. Ou seja, quando os juros caem, elas são as primeiras a serem lembradas ‘negativamente’, já que seu resultado financeiro também cairá. 

“A ação cai bem nos últimos meses, negociando a um nível de valuation como não víamos há muito tempo. Acreditamos que essa história que o mercado ‘criou’ não procede”, afirma o gestor. Isso porque quando um seguro é precificado leva-se em conta diversas variáveis, e uma delas é o CDI. Quando uma seguradora vai ter uma rentabilidade onde o caixa dela poderá ficar mais baixo porque o CDI vai cair, a empresa recompõe isso via colocação de preço no seguro – e isso já aconteceu ano passado com a Porto Seguro, explica. “É óbvio que com os juros mais baixo, o caixa de qualquer empresa rende menos. Na Porto Seguro , como o caixa é muito relevante, isso impacta o resultado financeiro. Mas isso, ao longo do tempo, é mais do que compensado pela melhora do resultado operacional”, comentou. 

Segundo ele, o mercado está se atentando demais a uma variável específica, que é a Selic, de olho em um possível piora do resultado financeiro da empresa, mas isso não procede. “Há outros pontos no resultado da empresa que mais do que compensam essa perda de rentabilidade. A empresa é líder no setor e a vemos em uma situação competitiva muito boa. E, como seus competidores estão em uma situação pior, isso pode facilitar a colocação de preços da Porto”, comentou.

Dos ativos que estão no fundo da Athena hoje, a ação da Porto Seguro é a que Vainer mais têm comprado recentemente. “Para qualquer métrica que olhamos, achamos que essa ação está excessivamente descontada e com algumas opcionalidades. Esse exagero está criando uma oportunidade muito boa de investimento. Seguimos elevando exposição”, disse.

– Minerva
Embora já fosse investidor da Minerva há muito tempo, Vainer comentou que a queda da ação de R$ 14,00 para R$ 9,00 (de novembro de 2015 para cá) ofereceu uma boa oportunidade para que o fundo aumentasse exposição nesse ativo. “Vemos que as perspectivas para o setor são boas, e estão até melhores do que há uns meses, mas a mudança drástica de projeção para o dólar fez investidores fugirem desse papel, que tem 70% de sua receita dolarizada”, explica.

Para ele, a ação caiu demais, com o mercado exagerando pela questão cambial. “Acredito que o impacto nela não seja tão grande como o mercado está enxergando e o papel está muito barato a esse preço”, disse. A gestora aproveitou essa queda para aumentar exposição na Minerva, que nas suas contas está no mesmo nível de valuation visto desde 2008. “É um ativo que se o dólar subir é melhor, mas mesmo com o câmbio em R$ 3,30 passa muito longe de inviabilizar o case de investimento”, conclui.